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    Vingadores: Ultimato vai superar a bilheteria de Avatar? (Análise)

    Será que o filme da Marvel destronará o blockbuster de James Cameron para tornar-se a produção mais lucrativa da história?

    Atenção para possíveis spoilers de Vingadores: Ultimato.

    Como acertadamente previsto pelo AdoroCinemaVingadores: Ultimato superou a marca de US$ 1 bilhão arrecadado em seu fim de semana de estreia, tornando-se, é claro, o recordista em termos de temporalidade: anteriormente, o melhor resultado da categoria era detido por Vingadores: Guerra Infinita, que alcançou o Clube do Bilhão em 11 dias. No entanto, já é hora de preparar-se para escalar outra montanha, uma ainda mais difícil.

    Dado o fôlego sem precedentes do mais novo épico do Universo Cinematográfico Marvel, que já colocou a conquista da cifra bilionária no retrovisor, surge, necessariamente, um novo desafio para os Maiores Heróis da Terra: superar Avatar, mais lucrativa produção da história com US$ 2,7 bilhões obtidos, entre 2009 e 2010. Será, portanto, possível para o produtor Kevin Feige derrotar James Cameron, diretor também responsável pelos mais de US$ 2,1 bilhões de Titanic? Vamos analisar.

    Para começo de conversa, e a despeito da obviedade, é fundamental ressaltar a distância temporal, e por isso mesmo cultural, que separa Avatar de Ultimato. Até porque foi precisamente nesta última década após a estreia das aventuras de Jake (Sam Worthington) e Neytiri (Zoe Saldana, musa da ficção científica e deusa das bilheterias) que a Marvel consolidou-se como a líder inconteste do império do entretenimento, estabelecendo tendência após tendência, principalmente no que diz respeito ao conceito de “universo compartilhado”, para o universo dos blockbusters.

    Atualmente, a formula está nas mãos da empresa criada por Stan Lee. Na época de Avatar, contudo, as coisas eram muito, muito diferentes — a própria Casa das Ideias, por exemplo, não passava de um estúdio cinematográfico incipiente que, depois de quase ir à falência e sem o direito de adaptação de seus mais populares personagens, propriedades de majors como Fox, Sony e Universal, arriscou-se ao máximo com uma ideia inusitada de trazer a serialização dos quadrinhos para as telonas a partir do nem tão popular Homem de Ferro, vivido pelo ainda menos popular Robert Downey Jr. (à época, claro).

    Em outras palavras, isto quer dizer que no fim da primeira década do século XXI, o terreno dos arrasa-quarteirões de bilheterias estava confuso e quase inabitado — logo, fértil para surpresas. Havia a proximidade do fim, é óbvio, das sagas Harry Potter e Crepúsculo, sucessos da animação como A Era do Gelo 3Up - Altas Aventuras e muitas tentativas de franquias e/ou produções autônomas, como Sherlock Holmes e Anjos e Demônios, e Se Beber, Não Case!, respectivamente.

    Mas com os dias da trilogia O Senhor dos Anéis no passado e a era dos super-heróis ainda no despertar, apenas um ano após os lançamentos de O Cavaleiro das Trevas e Homem de Ferro, não havia nenhuma produção de porte que pudesse abarcar todas as faixas etárias — cumprir, desse modo, o conceito dos Quatro Quadrantes: atrair homens, mulheres, indivíduos com mais de 25 anos e também os mais jovens. Contando, assim, com esta dose de sorte por ausência de concorrência e o apoio de uma tecnologia (justamente) alardeada como revolucionária, Avatar chegou.

    Lançado em dezembro de 2009, contra o ceticismo da crítica especializada e precisando fazer jus ao investimento de quase US$ 500 milhões entre orçamento e verbas publicitárias — como conta a quinta parte da série A História dos Blockbusters —, a aventura fantástica de Cameron, situado em um mundo original e exótico, levou somente 19 dias — uma eternidade para os Maiores Heróis da Terra hoje em dia — para atingir o bilhão.

    Impulsionado por uma longa jornada de exibição — no Brasil, o longa ficou em cartaz entre dezembro de 2009 e março de 2010, sendo posteriormente relançado em outubro do mesmo ano para engrossar a campanha do Oscar —, Avatar beneficiou-se, sobretudo, do fator novidade. Para além de ser um produto cultural “autêntico”, ou seja, não derivado e não sequencial, a ficção científica ainda tinha como atração principal sua concepção visual em três dimensões.

    O 3D, em Avatar, foi utilizado pela primeira vez em um produção deste âmbito como escolha artística, e não somente aspecto para elevar os lucros — por um aumento direto no preço de ingressos e por gerar um encantamento no público, entre outras vias. A indústria erguida ao redor da tecnologia aperfeiçoada durante por Cameron até a estreia de Avatar — que só foi confirmado no circuito exibidor após salas de cinema comprovarem estar equipadas para receber o espetáculo de Pandora — pode ter desaparecido depois de fadigar os espectadores, mas Avatar surfou com excelência a onda que provocou.

    Em outras palavras, longevidade aliada à experimentação foram as principais chaves para que a aventura superasse seu frágil argumento — basicamente Pocahontas sob efeito de anabolizantes — e cruzasse a barreira dos US$ 2 bilhões em um mês e meio. Por outro lado, enquanto é óbvio que não existe uma receita de bolo para estourar nas bilheterias — a própria Marvel “falha” ocasionalmente, ficando aquém de suas expectativas bíblicas —, também fica claro, a partir da exposição acima, que os trunfos de Avatar são quase que diametralmente opostos aos de Vingadores: Ultimato.

    Ao passo em que o primeiro manteve um ritmo de crescimento constante durante 45 dias e apresentou ineditismos apesar da fraqueza de seu roteiro, a mais recente história dos Maiores Heróis da Terra não só foi do 0 ao 100 em segundos como também é o 22º filme de uma franquia de 11 anos de idade, sendo muito mais convencional que seu predecessor, um raro blockbuster que terminou com a morte de alguns protagonistas. Sem novidades, com um desfecho esperado e uma aceleração bizarramente exponencial em um espaço curtíssimo de tempo, a pergunta que fica para Ultimato é: haverá fôlego no tanque?

    A questão é complexa, e muito também porque não estamos mais em 2009. O preço dos tíquetes, por exemplo, é muito maior do que há uma década: afinal, de lá para cá, a taxa de inflação do dólar, moeda que mede os rendimentos das bilheterias, alcançou 18,5%. Além disso, não estamos mais na época da originalidade, e muito por causa da própria Marvel — no Top 10 das arrecadações globais de cada um dos últimos cinco anos, de fato, apenas 12% do total é composto por projetos originais, ou seja, que não são continuações, spin-offs ou remakes.

    São eles: Bohemian Rhapsody, em 2018; Zootopia e Pets - A Vida Secreta dos Bichos, em 2016; Divertida Mente e Perdido em Marte, em 2015; e Interestelar, em 2014. Isso demonstra que, inequivocamente, as tendências de produção e de consumo alteraram-se, indicando igualmente que o interesse pela originalidade decai em ritmo proporcional à ascensão do conforto e da promessa de retorno a um universo conhecido... o que pode pesar a favor de Ultimato no fim das contas.

    A Marvel, como império cultural e midiático, especializou-se no negócio da dispensabilidade da novidade. Não importa o que a produtora lançar, parece certo e inevitável que os fãs correrão para os cinemas para testemunhar as mais novas aventuras dos super-heróis mais populares do momento, particularmente quando sabem que alguns deles, seus favoritos, estão prestes a encerrar suas jornadas, conforme os veteranos da franquia finalizaram seus contratos com a Casa das Ideias nos últimos meses.

    Vingadores: Ultimato, com seu caráter de ápice cultural, opera de certo modo como um elemento que aparentemente finaliza a história dos blockbusters: tudo foi construído para que este filme brilhasse neste momento e, do ponto de vista do presente, o que virá à frente é pouco importante — se é que, aos olhos dos fãs mais apaixonados, virá algo de semelhante relevância. Fazer parte deste fenômeno cultural é o tipo de evento único, seja na história universal, seja na história individual de cada fã.

    Adentrando agora sua segunda semana em cartaz, e já em exibição em todos os circuitos-chave para a Disney, da Rússia ao Brasil, da China à Coreia do Sul, o que Ultimato precisa fazer, mais do que tudo, é manter o ritmo e seguir conquistando territórios, mesmo que aos poucos, em todos os mercados. Na atualidade, o desempenho doméstico é tão importante — e, às vezes, até menos — quanto o rendimento internacional. E, felizmente para a Casa das Ideias, o impulso do Reino Médio já está garantido.

    Até agora, baseado nos números oficiais, os espectadores chineses compareceram com força total às salas de cinema, engordando a conta bancária da Marvel em US$ 548 milhões. A arrecadação de Vingadores 4 na China, aliás, é maior até mesmo do que a arrecadação nos Estados Unidos, o que demarca a importância do público asiático para o estúdio — coisa que a franquia-irmã do UCM, a saga Star Wars, não tem, dado que a China não tem um gosto pronunciado pelas aventuras dos Skywalker.

    Outra brecha que Ultimato pode aproveitar nesta segunda semana em cartaz é que não há nenhum estúdio corajoso (ou louco) o suficiente para tentar fazer frente ao ímpeto gigantesco de Vingadores 4, o que evidentemente fará com que a aventura reine com folga durante mais um fim de semana. No decorrer de maio, por outro lado, algumas estreias como Detetive PikachuAladdin podem roubar parte dos espectadores da Marvel, dificultando, mesmo que por pouco, a caminhada de Ultimato.

    Portanto, se o 22º filme do UCM desejar ultrapassar a marca de US$ 2 bilhões e ainda ter força o bastante para tentar derrotar Avatar, será preciso redobrar os esforços para atrair novos espectadores e trazer aqueles que já viram de volta às telonas neste início de maio. Porque, sem sombra de dúvidas, será mais do que necessário que os fãs que já assistiram ao longa continuem regressando e comprando mais bilhetes para continuar a engrossar a bilheteria, atualmente na marca de US$ 1,822 bilhão.

    Nessa altura do campeonato, parecem existir apenas dois cenários possíveis e/ou prováveis: ou Ultimato continua sua ascensão sem precedentes sem sofrer riscos ou contratempos e explode todos os recordes de bilheterias, destruindo até mesmo a barreira dos US$ 3 bilhões; ou chega, no máximo, aos pés de Avatar por não ter sido capaz de sustentar a bizarra curva de crescimento que o trouxe até aqui. Mas será que a Disney realmente deseja que um de seus produtos supere o outro desse modo?

    De acordo com uma análise da revista Forbes, seria mais interessante para a casa de Mickey Mouse que cada uma de suas franquias bilionárias mantivesse seu próprio recorde, com os Vingadores ficando com as marcas internacionais, Star Wars com as marcas domésticas e Avatar — saga herdada pela Disney após a aquisição zilionária da Fox —  com a marca total. Com uma vitória acachapante dos Maiores Heróis da Terra, a teoria seria que a casa de Mickey Mouse encontraria problemas para promover Avatar 2.

    Seguindo esta perspectiva, a conclusão deveria ser oposta, na verdade. Partindo de uma lógica capitalista onde todo lucro é mais do que bem-vindo, por que não gerar uma competição interna — especialmente quando um indivíduo tão megalomaníaco quanto Cameron está inserido na equação — para determinar se Avatar 2 pode passar uma virtual vitória de Ultimato? Não que isso acontecerá, Avatar 2 provavelmente não fará sequer metade da bilheteria de Avatar, mas mesmo assim seria muito mais interessante para Disney, é claro, ter uma espécie de monopólio eterno do topo das bilheterias globais.

    Tudo depende, no fim das contas, deste fim de semana e da próxima semana como um todo. As previsões indicam que Ultimato ultrapassará a barreira dos US$ 600 milhões domésticos em apenas 10 dias, quebrando mais um recorde no processo; ultrapassar a mesma barreira na China também será um feito atingido com um pé nas costas tamanha facilidade. Mas será que todos os outros mercados acompanharão os rendimentos estadunidense e chinês? E mesmo se não acontecer, isso será possível?

    Supondo, enfim, que Ultimato manterá seu ritmo de crescimento, principalmente levando em conta as previsões deste fim de semana, o AdoroCinema aposta que Avatar será finalmente derrotado, ainda que não por uma larga margem. Mas se a terceira semana trouxer menos de US$ 100 milhões tanto nos Estados Unidos quanto na China, o sonho estará ameaçado. E você, o que acha? Ultimato vai ser o maior de todos os tempos ou Avatar é imbatível?

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