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    Bagdá - Cenas de uma Juventude: Diretora Caru Alves de Souza conta como trouxe skatistas reais para o filme (Visita ao set)

    O longa começou a ser rodado na capital paulista em março deste ano.

    A cidade de São Paulo pode ser facilmente reconhecida por sua diversidade de pessoas, de locais, entre outros. Entre todo esse “mundo” presente na grande capital, há um esporte que está ganhando a cena: o skate. Tendo em vista o universo que permeia aqueles que andam em cima de quatro rodinhas, a diretora Caru Alves de Souza tomou a decisão de rodar um filme que gira em torno justamente de uma skatista.

    Bagdá - Cenas de Uma Juventude começou a ser rodados em locações nas regiões da Zona Norte e Centro de São Paulo em março deste ano e traz a história de uma skatista de 17 anos chamada Bagdá, vivida por Grace Orsato, que passa boa parte do tempo com os amigos skatistas na pista local.

    Em visita ao set, o AdoroCinema conversou com a protagonista que é skatista na vida real faz sua estreia nos cinemas. Grace contou como foi o processo para fazer parte do elenco: “Eu estava andando de skate na Praça Roosevelt e a Paula [Pretta], que é produtora de elenco do filme, apareceu um dia lá de salto alto no meio da pista e conversou comigo e duas amigas minhas que também andam de skate e começou a falar: ‘Vamos lá porque a gente quer mostrar o que é o skate de verdade, mostrar essas meninas que estão na rua mesmo’. Na verdade foi bem bizarro e a gente não acreditou. Mas, depois de um tempo, conversei com ela por mensagem, fui para o casting e passei, em seguida fui fazendo a preparação que foi bem longa”.

    Mas Grace não é a única não-atriz estreante no longa. Há diversos personagens vividos por pessoas que nunca estiveram em um set antes, incluindo a cantora Karina Buhr, que revelou que já tinha o sonho de trabalhar no cinema. “A experiência que eu tenho com atuação é do Teatro Oficina, que é totalmente diferente dos outros teatros e também não tem nada a ver com cinema, não é? O grande desafio foi fazendo porque aprendi fazendo”, contou a artista sobre a sua experiência.

    A diretora explicou a escolha dos atores revelando que foi para trazer naturalidade para este universo abordado no filme. “A escolha de trabalhar com não-atores foi para trazer essa vivência do skate para o filme e, mais do que isso, para ter uma troca mesmo. Eu queria que o universo do skate tivesse presente no filme, então, muito disso foi para que não fosse uma coisa de cima para baixo, mas uma coisa horizontal. Assim que o elenco ficou definido, a partir dos ensaios, a gente reescreveu todo o roteiro, do começo ao fim. Eu mantive a essência das cenas, mas diálogo e outras coisas foram reescritas porque eles traziam essa vivência do skate que eu não tinha e eu trouxe isso para o filme através deles”, disse ela.

    A própria Grace comentou que muitas características da Bagdá surgiram por sua causa. “Algumas coisas minhas a Caru [Alves de Souza] acrescentou à Bagdá. Por exemplo, antes ela era uma menina super masculinizada porque às vezes a gente tem que ser assim para se inserir no ‘rolê’ de skate e eu, acho que por ser mais velha e ter passado um pouco dessas fases, costumo sair de saia, top e shorts, não ligo muito. Com isso, a Caru trouxe essas particularidades para a Bagdá, de ser mais fluida, de não se definir em uma coisa só”, afirmou.

    Aqui vale ressaltar que essa veracidade não está apenas nos diálogos ou nos personagens, vividos por não-atores. O cenário visitado pelo AdoroCinema passava uma sensação extremamente realista, montado em uma casa na Freguesia do Ó, em São Paulo. O mais curioso é que mesmo que todos os objetos ali presentes parecessem de uma família de verdade, a casa toda foi modificada, segundo a diretora de arte Marinês Mencio. “Um dos conceitos na direção de arte do filme foi trabalhar com as cores presentes nas manifestações feministas. Uma forma de convidar o espectador a participar com todas essas mulheres em este manifesto”, contou ela.

    Caru Alves revelou que o cenário conversa diretamente com a proposta do filme, já que a ideia é trabalhar com uma tensão entre o naturalismo e o não-naturalismo. “A gente tem essa preocupação de trabalhar na atuação, no cenário, na câmera mais naturalista, se aproximando de uma linguagem mais ‘documental’, mas também tem cenas que quebram com esse naturalismo. O filme nasceu do cotidiano, do pequenininho, então toda a produção procura essa linguagem mais prosaica mesmo”, contou a cineasta.

    A chuva e os trovões eram praticamente um elemento das cenas filmadas naquele dia com Karina Buhr e Grace Orsato. Por isso, a diretora acabou pedindo algumas mudanças - inclusive por conta da chuva, já que estava programada para acontecer na área externa da casa.

    Para Caru, o filme traz mulheres inseridas e à frente de lugares que são comumente mais ligados aos homens. Por isso, para escrever o longa, inspirado na obra de Toni Brandão, Bagdá - O Skatista, a diretora já tinha algumas ideias na cabeça e alguns fatos acabaram mudando.

    “Gosto sempre de trabalhar com mulheres, com personagens femininas e tal. Entre o meu primeiro filme e agora, eu comecei a participar muito ativamente dessa discussão da representação da mulher no cinema e atrás das câmeras também. Por isso, eu fiquei com vontade de fazer um filme que fosse sobre mulheres e com mulheres. Então, nesse processo, que foi longo, a personagem virou uma mulher, exatamente porque eu queria trabalhar com mulheres que tivessem inseridas em lugares masculinos”, disse ela.

    “Eu acho que o filme vai incentivar muita menina a andar de skate e é isso que a gente quer, a gente quer ver as mulheres na rua, ocupando os espaços mesmo. O filme mostra muito isso, mostra o processo que eu e todas as minhas amigas que andam de skate passaram por isso, que é no começo você só andar com homem. Depois você vai conhecendo várias garotas e abre porque as meninas têm outra ideia de vida e de parceria mesmo, você cria uma parceria com outra mulher, isso é diferente e é maravilhoso. Eu acho que vai mudar muito, não só no skate, mas em várias questões por ser um filme forte para esse momento que a gente está agora no Brasil”, finalizou Grace ao falar sobre a mensagem que o longa trará para os espectadores.

    O elenco ainda traz nomes como Suzy Rêgo, Helena Luz, Marília Fernandes, Paula Sabatini e Gilda Nomacce. Com o elenco e equipe composto em sua maioria por mulheres, Bagdá – Cenas de uma Juventude ainda não tem previsão de estreia.

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