Um dos filmes mais aguardados no ano por muitos cinéfilos, Vingadores - Ultimato estreou nos cinemas esta quinta-feira, 25 de abril.
Mesmo com mais de 900 sessões esgotadas devido às pré-vendas, os fãs ainda terão muitas opções para assistir à nova produção da Marvel: de acordo com os dados do Filme B, o filme de super-heróis está disponível em 2.950 salas, o que corresponde a 88% das 3.352 salas contabilizadas no país pela Agência Nacional do Audiovisual, a ANCINE.
Nas redes sociais, começam a circular imagens de multiplexes onde cinco ou seis salas estão ocupados pelo mesmo filme. Setores do mercado acendem o sinal de alerta para este tipo de lançamento que impede a variedade nos cinemas: em diversas praças, simplesmente não existe outra opção para quem não quiser assistir aos Vingadores.
Muitos distribuidores de produções pequenas alteraram a data de lançamento de seus filmes, por não encontrarem salas disponíveis, e mesmo grandes títulos nacionais sofrem com a concorrência: a comédia De Pernas pro Ar 3, que tem apresentado ótimos resultados e dado lucros aos exibidores, foi obrigada a reduzir seu circuito em mais de 300 salas, o que certamente exercerá um impacto significativo em suas bilheterias - e nos números da indústria nacional como um todo.
No momento em que o cinema brasileiro sofre com cortes em investimentos e restrições às leis de fomento, limitar o potencial de suas produções mais populares abre um perigoso precedente, despertando o debate sobre a necessidade de proteção do circuito contra os "lançamentos predatórios".
Alguns dos maiores mercados mundiais, incluindo a China, a França e a Índia possuem leis rígidas para proteger os filmes nacionais contra a dominação de Hollywood - do mesmo modo que as indústrias automobilística e de tecnologia, por exemplo, protegem a produção local contra a presença excessiva de produtos estrangeiros.
Historicamente, o cinema brasileiro trabalha com a noção de "cota de tela", que impõe um mínimo de dias nos quais o exibidor é obrigado a programar algum filme nacional. Este número, bastante diminuto na última década, ainda sofre pressão por parte do circuito exibidor, que prega sua redução, enquanto os produtores lutam pelo aumento da cota.
Além disso, havia desde 2015 a "cota de tela suplementar", que impedia uma produção de ocupar mais de 30% das salas do mesmo complexo. O descumprimento da lei implicaria na obrigação de exibir mais filmes nacionais no ano seguinte. Na prática, por falta de fiscalização, esta porcentagem nunca foi respeitada, de modo que Vingadores: Guerra Infinita já ocupava 2.938 salas, por exemplo, enquanto Os Incríveis 2 ocupou 2.837 salas, de acordo com levantamento da Folha de São Paulo.
Em novembro de 2018, no entanto, o desembargador Johonsom di Salvo, da 6ª Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, suspendeu o limite de ocupação de salas por um mesmo filme, descrevendo a produção nacional como "bastante irregular". A ANCINE e os principais distribuidores do país protestaram contra a decisão, que ainda vigora.
Em tese, Vingadores - Ultimato pode ocupar quantas salas conseguir em seu acordo com o parque exibidor. Nada impede que, em produções futuras, a porcentagem de salas dominadas por um blockbuster seja ainda maior - e que outras formas de cinema, seja ele brasileiro, europeu e mesmo outros títulos americanos, não consigam encontrar seu público.
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