Minha conta
    Kati Critica: Vingadores e os fãs que ganham tudo de mão beijada

    Se você acha que Capitão América x Homem de Ferro foi Guerra Civil, você não viu as tretas RBD x High School Musical no Orkut.

    Katiúscia Vianna é uma redatora do AdoroCinema que acumulou mais de duas décadas de cultura inútil e decidiu transformar isso num emprego. Nessa jornada, ela tem a missão de representar os fandoms barulhentos e/ou esnobados do Twitter, falar das séries que a crítica ignora e celebrar as '"farofas" que trazem alegria para o povo. Ou seja, os guilty pleasures! Com um ponto de vista 'singular' (ou doido, depende de quem opina), surge a coluna Kati Critica — misturando açúcar, tempero e um pouco de haterismo zoeiro.

    Eu não sou o tipo de pessoa que fica julgando a geração atual. Mentira, sou sim. Mas é inegável que os fãs de hoje em dia têm uma vida bem mais fácil... Basta ver a mobilização mundial ao redor de Vingadores: Ultimato. Pessoas desesperadas para conseguir lugar em sessões de pré-estreia à meia-noite, num nível "busca por ingresso do show de Sandy e Jr.". Numa comparação básica, basta lembrar que os filhos de Xororó não cantam juntos faz 20 anos, enquanto outro filme da Marvel foi lançado dois meses atrás.

    Num desespero para ver tal longa o mais rápido possível e não pegar spoilers, a grande comoção dos fãs diante do lançamento de Ultimato é algo que não vemos desde Star Wars - O Despertar da Força ou o último capítulo da franquia Harry Potter. Tudo bem que os Potterheads são protetores demais e eu quase apanhei quando falei que não ligava para o Dobby num almoço entre amigos, mas isso é outra história.

    via GIPHY

    Obviamente, a comoção ao redor de Vingadores é completamente merecida. É o resultado de onze anos de um trabalho impecável da Marvel em construir seu próprio universo cinematográfico, com 22 filmes num saldo super positivo e personagens completamente carismáticos. Tipo, se alguém mexer com meus babys Steve Rogers, Rocket Racoon (Bradley Cooper), Capitã Marvel (Brie Larson) ou Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen); não respondo por mim!

    Acho lindo ter espaço para participar de um fenômeno cultural de tal porte, compartilhar alegrias e teorias doidas no Twitter, além de poder exaltar pessoas maravilhosas como Chris Evans, Brie Larson, Mark Ruffalo, Paul Rudd e Tessa Thompson todos os dias. Aliás, pausa feliz para rir da cara dos machistas que falaram como Capitã Marvel ia flopar e o filme superou US$1 bilhão nas bilheterias!

    Voltando ao tópico, a minha crítica aqui é sobre a sociedade e o tipo de fanatismo que consideram aceitável. O status "nerd" ganhou credibilidade nas últimas décadas, devido ao sucesso de franquias de heróis e Star Wars nos cinemas. Antigamente, o estereótipo era traduzido naquele garoto tímido, gordinho, de óculos, meio careca e que sofre bullying na escola. Hoje, em dia, "nerd" é algo mais "cool", apesar de ainda ser alvo de piadas faceis — foi assim que The Big Bang Theory durou 12 temporadas. Porém, isso virou uma comunidade mundial, onde os apaixonados por HQs finalmente ganham seu lugar ao Sol.

    Só que essa "aceitação" não se expande para todos os tipos de fãs. O pessoal gritar loucamente quando o Thor (Chris Hemsworth) desceu em Wakanda, durante Guerra Infinita? Está de boas. Anos atrás, quando a minha geração surtava com a batalha final da saga Crepúsculo, éramos taxadas de loucas (Até quem odeia Edward e companhia, acha essa cena maneira, admita... Mesmo que os vampiros quebrem como se fossem vidro).

    A cultura nerd, finalmente, está sendo apreciada, depois de anos sofrendo bullying. Mas os fandoms de coisas consideradas "imaturas demais" ainda carregam preconceito em suas costas. Se alguém fala como se jogou nessa mania atual dos doramas, não é respeitado, mesmo com a cultura oriental estando no auge da popularidade — e merecendo parabéns, pois entender coreano não é fácil, meus amigos. Por exemplo, quando o saiu o trailer de Batman Vs Superman, era possível encontrar vídeos de marmanjos perdendo todas as estribeiras ao ver aquele Apocalypse de CGI, mas quando uma jovem fã chora com beijo de ship em série é julgada.

    via GIPHY

    Em nenhum momento, estou aqui tentando comparar a qualidade das produções, mas deveria ter um respeito mútuo entre os diferentes grupos de espectadores. A imagem do fã era associada com aquelas adoradoras exaltadas de Backstreet Boys, com faixa rosa na cabeça, que faziam cartas com metros de comprimento, escritas à mão, cheias de marcas reais de beijos, gastando uma fortuna em batom. Hoje em dia, seria o equivalente aos brasileiros trollando o protagonista de Todo Mundo Odeia o Chris no Instagram, sabe?!

    RankBrasil

    A internet permite que qualquer um encontre pessoas com gostos semelhantes, não importa a distância, já dizia Hércules. Temos acesso às culturas de outros países e linguagens, então é normal que a arte de ser fã também ganhe força, enquanto cada geração se acostuma mais com as tecnologias. Mas porque apenas certos grupos ganham "passe livre" e outros são julgados? A paixão é a mesma. Se não for algo ofensivo ou que machuque o amiguinho, qual o problema?

    Os fãs de Crepúsculo deveriam ter liberdade para debater #TeamEdward ou #TeamJacob até hoje!

    Ainda acompanha Grey's Anatomy e Supernatural? Merece uma medalha de coragem e paciência!

    O "Arrowverse" da CW não deveria ser esnobado pelos filmes da DC, só porque não têm orçamento!

    Quer comemorar o sucesso de Joey King fazendo uma Barraca do Beijo na sua escola? Talvez não seja a melhor ideia, mas parabéns pela iniciativa!

    É fã de After e 50 Tons? Vamos conversar sobre relacionamento abusivo, pois está precisando... 

    Está achando besteira? Então, veja isso de uma forma temporal. Nas próximas semanas, veremos milhares de usuários do Twitter debatendo se Daenerys (Emilia Clarke), Sansa (Sophie Turner), Jon Snow (Kit Harington) ou Cersei (Lena Headey) marecem assumir o Trono de Ferro. Na nossa infância, as meninas eram divididas entre quem conseguia ser a Ranger Rosa ou Amarela na brincadeira. Já durante a adolescência, a treta do recreio era descobrir quem seria Mia (Anahí) ou Roberta (Dulce Maria) de Rebelde no grupinho.

    Modéstia à parte, eu sempre fui Roberta, porque ameaçava quem queria me botar de Lupita (Maite Perroni). 

    O tempo passa, os fandoms mudam, mas sempre encontramos algo para curtir ao longo dos anos. Obviamente, existem grupos de fãs tóxicos que só servem para xingar, machucar o outro ou soltar spoilers desnecessários na anonimidade do Twitter. Mas isso não é ser fã de verdade. Nem todo mundo entende como trata-se de uma mistura de arte e sacrifício, cercada por um amor onde ninguém espera nada em retorno. Apenas aproveitar séries, filmes ou músicas que te façam feliz; apoiando aqueles que a produzem.

    Então não deveríamos julgar o que o outro gosta e deixar o amiguinho adorar o que quiser. Todo mundo é fã de alguma coisa. Você zoa essa paixão exaltada que os adolescentes têm por seus ídolos? Talvez a gente podia aprender com eles como amar mais uns aos outros! Nossa, foi um discurso tipo Oprah né? Você leu a introdução desta coluna, gosto de me imaginar como um Robin Hood dos fandoms esnobados.

    Moral da história: Tudo bem se empolgar por Vingadores: Ultimato. Deve ser o maior encontro do cinema desde Inspetor Faustão e o Mallandro. Porém, não estou falando para todo mundo começar a gritar por qualquer coisa no cinema, ok? Já basta o barulho chato de pipoca... 

    facebook Tweet
    Back to Top