O mockumentary (falso documentário) Bio - Construindo uma Vida, chega aos cinemas nesta quinta-feira, dia 4, entregando uma experiência incomum: ao longo do filme, conhecemos o protagonista apenas através dos 39 depoimentos sobre momentos marcante de sua trajetória.
Dirigido por Carlos Gerbase, o longa narra a história de um homem (que não tem seu nome revelado) nascido em 1959 e morto em 2070, com uma patologia especial que não o permite mentir. Depois de sua morte, amigos e membros de sua família se reúnem para relembrar acontecimentos especiais pelos quais passaram juntos e que montam o retrato da biografia do rapaz.
O mais curioso é que os atores puderam criar esta persona, cada um de sua maneira. Em entrevista ao AdoroCinema, o diretor revelou que entregou o roteiro completo para cada um do elenco mas que o personagem principal era também um mistério. “Eu queria que eles soubessem quem era o seu personagem. O que estava acontecendo naquele momento da história com o personagem principal e com eles”, contou ele.
Bruno Torres, intérprete de um dos filhos do protagonista, também falou sobre essa curiosidade: “O Gerbase deixava aberto para todos criarem do jeito que queriam. Até porque cada um conta um fragmento, é uma visão, um pode falar uma coisa e outro falar outra completamente diferente”.
No decorrer do filme, vemos Maria Fernanda Cândido como uma cientista que é a “musa” do personagem principal já em tempos futuros e, para ela, esse não foi o desafio mas sim fazer um longa-metragem sem contracenar. “Foi muito desafiador porque foi muito novo, foi diferente de tudo que eu já fiz. Normalmente a gente tem os colegas que a a gente vai contracenar, conhece a história inteira e consegue criar dentro de uma rede de informações e de parâmetros. Ali não, eu não tinha essa rede, então eu me lembro da sensação de me sentir muito sem chão, muito em uma aventura que eu não sabia onde isso daria”, contou a atriz.
“O maior desafio da atuação no filme é contracenar com ninguém, além de se referir a um personagem que você tem completa intimidade como pai, mas você não tem a mínima ideia de quem é ele”, disse Torres sobre o trabalho.
Além disso, todos os personagens aparecem no quadro apenas dando os seus depoimentos, tornando suas expressões faciais importantíssimas já que têm o movimento limitado. “Você acaba tendo que trabalhar com muita verdade porque não tem apoio para se manifestar fisicamente. Apesar de ter seu corpo todo em jogo, você está em um quadro fechado e realmente tem que se expressar ali através daquilo que está dentro de você”, disse Maria Fernanda sobre a experiência.
Para trazer essa sensação de documentário real, Gerbase afirmou que a filmagem das cenas foi dividida em dois momentos: roteiro e improvisação. “Primeiro os atores faziam exatamente o que estava no roteiro. Em seguida, eu falava: ‘Agora deixa o roteiro de lado e fala comigo como o personagem’. Aí eu era o entrevistador, o documentarista buscando alguma coisa que não tinha sido dita”, revelou ele. Em contrapartida, o lado irreal é que os depoimentos se passam exatamente no momento em que a situação aconteceu, por isso, o cineasta considera um filme “impossível de ser feito”: “Preferi entrevistar as pessoas enquanto as coisas estão acontecendo para que a emoção aflorasse com mais dramaticidade”.
Por fim, Maria Fernanda Cândido revelou que, para ela, Bio fala sobre a evolução de todos nós. “O filme discute profundamente questões como: o que é a realidade? O que é a verdade? Você é real ou é uma grande construção que se forma a partir do olhar de todos que te enxergam? Então, o que é ser humano? O que é ser alguém? Eu existo ou eu existo a medida que o olhar do outro me constrói? que construção é essa? Que construção sou eu mesma?”.
Com nomes como Tainá Muller, Maitê Proença, Marco Ricca, Sheron Menezes, entre outros, Bio - Construindo uma Vida chega aos cinemas nesta quarta-feira, dia 4 de abril.