Presente em mais de 80 festivais ao redor do mundo, a animação Tito e os Pássaros estreia no Brasil em circuito comercial em 14 de fevereiro e foi um dos pré-indicados ao Oscar 2019 de melhor filme da categoria. Para divulgar seu lançamento, parte do time da obra - composto por Daniel Greco, Gustavo Kurlat, Gabriel Bitar, Gustavo Steinberg, Denise Fraga, André Catoto e Eduardo Benaim - estiveram presentes em uma coletiva para a imprensa em São Paulo.
Os temas da coletiva foram distribuídos desde a concepção da obra, em 2010, até a criação da trilha sonora e a recepção do público. Sobre o tema do filme, que é o medo, e as ligações dele para com a realidade, o diretor Gustavo Steinberg comentou: "As pessoas perguntam como eu sabia que ia dar nisso - nessa relação com as greves ao redor do mundo, com os protestos e ações políticas. Óbvio que eu não sabia, mas o que eu sempre respondo é 'você conhece São Paulo?'. Eu nasci e fui criado em São Paulo, então imaginar que o medo é contagioso quando você é dessa cidade não é algo tão genial, tão difícil. É uma coisa muito presente aqui; eu só não sabia que chegaria neste nível não só aqui como no mundo afora. A gente exibe o filme nos Estados Unidos e todos pensam em Donald Trump. Cada um vê de um jeito. As razões do medo são diferentes, mas esse medo está cada vez mais exarcebado e a cultura do medo está tendo resultados políticos e econômicos muito claros."
A ideia principal da equipe de Tito e os Pássaros sempre foi falar sobre estas questões sérias diretamente com as crianças. "Nós, adultos, criamos esse caos todo, então quem sabe as crianças tenham uma resposta melhor do que nós? Eu sinceramente acredito que sim, pois tivemos muitas conversas com crianças após as sessões e é impressionante o diálogo que construímos diversas vezes", disse Steinberg. "Recebemos vários tipos de respostas. Uma criança um dia perguntou: 'Isso vai acontecer com a gente?'. Outro feedback legal é ver as crianças reconhecendo o medo como estratégia no dia a dia", completou.
Para Denise Fraga, dubladora da mãe de Tito, a animação é uma chance de introduzir temas sérios sobre a vida de uma maneira natural: "O filme é uma grande oportunidade de falarmos com os pequenos de uma forma real dentro dessa estrutura de fábula. A estrutura real do caos e da vida dura na cidade se intercala com um 'mas...', que rende uma boa conversa afinal", refletiu.
A história de Tito e os Pássaros tem como base a jornada do herói, mas se desprende deste tipo de narrativa por vezes ao não inserir poderes ou outros elementos semelhantes. "A gente sempre teve uma preocupação muito clara de não transformar o Tito em um herói como os da Marvel, por exemplo. Tanto é que o Tito é um garoto absolutamente comum que só precisa se esforçar e ter ideias para resolver aquele problema gigante. Uma referência que sempre foi bem clara é o filme Os Goonies: um bando de garotos que precisa se juntar para resolver um problema real. Aqui, o problema real é que o medo está transformando todo mundo em pedra. Queríamos ter um contato com a realidade, apesar de também trabalharmos com vários níveis de fantástico, de alegorias, e obviamente nos preocupando em entregar uma trama divertida", explicou Steinberg.
Além da narrativa dramática, o visual inspirado no expressionismo é um fator dominante do início ao fim. A equipe explicou o processo para escolher tal movimento artístico. "Pesquisamos bastante o assunto do medo, e chegamos aos expressionistas através da temática do filme. Fizemos uma pesquisa a fundo para trazer o expressionismo à animação. São pinturas muito densas, até um pouco inadequadas ao público infantil, mas sempre tínhamos a ideia de que as crianças têm curiosidade de ver esse tipo de coisa. O filme acaba sendo uma experiência bem completa para elas, ainda mais na tela grande. O medo vai surgindo na história e as imagens vão ficando mais tortas", explicou Gabriel Bitar, co-diretor do filme.
Completando o cuidadoso trabalho para criar todo o universo de Tito e os Pássaros, a trilha-sonora tinnha de ser impactante e, ao mesmo tempo, leve. "Foi um desafio montar a trilha-sonora. Tínhamos que levar o medo e a tensão na medida certa para não causar pânico, ao mesmo tempo que trouxesse tal sensação. Construir o ritmo foi muito importante", disse o compositor Gustavo Kurlat. "Não podíamos exceder o fator medo, afinal, as crianças poderiam sair das salas de cinema antes do filme terminar. Houveram duas estratégias para trazer o medo à história: a primeira foram os cenários e a outra foi a música, que realmente foi um trabalho muito incrível. Mesmo nos momentos felizes a música traz uma densidade que traz a sensação do que é a cultura do medo", completou Steinberg.
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