O terceiro dia da Mostra Competitiva do 69º Festival Internacional de Cinema de Berlim começou de maneira pouco empolgante, com um traço que aparenta ser característico dessa edição: filmes caros, bem produzidos, mas comedidos demais no discurso.
The Ground Beneath My Feet e Out Stealing Horses são obras respeitáveis, ainda que pouco memoráveis. O primeiro, vindo da Áustria, explora a vida de uma mulher bem-sucedida e trabalhadora (Valerie Pachner), que começa a ter alucinações e teme estar desenvolvendo os problemas mentais idênticos ao da mãe e da irmã. O filme de Marie Kreutzer parece enveredar por um suspense sobre a fronteira entre o real e a ilusão, mas freia a narrativa quando ela ameaça ir mais longe. O resultado é respeitável, ainda que morno.
Out Stealing Horses adapta ao cinema o best seller de Per Petterson. No centro da trama, Stellan Skarsgaard interpreta um homem solitário, que se isola numa cabana na fase final de sua vida. Por acaso, o passado bate à porta, quase literalmente, obrigando o homem a relembrar seus traumas e também os bons momentos da infância. O drama de linguagem convencional deve cativar o público amplo pela mensagem familiar e pelas paisagens nórdicas.
Já The Golden Glove trouxe surpresa e risos nervosos à Berlinale. O diretor Fatih Akin (Em Pedaços) retoma a história real de um assassino em série, que matou dezenas de mulheres e escondeu partes dos corpos em sua casa. Para retratar a história, nada de ferramentas do drama, nem do suspense policial. O cineasta preferiu uma comédia grotesca, regada a estupros, corpos esquartejados, muita nudez frontal e um pouco de escatologia. O resultado é muitíssimo bem dirigido, mas deve despertar repúdio de parte do público devido à decisão de retratar o feminicídio com humor e leveza.
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