Depois de um começo fraco com o drama The Kindness of Strangers, a Mostra Competitiva do 69º Festival de Berlim teve um segundo dia muito mais forte.
O filme mais aguardado era o francês By the Grace of God, de François Ozon (8 Mulheres, O Amante Duplo). Desta vez, ele entrega um drama sóbrio sobre o longo processo necessário para incriminar um padre por atos de pedofilia contra mais de 80 crianças diferentes. Baseado num caso real, o verborrágico filme busca fazer pressão na justiça francesa, que ainda não condenou o agressor, além de criticar a conivência da Igreja Católica em relação aos fatos.
O primeiro representante alemão, System Crasher, mostra uma garotinha traumatizada e violenta com a qual o sistema de ensino não sabe mais lidar. Depois de ser expulsa de dezenas de casas e escolas, ela não tem onde ficar, mas um grupo de educadores se nega a desistir do caso. A produção da diretora Nora Fingscheidt é muito bem filmada e atuada, embora se repita demais nas inúmeras cenas de descontrole da garota. Se fosse mais enxuto, talvez conseguisse maior apelo junto à imprensa.
A melhor surpresa do dia ficou por conta de uma pequena produção da Mongólia, Öndög. O termo significa "ovo de dinossauro", utilizado na trama tanto para representar a vida (afinal, o ovo dá origem a um filhote) quanto a morte (já que os dinossauros se extinguiram). Com bom humor e imagens belíssimas, o cineasta Wang Quan'an apresenta uma obra bastante criativa apesar de seus poucos recursos. Mesmo assim, provavelmente seja hermética demais para o público amplo. Se vencer algum prêmio, talvez tenha mais chance de ser distribuído mundo afora.
Apesar da boa qualidade, nenhum desses três filmes aparenta ser um bom candidato ao Urso de Ouro, o prêmio máximo da Berlinale. Vamos ver os candidatos dos próximos dias.