Por essa, ninguém esperava. É normal os grandes festivais internacionais como Berlim, Cannes e Veneza abrirem suas mostras competitivas com um filme acessível, capaz de trazer algumas estrelas ao tapete vermelho e despertar atenção do público ao evento.
Mesmo assim, enquanto 2018 começou com o excelente Ilha dos Cachorros, 2019 teve um início menos empolgante. The Kindness of Strangers, definido pela curadoria como um "conto de fadas moderno", contradiz a maioria dos filmes selecionados em Berlim.
Trata-se de um melodrama conservador, tanto em forma quanto em conteúdo. Na história, uma jovem mãe (Zoe Kazan) foge do marido violento e perambula pelas ruas de Nova York, enfrentando a fome e frio até ser acolhida por um grupo de anjos da guarda, inclusive o sedutor Marc (Tahar Rahim).
Para compreender o tom do filme, talvez valha pensar em produções bondosas e um tanto inocentes como A Corrente do Bem, Beleza Oculta e Um Conto do Destino. Se você adorou estes dramas, certamente gostará muito do que a diretora Lone Scherfig tem a oferecer.
Ao final da primeira sessão de imprensa, um crítico italiano se levantou e gritou, enfurecido: "Que vergonha!", provocando risos na sala. Em um festival que se orgulha de buscar a paridade de gênero, destacar a cinematografia de todos os países e valorizar os temas políticos, The Kindness of Strangers soa deslocado na sessão inaugural. Mas quem sabe os próximos filmes não são melhores?
O nível aumentou logo em seguida com a primeira sessão especial de Gully Boy, musical indiano sobre o hip hop produzido nos bairros mais pobres de Mumbai. O resultado é vibrante, e muito mais complexo socialmente do que aparenta à primeira vista.
Assim que for suspenso o embargo à imprensa, as críticas de The Kindness of Strangers e Gully Boy estarão disponíveis no AdoroCinema e no guia do 69º Festival de Berlim.