Duas vizinhas, melhores amigas, engravidam ao mesmo tempo. Nove meses depois, para a surpresa de ambas, os partos ocorrem na mesma hora, no mesmo hospital. Mas a loira Carmen (Brenda Gandini) começa a suspeitar de algum erro quando recebe um bebê moreno, enquanto a morena Rosa (Valentina Bassi) recebe um bebê loiro. Os médicos não teriam trocado as crianças no berçário? Numa época anterior aos testes de DNA, a maternidade é impossível de provar, criando uma confusão entre as duas famílias.
Esta é a trama da comédia As Ineses, coprodução entre Argentina e Brasil que chega aos cinemas dia 14 de fevereiro. O AdoroCinema conversou com o diretor e professor de roteiro Pablo José Meza sobre o projeto, sua terceira experiência como cineasta:
De onde vem essa história tão excepcional?
Pablo José Meza: A ideia original é da Victoria Mammoliti, outra roteirista. Ela era aluna minha de um curso de roteiro. Em determinado momento, durante as aulas, ela começou a desenvolver este roteiro que me agradou bastante. Disse então que gostaria que este fosse o meu próximo filme. Ela concordou, e se tornou minha corroteirista. Portanto, é uma história pessoal dela. Tudo é pura ficção, mas foi tirado de notícias de jornais de antigamente, de coisas que lemos sobre os hospitais da época. A principal fonte foram histórias sobre conflitos entre família vizinhas.
Por que decidiu situar a trama entre a segunda metade dos anos 1980 e os anos 1990?
Pablo José Meza: Isso tem a ver com a identidade do filme, na verdade. Não queria estar dentro do período militar (1976-1983), porque a questão da identidade adquiriria outro sentido, mais complexo, que fugiria às nossas intenções. Na atualidade, com a possibilidade dos exames de DNAs, se saberia facilmente de quem era cada filha. Por isso encontramos essa brecha no tempo, quando a Argentina tinha voltado à democracia, mas ainda não havia a tecnologia necessária para a identificação. O filme ficou muito mais caro, porque exigia toda a reconstituição de época. Do mesmo modo, demorou mais tempo para ser produzido e filmado.
Qual foi o envolvimento brasileiro nesta coprodução?
Pablo José Meza: Este é o meu terceiro filme, e a segunda coprodução com o Brasil. Eu me sinto muito cômodo trabalhando com brasileiros. Estamos próximos e, mesmo que não falemos a mesma língua, nos entendemos muito bem. Eu me sinto muito próximo dos gaúchos, temos muito em comum. Com os valores de mercado, fazer um filme sozinho hoje é muito difícil, então precisamos unir forças. Às vezes as pessoas pensam que é necessário nos unir aos países europeus, estreitar laços com Portugal e Espanha, mas podemos fazer coproduções valiosas entre países latino-americanos, devido aos recursos que temos.
Que diferenças você percebe entre as produções brasileiras e argentinas recentes?
Pablo José Meza: O Brasil está fazendo um cinema cada vez melhor nos últimos anos. Ele está se desprendendo do formato das telenovelas para pensar em algo mais próximo do autor, mas ainda capaz de dialogar com um público geral. Cada país tem sua cultura distinta, e busca caminhos diferentes. Mesmo assim, considero que quando você tem uma história universal, ela poderia acontecer em qualquer local do mundo, inclusive no Brasil. O importante é reunir recursos. Os talentos existem em todos os lugares, tanto com atores quanto técnicos.
De que maneira equilibrou drama e comédia?
Pablo José Meza: Isso foi o mais difícil de fazer. Acredito que toda comédia tenha um cerne dramático, e todo drama é obrigado a atravessar momentos de leveza, o que o aproxima da comédia. O meu roteiro original tinha 100 páginas, mas o filme tem 75 minutos, porque não respeitamos a regra de uma página por minuto de roteiro. Na hora de filmar, os atores tinham grande energia para brincar com o tom dramático e acelerar o registro, o que faz sentido para a comédia. Então precisamos regular os níveis para andar juntos. Esta é a minha primeira comédia, o que é muito mais difícil de fazer um drama, mas também mais gratificante porque quando assiste ao filme, não vê as pessoas chorando, e sim escuta os risos. Ver a reação das pessoas é uma grande recompensa.
Em que medida queria que as duas Ineses fossem parecidas na aparência, ou diferentes em personalidade?
Pablo José Meza: Sabíamos que era preciso trabalhar muito para a escolha das meninas. Testamos muitas jovens atrizes, porque sabíamos que mesmo quando elas envelhecem, era preciso que continuassem semelhantes. Trabalhamos muito com elas, e fizemos diversos ensaios. No filme, temos crianças de todas as idades: 4, 6, 8, 16 anos... Felizmente, eu já tinha trabalhado com crianças antes, e me dou bem com elas no set de filmagem. Foi difícil, mas prazeroso de fazer. No final, sei que o público de 30 anos para cima vai gostar mais do filme, porque pode estar atravessando a maternidade e se identificar mais com os personagens. Mas pela presença dos adolescentes e das crianças, acredito que todas as faixas etárias possam apreciar.