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    "Eu sentia um isolamento que muitos monstros dos filmes também sentem", relembra Doug Jones ao falar de sua carreira

    Ator americano veio ao Brasil para promover série Star Trek: Discovery e conversou com a imprensa sobre seus diversos trabalhos e personagens.

    Aproveitando sua primeira visita ao Brasil para a convenção StarCon - Os Mundos de Doug Jones, que acontece no próximo sábado (02), o ator Doug Jones participou de uma coletiva de imprensa para falar não só do universo Star Trek como também sobre seus icônicos personagens e suas diferentes caracterizações feitas para o cinema e a televisão.

    Conhecido por interpretar seres de diversas origens e personalidades, Doug Jones é um ator versátil e muito querido pelos fãs – mesmo consagrado há anos, ele ganhou ainda mais atenção a partir do momento em que passou a integrar a equipe da série Star Trek: Discovery como o personagem Saru. Entre monstros e criaturas únicas, ao longo de 33 anos de carreira Jones se tornou um dos fieis companheiros de trabalho do diretor Guillermo Del Toro (seu mais recente filme, A Forma da Água, recebeu 4 Oscar, incluindo de Melhor Direção e Melhor Filme, e conta com a atuação de Jones como o homem-anfíbio).

    A coletiva de imprensa foi dividida entre Star Trek: Discovery e os demais trabalhos do ator. Sobre a série, Jones disse encará-la como um desafio e que se vê como um estudante. "Quando eu leio os roteiros, eu fico pensando: 'o que será isso?'. Algumas palavras foram inventadas pela própria franquia. Cada roteiro que eu pego em mãos é como se fosse uma prova final que eu preciso me sair bem". Ele também não poupou elogios para todo o universo que a franquia instaurou na cultura pop: "Star Trek tem a longa história de usar elementos sociais e políticos do mundo e colocá-los num formato ficcional. Se você quer fazer um paralelo, você consegue. O que eu amo nisso tudo é que nós não falamos isso diretamente no nosso seriado. Os personagens falam uns entre os outros e não notam que são de raças, sexos e opções sexuais diferentes porque nós estamos no futuro e, lá, já ultrapassamos tudo isso. Esta é a parte que eu mais amo na série", completou.

    Quando questionado sobre qual capitão é o seu favorito, Jones deu uma resposta divertida e ao mesmo tempo favorável para os personagens Kirk e Picard: "Eu amo os dois, como todos nós amamos, mas por diferentes razões. Eu amo o Capitão Kirk porque ele foi meu primeiro capitão, é algo muito nostálgico. Eu nasci em 1960 e o show começou em 1966. Então, por questões nostálgicas, Capitão Kirk. Mas por questões como "Oh, meu Deus, que ator incrível!", seria Capitão Picard. Patrick Stewart é um ator fantástico e um cavalheiro."

    Após falar sobre Star Trek, a coletiva caiu para assuntos como a época em que interpretou Surfista Prateato, um dos personagens mais icônicos da Marvel e o favorito de Stan Lee. "Quando eu conheci Stan, eu perguntei por que o Surfista era seu favorito e ele respondeu: 'Este é um personagem que eu posso falar sobre condições humanas, sobre o que humanos fazem com o planeta e com eles mesmos, sob a perspectiva de um alien que está apenas de visita'. Eu fiquei bem impressionado por saber que ele era seu herói favorito. Foi uma honra. Ele faleceu recentemente mas sempre será lembrado", disse.

    Sobre o personagem que mais demorou tempo para ele caracterizar, qual mais gostou e qual foi o mais exaustivo, Jones relembrou seus dias no set de Hellboy como o personagem Abe Sapien, ao mesmo tempo em que afirmou que Saru é um personagem fácil de interpretar, pois apenas uma máscara e a maquiagem nas mãos são necessárias. "Eram sete horas para me caracterizar de Hellboy e mais duas horas para limpar tudo no fim de cada dia. O meu favorito até agora foi o de Labirinto do Fauno, por ser tão bonito e único. Eu amo o personagem, o visual dele, as mãos, o design – inclusive, a maquiagem até ganhou o Oscar no ano do lançamento do filme."

    Mas seu personagem já icônico de A Forma da Água, assim como Guillermo Del Toro, foram peças-chave para sua carreira. "De todas as criaturas que já encarnei, este foi o que mais demorou tempo para o visual ser desenvolvido. Ficou em desenvolvimento por muito tempo e sua beleza artística mostra porque realmente demorou. O truque era fazer o visual dele mais bonito não só como criatura, mas também sexy, porque o homem-anfíbio precisava ser atraído por uma mulher. No fim, o homem-peixe acabou sendo bem sexy e foi um dos personagens mais bonitos que já encarnei", completou, aos risos.

    A amizade entre Jones e Del Toro foi o tema que permeou a coletiva até o seu desfecho. Além de afirmar que o diretor é seu favorito para trabalhar em dupla, Jones disse o quanto admira o amor de Del Toro por estes monstros. "Já vivi tantos monstros, tantas criaturas... Mas os personagens de Guillermo são monstros que têm corações humanos. Os monstros reais de seus filmes são os humanos ruins que abusam de poder. Ele nos oferece monstros que podemos nos relacionar de alguma forma", disse, antes de contar detalhes de sua vida que se assemelham muito com o caminho que resolveu seguir como artista. "Eu venho de uma infância em que achava que eu era o monstro. Eu era magro, alto e não sabia como me encaixaria. Eu sentia um isolamento que muitos monstros nos filmes também sentem. Então, quando eu interpreto um monstro, eu o completo com meu passado e com os problemas que tive. É algo muito terapêutico para mim. Guillermo encontrou a salvação para seus monstros e para que aprendamos com eles. E o que eu aprendi com eles foi que, além de interpretá-los, eu também posso aceitar o monstro que eu sentia que era, e posso achá-lo bonito."

    A StarCon acontece no dia 2 de fevereiro, sábado, no Teatro Eva Wilma, no Tatuapé, em São Paulo, e vai comemorar a estreia da segunda temporada de Star Trek: Discovery, que estreou globalmente na Netflix em 18 de janeiro.

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