E está indo embora o 2018, o ano que pensamos que não terminaria nunca.
Para muita gente e por muitos motivos, este foi um ano a ser esquecido. Nada foi muito fácil, e nem precisamos incluir política, economia e futebol nessa equação para concluirmos que quem resistiu firme a 2018 certamente vai chegar fortalecido a 2019. Nesse sentido, a cultura pop realizou muito bem o seu papel de ecoar a realidade e estimular a reflexão.
Nesses saborosos mundos repletos de heróis e vilões, beleza e violência, lindas melodias, proezas impossíveis, terras míticas e galáxias distantes, alguns acontecimentos foram interessantes o bastante para ficarem eternizados. Então, sem mais parágrafos e contextos, aqui está a minha lista toda pessoal com alguns dos principais bons momentos que marcaram a cultura pop em 2018.
Wakanda forever!
Mais do que um dos melhores filmes com o atestado Marvel de qualidade, Pantera Negra foi o manifesto cultural de maior impacto no ano mais engajado da cultura pop. O filme bateu recordes de bilheteria e já é considerado um dos mais relevantes produtos estrelados por super-heróis em todos os tempos, mas nada disso teria acontecido se a qualidade não transbordasse em todos os aspectos. Com cenas de ação impressionantes, visual de encher os olhos e um irresistível elenco majoritariamente negro, Pantera Negra também foi certeiro no tom de suas mensagens sociais e políticas, estimulando discussões e inspirando o público que foi ao cinema -- principalmente as parcelas pouco contempladas por este gênero. E mais do que tudo isso, é o filme que nos revelou Wakanda -- que é para onde eu irei quando me aposentar.
Donald Glover "descobriu" a América
Childish Gambino, a persona musical do multiartista Donald Glover, cometeu assim como não queria nada o videoclipe mais importante do ano. "This is America" é uma interpretação satírica e perturbadora da questão da violência com armas nos Estados Unidos, além de ser mais um exemplo do talento imenso de Glover, que não se cansou de brilhar em 2018 -- seja como uma das poucas peças que funciona em Han Solo - Uma História Star Wars (o jovem Lando Calrissian), seja como o protagonista-autor de Atlanta, uma das séries de TV mais necessárias da atualidade.
Star Wars não é mais infalível, ainda bem
Star Wars sempre foi sinônimo de franquia de entretenimento perfeita, mesmo que nem todos os filmes sejam unanimidades entre os fãs. Foram mais de 40 anos de consagração popular, com oito episódios oficiais e um spin-off que acertaram em cheio no gosto e no coração do público sedento sempre por mais. Fracasso era uma palavra que jamais esteve associada a um produto cinematográfico da saga... até a decepcionante performance nas bilheterias do filme solo de Han Solo. Muitos fãs de carteirinha nem se deram ao trabalho de prestigiar este spin-off bem intencionado, talvez pelo gosto amargo que Os Últimos Jedi teria deixado em muita gente. Seja qual for o motivo, o fato é que a Disney vai segurar a mão em seus projetos estrelados por personagens secundários, o que eu, pessoalmente, lamento, mas que se mostra a decisão mais acertada para o bem de Star Wars.
O estalo de dedo de Thanos
Nunca um simples movimento de dois dedos fez tamanha diferença para tantos: com um "snap", o titã Thanos dizimou metade da raça humana e boa parte dos seres heróicos conhecidos do universo cinematográfico da Marvel. O desfecho épico-trágico de Vingadores: Guerra Infinita consolidou a maior aniquilação já vista em um blockbuster e enfiou goela abaixo dos fãs a constatação de que nem no escurinho seguro do cinema estamos livres de sofrer pela perda de entes queridos. Mas muita calma que Vingadores: Ultimato já está chegando para reverter tal destruição.
Tom Cruise é muito louco
Aos 55 anos e quase 40 deles aparecendo como protagonista nas telas, Tom Cruise, o Peter Pan de Hollywood, é um fenômeno a ser estudado. Você sabia que ele dispensou dublês e realizou praticamente todas as proezas de seu personagem em Missâo Impossível: Efeito Fallout -- inclusive saltar de paraquedas 106 vezes só para ensaiar uma cena? Por que ele é assim? Por que ele faz essas coisas? O que esse cara precisa provar? Mas pode continuar assim, Tom, é disso mesmo que o povo gosta.
O Coringa vai rir por último
Se comparado ao histórico de glórias dos filmes dos heróis da Marvel, a rival DC tem motivos para sofrer com seu universo cinematográfico. Aquaman teve um bom retorno nas bilheterias do mundo, mas foi o único filme da saga que chegou aos cinemas em 2018, entre diversos projetos adiados ou deixados de lado. Shazam! está confirmado para abril de 2019 e a sequência de Mulher Maraviha chega em 2020, mas além disso, tudo é incerto no futuro de Batman, Superman e cia. Diante de um cenário tão nebuloso, qual poderia ser a melhor ideia? Que tal começar tudo de novo? E foi assim que um novo filme sobre o Coringa estrelado por Joaquin Phoenix parece fazer tanto sentido. Porque se der errado, pior não fica.
"Oh mamma mia, mamma miaaaa..."
Aguardado com reticências por quase todo mundo, Bohemian Rhapsody se tornou o sucesso improvável de 2018, aquele tipo de feel good movie que as pessoas recomendam às outras por nenhum motivo especial, mas talvez todas as razões ao mesmo tempo: Rami Malek está sobrenatural como Freddie Mercury, a reconstituição histórica é saborosa (ainda que cheia de imprecisões) e os momentos musicais empolgam, especialmente a sequência do show do Live Aid, que encerra o filme em catarse, num convite irresistível para a massa cantar junto no cinema -- e teve muita gente que fez isso mesmo. Perceba: quantas vezes você se pegou cantarolando alguma música do Queen nesse fim de ano?
E a Comic-Con brasileira virou "a maior do mundo"
Em seu quinto ano, a Comic-Con Experience (CCXP para os iniciados) deixou de lado seu caráter despretensioso de encontro de nicho para ganhar a pompa de um evento de entretenimento de apelo global, que faz frente a outras comic-cons mais tradicionais do Hemisfério Norte. Os estúdios de Hollywood embarcaram na causa e já não economizam para trazer suas celebridades e teasers (em diferentes graus de relevância) para uma plateia intensa e apaixonada, já conhecida e celebrada por ser a "melhor do mundo". É o Brasil mostrando ao mundo que em seu peito verde-amarelo pulsa forte um coração... geek.
E para você, quais foram os melhores e mais memoráveis momentos da cultura pop em 2018? Divida conosco nos comentários.
Pablo Miyazawa é colunista do AdoroCinema e consome cultura pop desde que nasceu, há 40 anos, de Star Wars a Atari, de Turma da Mônica a Twin Peaks, de Batman a Pato Donald. Como jornalista, editou produtos de entretenimento como Rolling Stone, IGN Brasil, Herói, EGM e Nintendo World.