Vingadores: Guerra Infinita apresentou diversas facetas de Thanos, vilão que tinha sido citado, antecipado e temido desde praticamente o início do Universo Cinematográfico Marvel. Grande parte do mérito vem da atuação de Josh Brolin, mas a tecnologia também tem muito a ver com a criação do personagem para as telonas.
Parte da elaboração do personagem, a partir de captura de movimento facial, foi graças a Kelly Port, supervisor de efeitos visuais que trabalha para o estúdio Digital Domain. Enquanto Port já trabalhou em filmes como Thor, Star Trek, Transformers - A Vingança dos Derrotados e Malévola, seu estúdio também carrega a experiência de ganhador do Oscar por filmes como Titanic e O Curioso Caso de Benjamin Button. Em parceria com a Weta Digital, ele deu vida a um dos maiores vilões da Marvel — poderoso, temido e, ainda assim, sentimental.
O AdoroCinema conversou com exclusividade com Port durante o evento VFX Rio, que aconteceu no início de dezembro. O supervisor de efeitos visuais revelou detalhes sobre a criação de Thanos, contou a cena que achou mais complicada em Guerra Infinita e ainda conseguiu escapar de contar novidades sobre Vingadores: Ultimato — próximo filme do estúdio que, sim, terá a participação do vilão interpretado por Josh Brolin. Confira abaixo!
Não se pode negar que Thanos é um personagem complexo. De acordo com Kelly Port, a Marvel estava interessada em aplicar captura de movimento no personagem e procurou a Digital Domain. "Eu tinha trabalhado antes com Jen Underdahl, que é produtora de efeitos visuais da Marvel. Ela tinha trabalhado na Digital Domain, e eu tinha feito alguns projetos da Marvel anteriormente", disse, sobre ter entrado no projeto. "Fizemos alguns trabalhos avançados de captura facial, como em A Bela e a Fera. Então eles vieram visitar e estava interessados em aplicar isso para Thanos e ver como isso ia funcionar com Josh Brolin". O bom trabalho feito no live-action da Disney influenciou na escolha e, logo, a Digital Domain começou a trabalhar com a Weta Digital, cada um fazendo uma parte do personagem.
"A captura de movimento foi muito sobre pegar a atuação, especialmente o rosto", explicou ele sobre o processo. "A captura do corpo não foi nada super inovador e novo nesse sentido. Apesar de ter sido uma combinação de coisas das quais éramos únicos nesse quesito. Mas o que foi realmente inovador foi a captura facial e poder capturar a performance de Josh Brolin em um nível bastante sutil."
Ainda que o estúdio de Port tivesse bastante liberdade para criar o personagem, os diretores Joe e Anthony Russo, o supervisores de efeitos visuais Dan DeLeeuw e os executivo da Marvel participaram de todo o processo, analisando e aprovando as diferentes iterações — desde o mais básico até o mais avançado. "Algumas vezes eles até diziam, 'gostamos de parte desse take e parte desse', então nós tínhamos que juntá-los. Pegávamos aquela informação e usávamos captura facial de duas ou três tomadas diferentes, combinávamos e fazíamos parecer como se fosse tudo a mesma coisa, e como se Josh Brolin estivesse na tela."
Mas como fazer isso, considerando que Thanos é um personagem dos quadrinhos, com muitas versões nas HQs? "Assim como em todos os personagens, você quer manter a essência dele das HQs. Porém, é claro que você quer melhorar a partir da tecnologia, o visual fotorrealista dele...", comentou Port, explicando. "Tentamos implementar um pouco de Josh Brolin, um pouco da proporção do seu rosto, os olhos e características da própria face dele para Thanos. Mas sem ir muito longe e fazer um personagem diferente. Sempre quisemos fazer jus ao Thanos dos quadrinhos", completou.
Então, surgiu o Thanos que vimos nas telas. Segundo Port, a captura de movimento foi a plataforma que permitiu elevar a atuação de Josh Brolin a um personagem de pele roxa, feito completamente de efeitos visuais. "Muito [da criação do Thanos] é crédito de Josh Brolin, ele é quem realmente tem que fazer o personagem. É claro que há algumas coisas que nós temos que fazer, como as diferenças de tamanho", comentou, especificando alguns detalhes imprescindíveis para dar vida ao Titã Louco. "A altura de Josh Brolin versus a de Thanos é bem diferente, então quando ele está andando ou lutando temos animar determinados aspectos de sua performance. Quando ele está lutando com o Hulk [Mark Ruffalo], por exemplo, você tem força sobrehumana e socos muitos poderosos, e muito disso é crédito dos nossos animadores. É um trabalho de equipe, uma colaboração".
"Ainda assim, muito disso, especialmente a performance facial, é tudo o Josh Brolin", exaltou o trabalho do ator, revelando que o difícil mesmo é transmitir a mesma atuação excelente para o personagem através da captura. "Temos animadores que mexem um pouco no rosto para fazer ajustes. A todo momento, eles olham para Josh Brolin. Se Thanos não está passando a emoção como Josh na cena, eles fazem ajustes para que fique como na filmagem. Como a estrutura do rosto, os músculos e os ossos são um pouco diferentes [no vilão], eles às vezes têm que fazer ajustes para garantir que passe a mesma emoção do ator", revelou ele, comentando que as cenas de luta, com emoção, são as mais difíceis.
Claro que os desafios de fazer a chegada de um dos vilões mais esperados das telonas não para por aí. "Certamente [o maior desafio] foi garantir que tivéssemos a tecnologia — e trabalhamos muito para que a tecnologia capturasse bem a performance facil de Josh Brolin de forma mais verossímel e detalhada possível. O segundo maior obstáculo foi garantir que ele parecesse realista. Com a sombra, a textura da pele, da iluminação, da composição. Como eu disse, é um trabalho colaborativo."
Diante disso, Port revelou a cena que achou mais complicada de fazer: Vormir, na qual Thanos e sua filha Gamora (Zoe Saldana) visitam o planeta, em busca da Joia da Alma. O Titã Louco, então, faz a escolha de trocar a coisa que mais ama — Gamora — para conseguir a Pedra.
[A cena de Vormir] tinha duas coisas complicadas: Quase 100% de um ambiente virtual, eles construiram um pequeno set para isso, só um pequeno corredor pelo qual eles caminhavam e o ambiente em volta tinha muita atmosfera, neve, nuvens, grandes montanhas. Essa parte nós filmamos no Brasil, dunas de areia no Nordeste do Brasil, isso é legal", lembrou ele sobre a cena filmada no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses.
"Combinamos isso com um pouco de gravações na Islândia e, claro, muitos efeitos visuais, para fazer esse mundo verídico", disse ele sobre transportar Vormir com veracidade para as telas. "Também foi uma cena muito pesada e profunda, então tinhamos que garantir que a performance de Josh Brolin realmente aparecesse porque havia muita emoção e drama acontecendo."
O trabalho de Kelly Port e da Digital Domain não terminaram em Guerra Infinita, afinal, o vilão vai aparecer em Vingadores: Ultimato — como já vimos um palhinha no trailer, lançado após a realização desta entrevista. Mas o supervisor de efeitos visuais não dá o braço a torcer sobre qualquer informação. Jogamos um verde para saber se ele deixaria escapar algo sobre a participação de Thanos em Avengers: End Game (no original).
Quando perguntado se veremos Thanos em Vingadores 4, ele se contentou em responder: "É o que eles me dizem". Ainda assim, Port comentou que não tem nada muito diferente em termos de criação do personagem para o próximo filme: "É Thanos. É o mesmo personagem", disse, rindo. É esperar para ver.
O Titã Louco vai aparecer novamente em Vingadores: Ultimato, com estreia prevista para 25 de abril.