Figura carimbada da televisão brasileira, Benício nem sempre se faz muito presente no cinema. 2018 mudou esta impressão: além de estrelar o sangrento e tenso O Animal Cordial, interpretando um burguês psicopata com grande desenvoltura, ele apresentou seu primeiro longa-metragem como diretor: O Beijo no Asfalto, baseado na peça de Nelson Rodrigues. O resultado impressionou pela ambição de combinar cinema, teatro e making of, com atores bem dirigidos e imagens ambiciosas. Nasce um diretor generoso e ousado. Que venham os próximos filmes! (Bruno Carmelo)
4. Karine Teles
A atriz e roteirista Karine Teles vem pedindo passagem desde suas aplaudidas atuações em Que Horas Ela Volta? e Fala Comigo; por isso, era apenas questão de tempo para que ela finalmente encontrasse seu merecido sucesso, tanto como protagonista, tanto como escritora. Em Benzinho, pelo qual Teles saiu vencedora do prêmio de Melhor Atriz, a intérprete cria uma de suas personagens mais marcantes e interessantes, trazendo uma força e vulnerabilidade ímpares para as telas. A julgar pela aclamação quase universal do longa, Benzinho deve ser apenas mais uma das grandes etapas do que vem pela frente na carreira de Teles (Renato Furtado).
3. Affonso Uchoa e João Dumans
Se a dupla de diretores já havia impressionado com A Vizinhança do Tigre, Arábia representou um passo além para Affonso Uchoa e João Dumans — montadores, cineastas, roteiristas e produtores também envolvidos em produções como Baronesa e A Cidade Onde Envelheço. Não só resgatando a figura do operário como protagonista na cinematografia nacional, os realizadores também encontram espaço para criar uma narrativa de múltiplas camadas, significados e potências, que os leva diretamente ao pódio de nossa lista. É bom ficar de olho no que estes dois irão preparão nos próximos anos; participando de diversos processos ao mesmo tempo, Uchoa e Dumans são os líderes deste ano do nosso cinema independente (RF).
2. Helena Ignez
A atriz, diretora, roteirista e produtora se tornou um símbolo importantíssimo da arte brasileira desde o início dos anos 1960, quando trabalhou com os maiores ícones do Cinema Novo e do Cinema Marginal. Ela nunca abandonou a defesa por uma forma de arte transgressora, e em 2018 apresentou um filme digno dessas ideias: A Moça do Calendário, homenagem radical aos marginais do século XXI, repleto de ideias e imagens libertárias. Além disso, Ignez estrela o belíssimo Antes do Fim, de Cristiano Burlan, refletindo junto a Jean-Claude Bernardet sobre a decadência e a morte dos ícones nacionais (BC).
A documentarista investiu num tema delicado – o impeachment de Dilma Rousseff – para criar um dos projetos políticos mais instigantes do ano: O Processo. Enveredando pelos corredores do Senado e acompanhando as reuniões da cúpula do PT, ela desvenda o mecanismo jurídico-legal que levou à destituição da presidenta. O resultado foi uma ovação: além de conquistar o terceiro lugar da mostra Panorama, no Festival de Berlim, o documentário venceu festivais na Suíça, Espanha e figura entre os pré-indicados ao Oscar. Além disso, levou mais de 60 mil espectadores aos cinemas brasileiros, um resultado que os documentários nacionais não atingiam há anos (BC).