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    Em busca de Robin Hood: Uma semana na Floresta de Sherwood à procura do Príncipe dos Ladrões

    O AdoroCinema foi até o Reino Unido para descobrir mais sobre o lendário herói, de volta às telonas em Robin Hood - A Origem.

    Oito anos após sua última aparição nas telonas, o Príncipe dos Ladrões retorna ao cinema em Robin Hood - A Origem, uma releitura mais sombria, ainda que cômica, e com mais ação do que as versões anteriores. Mas essa mudança de essência, que pode parecer um tanto quanto inesperada para alguns fãs, é na verdade mais do que natural para um personagem que rouba dos ricos para dar aos pobres. Afinal de contas, como o AdoroCinema descobriu, em uma jornada ao coração da Floresta de Sherwood, Robin Hood nem sempre foi o anti-herói que conhecemos.

    Nossa viagem para desbravar a região central da Inglaterra e a terra do lendário guerreiro teve início na sede da Floresta Nacional, onde foi sediada a primeira edição do festival florestal Timber. Foi lá que descobrimos não só que eventos do tipo — que reúnem pensadores de práticas sustentáveis e músicos prontos para fazer shows em clareiras no meio do mato — existem, como também aprendemos as técnicas de sobrevivência necessárias para suportar uma semana na floresta. Mas não se deixem enganar pela clássica animação da Disney: no tempo de Robin e cia., as coisas não eram nada fáceis.

    William Fallows

    Produzir seu próprio arco — e atirar com ele! Fazer fogo de maneira primitiva. Buscar sua própria comida na floresta. E dormir ao ar livre na Inglaterra, onde até as noites de intensão verão são geladas. Nada disso é simples ou romântico como o Robin Hood versão raposa nos faz acreditar. Então, se você sempre sonhou em acompanhar o aventureiro em muitas de suas missões contra os desmandos do xerife de Nottingham, este pode ser o momento certo para dar um passo atrás e repensar algumas decisões. E muito também porque Robin, em suas primeiras encarnações, não era esse simpático e generoso fora-da-lei.

    O personagem, cuja origem segue um mistério para os historiadores, fez sua estreia na cultura popular nos idos de 1377, no poema "The Vision of Piers Plowman". Na balada, já são trabalhadas algumas das características fundamentais de Robin, como sua extrema habilidade com o arco, mas também aparecem outros traços que o diferenciam bastante das versões mais recentes. Para além de não evitar matar seus inimigos, Robin era mais trapaceiro do que leal e muito mais criminoso do que enobrecido ladrão, como a trama de "Robin Hood and Guy of Gisborne" comprova.

    À noite, a Floresta de Sherwood, com seus predadores da madrugada, é puro breu, praticamente sugando qualquer fonte de luz: guiar-se pela iluminação das estrelas ou da Lua é coisa da ficção ou para aventureiros experientes. Para um jornalista acostumado com a cidade grande, por outro lado, aquele vasto e sombrio pedaço de mata é o palco perfeito para a supracitada narrativa, que traz um Robin à la Game of Thrones: verdadeiramente sanguinário, Robin persegue Guy de Gisborne e o mata com requintes de crueldade, decepando sua cabeça. Não satisfeito, o arqueiro/ladrão ainda desfigura a face do inimigo.

    Séculos seguidos de inúmeras mudanças sociais e políticas na Europa — um místico e exótico Velho Continente que ainda está presente nos castelos e igrejas medievais remanescentes nos arredores da vila de Edwinstowe ou na fotogênica ponte de pedras do Rio Dove, onde a sequência final do Robin Hood de Ridley Scott foi rodada — também alterariam a essência do arqueiro verde. Foi nos anos 1700 e 1800, por exemplo, com a ascensão do romantismo na literatura, que o personagem começou a ser transformado e a ser guiado em direção à sua figura atual, mais voluntariosa e defensora dos pobres e oprimidos.

    DJDunsie/Wikipedia

    Foi durante a revolução narrativa destes séculos, aliás, que Robin ganhou alguns de seus mais importantes coadjuvantes, como Marian e o Frei Tuck. Além disso, a trajetória do ladrão, que teria supostamente sido baseada nos atos de um certo Robert Hode, guerreiro que esteve a serviço do Rei Eduardo II, também sofreu mudanças temporais. Ao invés de atuar no início do século XIV sob as ordens do monarca supracitado, Robin foi "transferido" para o período pós-Cruzadas, onde se tornou um leal servo do Rei Ricardo Coração de Leão, que governou a Inglaterra por 10 anos, no final do século XII.

    De assassino impiedoso, Robin tornou-se um campeão do povo. Em uma balada de 1820, o personagem mata um cervo só para alimentar um camponês faminto. Lutando por justiça social e derrutando servidores corruptos da Coroa, o arqueiro virou o líder de um grupo de foras-da-lei que vivia alegremente na floresta, dentro de um gigantesco carvalho de 1300 anos — que existe de verdade no parque de Sherwood e cujo interior pode abrigar pelo menos 14 homens —, celebrando a vida em comunidade com bebidas, comidas e livre de todas as restrições sociais. O conceito foi prontamente apropriado pelos escritores românticos.

    VisitNottinghamshire

    É essa leitura galanteadora de Robin Hood que tomou conta do imaginário popular e que pode ser verdadeiramente encontrada na aconchegante, porém movimentada cidade de Nottingham, onde o historiador e ator Ade Andrews veste o traje do arqueiro para entreter os visitantes e transmitir a lenda para as futuras gerações. O intérprete canta, simula combates com espadas e leva seus turistas por um passeio pela história — inclusive pela jornada de Robin de Loxley, outra figura real que teria servido como fonte de inspiração para Robin Hood — e por locais icônicos do Reino Unido, como a taverna Ye Old Trip to Jerusalem, mais antigo pub local e último "pit-stop" dos cruzados antes da guerra.

    Mito ou verdade? A questão permanece até os dias de hoje quanto à origem de Robin Hood. Enquanto é certo que o lendário personagem e seus companheiros foram baseados em pessoas reais, estas se perderam na história. O arqueiro, no entanto, segue vivo, muito por causa de sua maleabilidade: como a nossa viagem ao coração da Inglaterra demonstrou, existem vestígios de Robin por todos os lugares — vestígios, na verdade, de muitas encarnações do personagem, modificado e moldado por inúmeros autores. E os seus constantes retornos às telonas também demonstram que existem poucos sinais de que Hood desaparecerá.

    VisitNottinghamshire

    Assim, como quer que tenha existido — e se é que existiu, de fato — Robin Hood é um produto lendário como qualquer resultado de outras mitologias: sua identidade é ao mesmo tempo construída através dos relatos e documentos do passado que sobrevivem ao teste do tempo e pela reinterpretação dos seus significados e origens.

    Estrelado por Taron Egerton e com Jamie Foxx, Jamie DornanEve HewsonBen Mendelsohn no elenco, Robin Hood - A Origem estreia nesta semana, no dia 29.

    O AdoroCinema viajou à Inglaterra a convite da Paris Filmes e do Visit Britain.

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