Além de dar espaço às diretoras mulheres desta geração com 44% de produções dentre os filmes selecionados, o Festival Mix Brasil 2018 também considera importante fazer uma revisita ao passado cinematográfico brasileiro. O filme Amor Maldito, de Adélia Sampaio, representa a relevância da presença feminina no cenário audiovisual e carrega muita força em sua narrativa, inédita e provocante para sua época.
Lançado no ano de 1984, Amor Maldito conta a história de Fernanda e Sueli, casal que passa por um romance intenso até este ser interrompido pelo suicídio de Sueli, que era reprimida por sua família religiosa. Após o triste acontecimento, Fernanda é posta diante de um julgamento no tribunal e é acusada de assassinato, cercada de ódio.
A maior força da obra de Adélia Sampaio (que na época teve de ser classificada como pornochanchada para passar em pouquíssimos cinemas que consideraram exibi-la) é o tom de preconceito e machismo presentes nas palavras de personagens caricatos e quadrados como os da família de Sueli e o advogado que tenta incriminar Fernanda através do sensacionalismo. Se por um lado décadas se passaram desde a estreia do longa, o que ainda permanece é o diálogo que a ficção traça com a intolerância, ainda enraizada na sociedade brasileira.
Mesmo que com atuações que soam exageradas, Amor Maldito pode ser considerado um filme à frente de seu tempo por entregar discussões pertinentes. Mesmo com a censura da época, a obra se sobressaiu por conta da temática que indica uma reflexão mais do que necessária: a forma como é abordado o romance entre duas mulheres de um modo sensível. Ao mesmo tempo, a análise profunda não só da relação como também da maneira que as duas mulheres eram vistas é feita com competência, mesclando passado e presente de uma vida perdida e de outra vida julgada.
Adélia Sampaio tomou as rédeas de um assunto marginalizado, adaptou uma história real e trágica que estampou as capas dos jornais da época e transformou todo este cenário em uma narrativa marcante e emocionante. Portanto, é notável e adequado retormar a presença de um longa como Amor Maldito nos cinemas, que só destaca a presença vanguardista de uma cineasta cujo pioneirismo pode ajudar abrir portas (ou pelo menos discussões) para mais presença feminina e negra na frente - e atrás - das câmeras.