Rogéria, que se auto-intitulava a "travesti da família brasileira", ganhou mais uma obra cinematográfica sobre sua trajetória pessoal e profissional – e desta vez ainda mais incisiva do que pode ser visto do ótimo documentário Divinas Divas, em que Leandra Leal conta a história da primeira geração de travestis no Brasil.
Dirigido por Pedro Gui, o documentário Rogéria - Senhor Astolfo Barroso Pinto integra a programação do 26º Festival Mix Brasil e é um dos grandes destaques do Panorama Brasil. Por mais que possua certo tom de homenagem, ele adentra bem na história de Rogéria, que nunca mudou seu nome de nascimento a fim de manter sua identidade masculina em conversa com seu lado feminino.
Com depoimentos de Betty Faria, Rita Cadillac, Jô Soares, Aguinaldo Silva e outros, Rogéria - Senhor Astolfo Barroso Pinto intercala fragmentos ficcionais feitos com atores em diferentes fases da vida para nos apresentar um pouco do passado de Rogéria, inclusive como Astolfo na infância. O carinho com que o diretor trabalha nas cenas dramatizadas, muitas delas com músicas interpretadas pela artista, é evidente.
A importância de Rogéria no cenário da televisão, do teatro e da música também são bem aprofundados graças aos depoimentos dos artistas já citados. Betty Faria é uma das atrizes que relembra os tempos em que Rogéria, antes de se tornar destaque nos palcos, fazia parte do time de maquiadores profissionais da extinta TV Rio. Rita Cadillac, por sua vez, afirma que levou muito dos aprendizados que teve com Rogéria para sua vida profissional. "Eu acho que fui uma boa aluna", diz em uma das cenas do documentário.
Se não se aprofunda tanto nos percalços passados ao longo de sua intensa e longa trajetória, ao menos Rogéria - Senhor Astolfo Barroso Pinto apresenta muito bem as marcas que a artista deixou no mundo afora e, principalmente, aqui no Brasil. Uma obra que vale ser vista e uma figura que deve ser lembrada.