Uma garota descobre que seu vídeo íntimo foi vazado na Internet. Em pouco tempo, ela começa a ser xingada e perseguida na escola. Sem poder contar à família, sofre sozinha e pensa em suicídio. Esta poderia ser a história inteira de Luna, mas no drama do diretor Cris Azzi, trata-se apenas do começo.
O filme, apresentado na competição oficial do 51º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, imagina como uma mulher pode se reerguer após um caso semelhante, sem ter vergonha de seu corpo nem de suas atitudes. Com direção segura e uma atuação excepcional da estreante Eduarda Fernandes, o projeto foi muito bem recebido pela plateia do Cine Brasília, e desponta como forte candidato aos prêmios de melhor atriz, atriz coadjuvante e outros como roteiro e fotografia.
Leia a nossa crítica.
A mostra competitiva também trouxe o curta-metragem Mesmo com Tanta Agonia, de Alice Andrade Drummond. Adotando um tom ultra realista, a cineasta aposta em cortes rápidos e diálogos bem ritmados para retratar a rotina de uma mãe (a ótima Maria Leite) que precisa equilibrar o trabalho, o longo trajeto no transporte público e a festa de aniversário da filha pequena.
O roteiro trata estas atividades como um peso corriqueiro ao qual à personagem está acostumada. Esta trabalhadora não reclama, nem prevê perspectivas de melhora. Um longo close-up no rosto da atriz, iluminado pelas luzes multicoloridas da cidade, se revela uma escolha particularmente potente para transmitir a resistência silenciosa.
Enquanto isso, a abertura da Mostra Brasília trouxe os primeiros filmes. Marés, de João Paulo Procópio, efetua uma bela leitura da vida de um fotógrafo que luta contra o alcoolismo. Lourinelson Vladmir interpreta o personagem nesta jornada longe dos clichês típicos do abuso de álcool. O resultado é uma obra singela e madura em sua representação dos gêneros e dos conflitos da vida adulta. Este teria sido um ótimo representante brasiliense na mostra competitiva.
Leia a nossa crítica.
Os curtas-metragens da Mostra Brasília, no entanto, foram um pouco mais problemáticos, especialmente Para Minha Gata Mieze, de Wesley Gondim. O filme se inicia com um retrato realista da homofobia sofrida pelo dono de uma pet shop (o excelente João Campos). Aos poucos, a sedução entre o pequeno empresário e um cliente se transforma em suspense, e o roteiro opta por fornecer uma vingança sangrenta do protagonista contra os homofóbicos.
Em tempos agressivos, retratar a luta contra o preconceito através da tortura e da violência se revela uma decisão irresponsável e contraproducente. Isso sem falar na dificuldade em trabalhar com elipses traduzida em estranhos cortes bruscos. Um gênero interessante como o terror gore não pode se isentar de uma responsabilidade social, especialmente diante de temas importantes como a resistência das minorias.
Enquanto isso, O Homem Banco, de Cícero Fraga, fornece uma metáfora para um homem considerado estável e confiável por sua esposa, embora na verdade seja conformado com uma vida tediosa e explorado pelos demais. A intenção é trabalhar com pesquisas de movimento dentro de um estúdio branco, com aparência publicitária. A dança em si oferece momentos interessantes, embora o uso literal demais dos bancos diminua a sua força. Mesmo assim, as cenas num gramado indicam uma louvável ambição imagética.
O dia 17 também trouxe a abertura da Mostra Caleidoscópio, que privilegia filmes de forma ousada. A primeira obra exibida foi O Pequeno Mal, de Lucas Camargo de Barros e Nicolas Thomé Zetune. Os cineastas imaginam o relacionamento entre dois bons amigos, oprimidos pela solidão e caos da cidade, além de ficarem estranhamente atraídos pela figura de uma cratera aberta nas ruas de São Paulo devido a uma falha na construção do metrô.
O projeto tem ótima ambientação e boas metáforas imagéticas, além de lidar de modo complexo com o desejo sexual e com a morte. Mesmo assim, acaba abrindo caminhos demais, sem integrá-los de modo satisfatório à narrativa.
Leia a nossa crítica.
No dia 18 de setembro, a mostra competitiva exibe o longa-metragem Bloqueio, de Victória Alvares e Quentin Delaroche, e o curta-metragem Conte Isso Àqueles que Dizem que Fomos Derrotados, de Aiano Bemfica, Camila Bastos, Cristiano Araújo e Pedro Maia de Brito.