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    "Hotel Artemis mistura conto de fadas com um filme de Michael Mann", explica o diretor Drew Pearce (Exclusivo)

    A história estrelada por Jodie Foster está em cartaz nos cinemas.

    Quando criminosos se machucam em alguma ação, eles não podem ir ao hospital comum, mas têm um destino especial: o Hotel Artemis. O local, situado dentro de um edifício decadente, acolhe a mais alta tecnologia, e se esforça para curar qualquer um, em pleno sigilo. Existem algumas regras, é claro: a primeira delas é não matar outros hóspedes.

    O local é gerenciado pela Enfermeira (Jodie Foster), uma mulher idosa que cuida do Artemis a mão de ferro, há décadas. Quando Los Angeles vira o palco de violentas revoltas nas ruas, devido à escassez de água, o Artemis fica lotado com hóspedes do calibre de Sterling K. BrownSofia Boutella e Charlie Day. Um dia, o mafioso mais poderoso do local (Jeff Goldblum) chega ao estabelecimento, criando novas tensões e revelando segredos.

    O AdoroCinema conversou com o diretor Drew Pearce, que dirige o seu primeiro longa-metragem após trabalhar no roteiro de grandes produções como Homem de Ferro 3 (2013), Godzilla (2014) e Missão Impossível - Nação Secreta (2015):

    O hotel/hospital é um personagem à parte. Como criou este espaço?

    Drew Pearce: Na verdade, a primeira coisa que desenvolvi foi a história e os personagens. Eu queria retratar várias pessoas presas num lugar claustrofóbico. Por isso, o hotel precisava passar a impressão de uma jaula, uma mistura de algo confortável e pouco acolhedor, onde elas seriam obrigadas a conviver.

    Além disso, coloquei neste espaço todo o meu amor por Los Angeles, que está presente na decoração e na ambientação de modo geral. Queria que isso fosse orgânico, porque Los Angeles não é uma cidade antiga como são as capitais europeias, por exemplo. Buscamos um prédio dos anos 1920, de qualidade europeia, numa cidade norte-americana. A cidade do filme não é um local tradicional, ele se parece com um universo deslocado. Mas existe uma grande atenção aos detalhes.

    Gosto do fato de que, na Europa, uma igreja não é apenas uma igreja, é uma obra de arte, uma herança arquitetônica. Ao mesmo tempo, em Los Angeles, mesmo os bairros mais feios têm portas muito estilosas. A ideia foi combinar dois mundos distintos.

    Você encontrou uma maneira estilosa de filmar, com a câmera sempre deslizando entre os cômodos, passando por todos os personagens.

    Drew Pearce: Como este é o meu primeiro filme, eu queria fazer algo que pudesse se destacar. Era preciso mostrar que cada personagem vinha de um mundo específico, mas eram forçados a permanecer lado a lado. Por isso, eu queria criar um glamour marginal, algo luxuoso e decadente ao mesmo tempo. A minha principal referência foram os filmes sul-coreanos, pela maneira ágil de filmar.

    Adoro o trabalho de Park Chan-Wook, sempre fui muito influenciado por ele. Por isso, trabalhei com Chung Chung-hoon, o diretor de fotografia dele, para captar um pouco deste estilo. Mas no fundo, sei que o resultado tem uma atmosfera meio romântica em relação ao espaço. Hotel Artemis é tanto um conto de fadas quanto um filme de Michael Mann.

    Hotel Artemis mistura diversos gêneros: ação, ficção científica, suspense, comédia... Como você o define?

    Drew Pearce: É engraçado como vivemos num mundo em que todas as coisas precisam ser colocadas em categorias. Seu eu tivesse que definir, precisaria de algum algoritmo da Netflix ou algo do gênero, para saber em qual rótulo ele se encaixa. Mas não gosto de fazer isso. Conforme o tempo passa, mais penso que os melhores filmes não se encaixam em categorias. O que é Casablanca? Um filme histórico? Um romance? Um filme de guerra? Um blockbuster, já que estamos nos Estados Unidos?

    Você pode até definir Hotel Artemis, mas eu apenas fiz algo que gostaria de ver nos cinemas. Algo divertido, estiloso, que dialogasse com as pessoas. Talvez algumas pessoas se lembrem do filme pela mistura de gêneros. Outros devem gostar das surpresas na história - é disso que eu gosto mais. Eu queria ser ambicioso mesmo. Se eu tiver sorte, vou conseguir ser um diretor de filmes comerciais também, e eu sempre quis que Hotel Artemis também funcionasse com um público comercial, mas espero que tenha feito algo único, inclassificável.

    Por que escolheu Jodie Foster para o papel de uma mulher muito mais velha do que ela?

    Drew Pearce: Assim que Jodie soube do projeto, foi ela que veio até mim e se ofereceu para interpretar a Enfermeira. Eu ainda não tinha escalado ninguém, não tinha feito nenhum teste de elenco. Eu apenas disse: "Claro, vamos com Jodie Foster!". Quem não iria, certo? Por causa da presença dela, foi muito mais fácil conseguir outros atores excelentes do elenco. O nome dela abriu portas. Quando conversei com ela, percebi que ela entendia completamente a personagem. Além isso, posso dizer que este é um dos melhores papéis de toda a carreira dela. É muito melhor ter a Jodie interpretando alguém mais velha do que fazer algo estranho, cheio de efeitos especiais.

    Você tem um elenco de grande diversidade étnica, com Sterling K. Brown, Sofia Boutella, Kenneth Choi... Era importante representar toda a sociedade dentro do Artemis?

    Drew Pearce: Isso aconteceu de modo orgânico. A história se passa em Los Angeles, que é uma das cidades mais etnicamente diversificadas do país, então o filme precisava se adequar a esta realidade. Se eu tivesse apenas pessoas brancas, ou apenas gente fina e elegante, o material seria uma mentira. O mundo inteiro está neste local, então isto precisava estar no filme também.

    Além disso, a ficção científica sempre reflete uma época específica. O roteiro mudou muito desde que eu o imaginei pela primeira vez, porque a sociedade também se transformou demais. Hoje, é engraçado perceber que a distopia de Hotel Artemis está muito mais próxima de algo que eu poderia ver da minha janela. A ideia da rebelião nas ruas se aproxima de algo possível, algo que poderia acontecer nos Estados Unidos semana que vem, por exemplo.

    Era importante que seu primeiro filme viesse de uma ideia original sua, depois de ter escrito o roteiro de franquias grandes como Missão Impossível - Nação Secreta ou Godzilla?

    Drew Pearce: Acho que sim. Para mim, só faz sentido eu dirigir se encontrar algum material com que eu realmente me identifique. Mas eu não escrevi pensando em se tornar a minha primeira experiência na direção. O caminho foi o oposto: eu escrevi e gostei tanto da trama que tive vontade de dirigir.

    Sobre o fato de ser uma história original, sei que hoje em dia parece impossível fazer algo que não seja baseado numa marca, um livro, um filme prévio. Mas é a nossa responsabilidade, como contadores de histórias: continuar tentando. É esse o interesse de trabalhar nesse ramo. Para um filme chegar nos cinemas hoje, ele precisa ter uma grande razão comercial de existir, mas acredito ser igualmente importante tomar riscos, explorar coisas novas. 

    Eu gosto de me aventurar nos terrenos já criados por outras pessoas. Todas as experiências com blockbusters foram muito boas. Mas a tradição diz que novas histórias precisam ser contadas sempre. Este é o nosso dever.

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