Com a vitória de Roma e a entrega do Leão de Ouro 2018 ao realizador mexicano Alfonso Cuarón, o Festival de Veneza reforçou ainda mais seu posicionamento favorável à Netflix, reconhecendo o serviço de streaming como um player importante do universo cinematográfico. Mas no contexto atual, defender a companhia californiana significa, necessariamente, escolher um lado em uma dura guerra travada pelos distribuidores tradicionais contra as plataformas de streaming - e a primeira conquista máxima da empresa na mostra dirigida por Alberto Barbera colocou ainda mais lenha na fogueira.
Em comunicado oficial conjunto, as instituições italianas ANAC (Associação Nacional de Autores Cinematográficos), FICE (Federação Italiana de Cinema de Ensaio) e ACEC (Associação Italiana de Cinema) repudiaram a premiação de Roma, ainda que tenham manifestado respeito à decisão do júri presidido por Guillermo del Toro (A Forma da Água): "O Leão de Ouro, símbolo da Mostra Internacional de Arte Cinematográfica de Veneza, financiada desde sempre com recursos públicos, é um patrimônio dos espectadores italianos: o ganhador deveria estar acessível a todos, nas salas de cinema próximas, e não exclusivamente para os assinantes da plataforma estadunidense" (via Leggo).
Caso a Netflix siga sua estratégia de distribuição padrão, voltada exclusivamente para o streaming, Roma, épico dramático autobiográfico de Cuarón que explora a conturbada década de 1970 no México, não deve ser lançado nas telonas ao redor do mundo - a companhia deve, no entanto, abrir uma exceção para as salas de cinema norte-americanas com o objetivo de tornar o premiado longa elegível para o Oscar. É este descompasso escancarado pela presença massiva dos filmes da Netflix em Veneza, criticada anteriormente pelos distribuidores italianos, que levou as associações supracitadas a declararem o Leão de Ouro como um "veículo de marketing da Netflix".
As instituições encerram a nota conjunta com um pedido para que Barbera e o Festival de Veneza revejam sua postura perante a Netflix para o ano que vem; o diretor artístico da mostra, no entanto, não parece disposto a ceder às pressões, uma vez que o mesmo acredita que o futuro do cinema reside nas iniciativas de empresas produtoras como a Netflix, o Hulu e o Amazon Prime. O novo capítulo da longa novela, que varreu a última edição do Festival de Cannes, reforça que a controvérsia não tem data para acabar.
Roma ainda não tem previsão de estreia no Brasil.