A 25ª edição do Festival de Vitória está quase chegando ao fim! Mesmo que nenhuma homenagem tenha sido feita na 5ª noite de sessões, os curtas apresentados em competição mantiveram o alto nível de temáticas e abordagens. Inclusive, eles fecharam a mostra com chave de ouro e chegaram a brilhar mais que o único longa exibido logo em seguida.
Apenas o que você precisa saber sobre mim, de Maria Augusta V. Nunes, aborda a questão da identidade na adolescência com uma sensibilidade admirável. Laura e Fábio se conhecem em uma pista de skate, local majoritariamente preenchido por meninos, e cultivam uma amizade. Quando a relação aparenta evoluir para o lado mais afetivo, Laura some. O fato de Laura ser transsexual fica implícito desde o começo e a atuação de Alice Doro entrega emoção, constrangimento, medo e coragem... Tudo ao mesmo tempo. Quando Laura e Fábio enfim se reencontram, é como se pudéssemos ouvir o que eles têm a falar um para o outro. Nada é dito, mas tudo fica no ar.
Da curva pra cá, de João Oliveira, é um curta claustrofóbico que se passa nos arredores de uma favela. O pesadelo de um jovem pode, na verdade, ser realidade: ele acorda de madrugada e absolutamente todas as pessoas que moram ali sumiram. Apesar de gerar sensações desconfortáveis, a obra é bem estruturada e instiga do início ao fim.
Vaca Profana, dirigido por René Guerra e com roteiro de Gabriela Amaral Almeida, é sem dúvidas um dos melhores curtas exibidos no Festival. Bem montado, atuado e ambientado, ele traz atuações profundamente comoventes de Roberta Gretchen Coppola e Maeve Jinkings. A dupla atinge um forte nível de sintonia ao interpretarem mulheres encarando a maternidade – a primeira, travesti, quer adotar a filha da segunda, que ama a criança mas sabe que não conseguirá cuidar da melhor maneira.
O roteiro mostra que o "ser mãe" é uma luta para algumas mulheres; especialmente para aquelas que são obrigadas a se despir da feminilidade para a lei permitir que assinem papéis com seus antigos nomes. Tal situação acontece em Vaca Profana e sua conclusão é tão libertadora quanto dolorosa.
Um pouco mais leve que os demais mas ainda tecendo críticas ao preconceito com bailes funk, Esperando o sábado, de Erika Sansil, se passa durante uma única noite na vida de três mulheres. Antes de começarem a se arrumar para a aguardada festa semanal, elas lêem comentários violentos na internet. "É uma pena que apenas uma pessoa morreu nesse acidente de baile funk" é um deles. Mas o trio se arruma, procura pela diversão e a encontra no meio da multidão que divide o mesmo estilo de vida.
O penúltimo longa-metragem exibido para a mostra competitiva foi A Cidade dos Piratas, dirigido por Otto Guerra e que também passou pelo Festival de Gramado 2018. Inspirado livremente na tira de quadrinhos “Os Piratas do Tietê”, da cartunista Laerte, o filme é especial para o diretor em dois aspectos: foram necessários 20 anos para finalizá-lo e sua estreia em festivais marca o fim de um problema pessoal, já que foi curado recentemente de um câncer.
Segundo a crítica de Taiani Mendes, "(...) a tecnicamente impecável e quase insana animação é difícil até de resumir em sinopse. Inicialmente trata-se de uma produção estrelada pelos personagens dos quadrinhos Piratas do Tietê, mas a afirmação da transgeneridade da cartunista entra em cena, e logo depois também o próprio diretor Otto Guerra, confuso com o gênero da amiga, o gênero do filme, abatido por problemas de saúde e de desenvolvimento do projeto. É muito para assimilar e o ritmo não para". Leia a crítica completa.