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    CineBH 2018: Noite de abertura aponta para as veias abertas do cinema contemporâneo da América Latina

    Hedonismo anarquista e político da comédia experimental brasileira Sol Alegria marcou a primeira sessão do festival mineiro.

    Divulgação

    "Sou América Latina, um povo sem pernas, mas que caminha." O clássico verso presente no refrão da canção "Latinoamérica", do grupo de rap porto-riquenho Calle 13, assumiu o caráter de grito de guerra na primeira noite da CineBH - Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte neste ano. A abertura do festival mineiro aconteceu na noite de terça-feira (28) no Cine Theatro Brasil Vallourec, no Centro da capital de Minas Gerais, com performances e apresentações musicais que evocam a temática central da edição deste ano do evento, definida pelos curadores como “Pontes Latino-Americanas”.

    Em um vídeo apresentado ao público, ficou claro que a curadoria pretende apresentar produções contemporâneas e clássicas que ajudam a entender o cenário audiovisual da América Latina nos últimos anos. O material fez o público se questionar sobre as características culturais, históricas e econômicas que aproximam as antigas colônias dos países da Península Ibérica nas Américas e como isso impacta a maneira como se faz cinema na região.

    Após a apresentação do eixo temático deste ano, que contou com uma versão do tango moderno “Diferente”, do grupo argentino Gotan Project, a organização do festival entregou o Troféu Horizonte para a homenageada desta edição da CineBH, a produtora El Pampero Cine. A homenagem à companhia argentina foi realizada pelos curadores para celebrar o trabalho de mais de uma década e meia de uma produtora do continente que ajuda a amadurecer as discussões sobre processos e práticas no feitio cinematográfico latino-americano independente.

    A argentina Laura Citarella, uma das sócias da El Pampero Cine, foi quem recebeu o prêmio. Ao tomar a palavra, Citarella, disse que teria que falar em espanhol por ainda não ser fluente em português, mas se negou a falar em inglês por ser "absurdo" usar a língua anglófona para falar com vizinhos de continente. "A equação na El Pampero Cine é a ideal: faço filmes com os meus amigos e depois os exibo. Isso é parte de um ritual muito lindo enquanto estilo de vida. El Pampero Cine é mas do que uma produtora, é um estilo de vida. Eu agradeço por isso ser premiado já que hoje em dia não se valoriza isso", disse Laura em seu discurso.

    Uma das principais características da produtora é o fato dos cineastas trabalharem com orçamentos reduzidos e não usarem dinheiro de editais públicos em suas produções. Um dos principais trabalhos do estúdio, o colossal La Flor, de Mariano Llinás, é um dos destaques da programação da CineBH deste ano. O filme tem mais de 14 horas de duração e será dividido em três partes apresentadas em dias diferentes no festival.

    Sol Alegria, comédia anárquica nacional exibida no Festival de Roterdã, no Olhar de Cinema e no Cine Ceará, foi o filme de abertura da CineBH, que chega a sua 12ª edição em 2018. O longa-metragem foi apresentado ao público pelos diretores Tavinho Teixeira e Mariah Teixeira, pai e filha que repetem a dinâmica familiar em cena como atores. Ao falar sobre o longa-metragem, Tavinho afirmou que o libertário filme que evoca a subversão do cinema marginal é um libelo contra o conservadorismo que avança a passos largos na sociedade brasileira. "A gente está vivendo em um estado de guerra mesmo e a gente não se dá conta disso. A situação tá pesada e a gente precisa de filmes que façam com que a gente produza a alegria. Eu espero que esse filme consiga produzir um pouquinho de alegria em vocês”, disse.

    Ney Matogrosso, que cantou sobre seu “sangue latino” com os Secos & Molhados, faz uma participação em Sol Alegria e esteve presente na sessão de abertura no CineBH. Ao tomar a palavra, o ícone da MPB se limitou a dizer que estava feliz pela ocasião e deixou para falar em uma roda de conversa com o público que será realizada na tarde de quarta-feira (29) no Palácio das Artes, também no Centro de Belo Horizonte.

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    Sol Alegria resgata a tradição rebelde da fase setentista de cineastas como Rogério SganzerlaAndrea Tonacci para propor um comentário ácido sobre as possibilidades de uma revolução comportamental no Brasil de 2018. A trama se apresenta como uma uma divertida e impudorosa resposta ao moralismo e imagina um país distópico controlado por pastores corruptos que querem eliminar os pecadores enquanto o Apocalipse não chega. Neste contexto, uma família pega em armas em uma trama que envolve uma falange de freiras lésbicas que plantam maconha em um convento liberal, irmãos incestuosos e a antropofagia cultural uma trupe mambembe.

    Com uma meticulosa fotografia amparada por uma iluminação de set sofisticada, Sol Alegria é muito mais do que um filme surreal. A trama exalta a dimensão política do prazer como uma estandarte da liberdade em tempos repressivos e pauta discussões séries em uma narrativa tresloucada e intensa.

    Críticas do AdoroCinema dos filmes presentes na programação da CineBH

    Sol Alegria: "Caravana radicalizaray", por Taiani Mendes

    Baixo Centro: "A alma encantadora e perigosa das ruas", por Taiani Mendes

    Espera: "O coletivo de tempo", por Bruno Carmelo

    Jonas e o Circo Sem Lona: "O menino e o mundo", por Bruno Carmelo

    Intolerância.doc: "Casos de violência", por Bruno Carmelo

    Ferrugem: "Um vilão de nosso tempo", por Taiani Mendes

    Benzinho: "Formatura de mãe", por Taiani Mendes

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