Entrando em sua reta final, a 46ª edição do Festival de Gramado recebeu na noite de quinta-feira Daniel de Oliveira e Osmar Prado apresentando a primeira sessão pública de 10 Segundos para Vencer, baseado na gloriosa carreira do boxeador Eder Jofre. Além dele foram exibidos outros três filmes: os curtas À Tona e Kario e o longa estrangeiro Violeta al Fin.
Dirigido por Daniella Cronemberger a partir de roteiro construído com base em relatos de violência doméstica e abuso sexual, À Tona agrega narração em primeira pessoa sobre um relacionamento abusivo e imagens da vítima entre a prostração pelo medo e a movimentação em busca de outra vida. A dor, a luta, a ação e a libertação dessa mulher compõem a obra, que não precisa recorrer à ilustração das agressões para passar sua mensagem.
Primeiro longa da noite, o costa-riquenho Violeta al Fin é um estudo da personagem que luta contra as amarras do que a sociedade crê que deva ser a rotina de uma idosa. Interpretada por uma enérgica Eugenia Chaverri, Violeta batalha durante os 85 minutos de duração do filme por sua independência, firme no discurso de que ainda tem muita "lenha para queimar".
A resistência a deixar sua casa, tema recorrente entre os títulos selecionados para o festival deste ano, aqui não tem a ver com acomodação, medo do novo, apego ou posicionamento político. Violeta quer manter sua propriedade para transformá-la, receber pessoas, manter a cidade respirando através de seu enorme jardim. Recém-divorciada, insistente na pressão ao padre para acatar as últimas resoluções do Papa Francisco, incansável e dedicada a expandir sua capacidade respiratória, ela é um grito da mulher da terceira idade contra velhos padrões e entrega à finitude. Bastante dependente da energia da protagonista, o leve longa de Hilda Hidalgo vai murchando conforme Violeta desanima e não alcança potência em termos dramáticos, mas oferece um bom ponto de vista alternativo dessa fase tão desprezada da existência humana.
De Fabio Rodrigo, Kairo tem como protagonista o menino homônimo (interpretado por Pedro Guilherme), prestes a receber uma terrível notícia. Com elenco predominantemente negro, o compacto filme produzido em São Paulo é um passeio conduzido pelo reconhecimento e assombrado por uma tragédia que demora a ser explicada. Se encerra bruscamente - o que deixa um desejo de querer passar mais tempo com aqueles personagens, mas por outro lado representa bem a ceifação ocorrida na vida do menino - e dá um nó na garganta que é duplicado pela lembrança de Marielle Franco.
Acabou em jab a noite, com a grande estreia de 10 Segundo para Vencer. Dirigido por José Alvarenga Jr., o drama narra a trajetória vencedora do boxeador Eder Jofre (Daniel de Oliveira) a partir de seu relacionamento com o pai - e treinador - Kid (Osmar Prado). Fazendo uso de imagens em preto e branco, cenas de arquivo e caprichada direção de arte, o longa aposta numa narrativa clássica para unir dois assuntos nada raros na sétima arte: conexão pai e filho, e boxe.
A docilidade infantil de Eder, a construção da típica família paulistana unida em torno de uma obsessão e principalmente a performance extraordinária de Prado como o mentor duríssimo, no entanto, impedem que a cinebiografia seja apenas mais do mesmo, garantindo sua entrada no seleto hall de bons filmes nacionais sobre esporte, ainda que seja primordialmente sobre sacrifícios em nome de entes queridos.