O 29º Festival Internacional de Curtas de São Paulo acaba de começar. Com extensa programação gratuita, a mostra reúne curtas-metragens de 53 países distribuídos por diversas salas de cinema da cidade. A variedade é enorme: desde o sensível stop-motion franco-brasileiro Guaxuma até a comédia dramática O Órfão, filme da brasileira Carolina Markowicz que venceu o Queer Palm Prize este ano em Cannes.
Com o tema de "Em Busca do Tempo de Agora", este ano o evento busca refletir sobre problemas atuais como a situação dos refugiados, questões de gênero e a presença dos negros na tela. "Estes assuntos estão muito presentes na produção deste ano no Brasil e no mundo. O formato tem se tornado cada vez menos importante. Agora não é como eu vou filmar, mas o que eu quero filmar", explica Zita Carvalhosa, diretora do festival.
Na cerimônia que reuniu realizadores, imprensa e personalidades do meio na última quarta (22), a necessidade urgente de valorização do audiovisual e das artes no Brasil deu o tom dos discursos: "Se queremos um país mais igualitário, precisamos dar atenção aos valores humanos", disse o Prof. Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc. Romildo Campello, secretário de cultura do estado de São Paulo corroborou: "A cultura é fundamental para reconstruir o tecido humano".
Entre os 323 filmes a serem exibidos na seleção de 2018, seis foram escolhidos para a noite de abertura e ilustram bem a variedade da programação. Além dos já citados Guaxuma e O Órfão, o público pôde conferir na tela grande a animação suíça A Batalha de S. Romano, o manifesto de negritude Renascimento é Preciso, a comédia francesa Artem Silendi e o supreendente chileno Rapina.
A seleção demonstrou também a adesão de realizadores aos formatos originados nas novas mídias: enquanto O Órfão tem proporção quadrada, Rapina aposta no formato vertical. "O curta-metragem é um lugar de risco, de experimentação. Ele tem a liberdade de se realizar sem os entraves econômicos das grandes produções", comentou Carvalhosa.
Ainda na entrevista, o AdoroCinema perguntou sobre a nova política de pontuação da Ancine, que acaba privilegiando realizadores que tiveram mais sucesso de bilheteria e não leva em conta a produção de curtas. Segundo Zita Carvalhosa, a situação é no mínimo complicada: "Não podemos nem cogitar essa ideia dos curtas não contarem na carreira de um diretor. Ele ter experimentado, circulado por festivais, premiado e ainda ser considerado sem experiência é uma coisa inadmissível. O curta não é uma obra que a pessoa faz antes de ficar boa".
O 29º Festival Internacional de Curtas de São Paulo acontece até o dia 2 de setembro com sessões diárias totalmente gratuitas além de mostras especiais, workshops e debates. Confira a programação completa no site oficial do evento.