Os anos 80 certamente representaram o auge da carreira de Kathleen Turner, mais conhecida pelo público jovem por ter vivido o pai de Chandler (Matthew Perry) na série Friends - cujo elenco não recebeu muito bem a atriz, na verdade. Além de ter sido indicada a um Oscar por Peggy Sue - Seu Passado a Espera, Turner também entregou uma performance icônica em Corpos Ardentes. Mas de acordo com a atriz, sua carreira não foi feita só de triunfos - na mesma década, ela também sofreu bastante com assédios sexuais:
"Você tem que se lembrar que meu primeiro grande trabalho foi em Corpos Ardentes [suspense erótico de Lawrence Kasdan], e depois desse filme virei um alvo sexual. Soube mais tarde, pelo próprio Michael Douglas, que havia uma competição entre ele, Jack Nicholson e Warren Beatty para ver quem transaria comigo primeiro. Nenhum deles conseguiu, a propósito", revelou Turner, em entrevista exclusiva à Vulture, ocasião em que aproveitou para denunciar a tóxica cultura de assédios e abusos que sempre fez parte de Hollywood.
"Não gosto que pensem em mim como um troféu [...] Havia uma suposição tácita de que as mulheres eram propriedades a serem reinvindicadas. Em outra ocasião, estava em um jantar e havia uma cadeira vazia próxima a Jack. Sentei com ele e nos divertimos muito. Depois de um tempo — porque precisava gravar no dia seguinte —, disse que precisava voltar ao Chateau Marmont. Quando cheguei lá, o telefone tocou. Era Jack: 'Como você pôde fazer isso comigo?'. 'Fazer o que?'. 'Você era minha acompanhante e você foi embora'. ' E eu disse: 'Eu era sua acompanhante? Ninguém me informou sobre isso'. Suposições como essa são o motivo pelo qual nunca vivi em Los Angeles. Sempre que vou para lá me sinto insegura", declarou a atriz.
De fato, não é novidade para ninguém que o machismo e o sexismo estão enraizados na indústria cinematográfica dos Estados Unidos - e, infelizmente, em muitas outras esferas da sociedade -, mas até o ano passado, os figurões de Hollywood eram protegidos. Tudo mudou, no entanto, com a revelação das décadas de abusos sexuais cometidos pelo ex-produtor Harvey Weinstein, epicentro de um imenso escândalo de assédios que abalou a indústria e acabou por derrubar a carreira de inúmeros predadores sexuais. As vítimas destes crimes, majoritariamente mulheres, uniram-se através do potente movimento #MeToo, que luta pelo fim do lado mais sórdido de Hollywood.