"Seu eu precisasse classificar, diria que é um filme anarquista", explicou a diretora Mariah Teixeira após a apresentação de Sol Alegria no 28º Cine Ceará - Festival Ibero-Americano de Cinema, em Fortaleza.
O termo é bem escolhido: a paródia corrosiva criada por Mariah e pelo pai Tavinho Teixeira satiriza as instituições religiosas, os políticos corruptos, o abuso de poder de policiais e militares, a perseguição aos artistas e muitos outros temas, numa obra que se passa em 2018, embora resgate uma atmosfera de anos 1970. Vale tudo, ou quase: freiras guerrilheiras plantadoras de maconha, sexo explícito, escatologia, efeitos especiais voluntariamente amadores e uma participação afetiva de Ney Matogrosso.
Sol Alegria deve chocar os espectadores mais tradicionais e confortar o público libertário. Feito aos moldes contemporâneos, ele encontra no corpo o principal campo de batalha política. Por isso, a liberdade sexual e de gênero se torna fundamental. "Meu cu é mais poderoso que mil fuzis", afirma a certa altura uma personagem interpretada pela própria diretora.
"Quando pensamos nele, ele era um filme distópico. Mas agora não é mais distópico, porque fala do Brasil de hoje". Mariah foi incisiva ao demonstrar pessimismo com os rumos do país, temendo a eleição do ultraconservador Jair Bolsonaro devido à desunião dos representantes da esquerda.
No entanto, o seu principal discurso diz respeito à criação uma obra coletiva, na qual as diferentes funções não implicam a criação de níveis hierárquicos. Ela afirma que a tomada de decisões em conjunto se revelou trabalhosa, porém constituiu um princípio defendido por toda a equipe.
Assim como os clássicos anarquistas Bang Bang e Copacabana Mon Amour e outros respondiam aos tempos sombrios do governo militar, o divertido Sol Alegria busca trazer uma resposta utópica aos tempos repressivos de hoje. Os diretores Tavinho e Mariah sonham com um novo cinema marginal, uma forma de produção audiovisual em que a ruptura estética representa o desejo de uma ruptura política e social.