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    Arte e erotismo: Dieter Berner fala sobre a cinebiografia Egon Schiele - Morte e a Donzela (Exclusivo)

    A história de um dos maiores artistas da Áustria.

    Egon Schiele é conhecido mundialmente como um dos maiores pintores da Áustria. No entanto, ao invés de se focar em suas obras, a cinebiografia Morte e a Donzela, em cartaz nos cinemas, busca compreender a personalidade do artista por trás dos quadros provocadores e eróticos.

    No filme, Egon Schiele (Noah Saavedra) é visto como um homem polêmico, que se relacionou com várias de suas musas e chegou a ser julgado por pedofilia - acusação de que foi inocentado. 

    Em conversa com o AdoroCinema, o diretor Dieter Berner explicou os desafios de retratar uma vida real, as controvérsias por trás do caráter sexual das obras e a curiosa escolha de um ator iniciante para o papel principal:

    Você diria que a vida amorosa de Egon Schiele constitui o foco do filme?

    Dieter Berner: Não, de modo algum. O foco é a conexão entre os relacionamentos e a arte. Nós pegamos uma pintura dele, “A Morte e a Donzela”, contamos um pouco da história dessa pintura e o contexto que o levou a pintá-la, ou seja, o começo de toda a situação. Li um livro chamado “Egon Schiele: A Morte e a Donzela”, cuja intenção era examinar Egon Schiele pelos olhos de cinco mulheres, cinco modelos dele, revelando diferentes versões do artista. Fiquei muito impressionado com essa estrutura, e tentamos fazer o filme da mesma maneira.

    Mas descobrimos que isso não funcionava tão bem no roteiro, então preferimos deixar as histórias decidirem por si próprias quais conseguiriam alcançar a história de um homem que não está apenas doente, mas também apaixonado por todas essas mulheres. O pai tinha sífilis e morreu em decorrência da doença quando o Egon tinha quinze anos. Ele ficou devastado, e aredito que essa experiência sobre a natureza da vida tenha sida muito importante para o jovem Egon.

    Você disse que já viu outros filmes sobre Egon Schiele, mas não ficou satisfeito com nenhum deles. O que quis trazer de novo em seu projeto?

    Dieter Berner: Estes dois outros filmes são bem diferentes: um deles foi feito para a TV, com muitas pessoas e muitas histórias, então você perde o foco. Algumas cenas são interessantes, mas o conjunto não é muito animador. O outro filme foi feito para o cinema ese chama “Excesso e Paixão” ou algo assim, e o filme tem muitas mulheres, mas o que ele diz sobre a relação entre Egon e sua esposa Edith é apenas edificante.

    No final da vida, Egon decidiu se alistar no exército e levar Edith (Marie Jung) com ele, mas não dormia com os outros soldados no quartel, e sim num hotel. Além disso, existia uma vida social muito diferente na época: o relacionamento entre Egon e a musa Wally (Valerie Pachner) não foi aceito pela sociedade, por não serem casados. Por isso, ele precisou se casar com Edith. Eu também queria abordar estas transgressões que eu considerava essenciais.

    Um dos aspectos mais delicados da vida de Egon foi a acusação de pedofilia. Como decidiu representar essa questão?

    Dieter Berner: Sim, é algo complexo. Quando eu era jovem, eu ficava muito animado com as pinturas de Egon Schiele. Ele não era tão famoso naquela época, eram os anos 1960, quando as pessoas ainda começavam a descobrir que ele era um ótimo pintor. Seus temas eram existencialistas, abordavam o erotismo e a morte, sugerindo que a vida está constantemente em perigo. Isso foi impressionante para mim e para outros jovens da minha geração.

    Hoje em dia, quando vejo jovens morando juntos em repúblicas, eu me lembro das ilustrações dele. Ele se comunica com os tempos contemporâneos de uma maneira singular, por ter vivido experiências muito intensas, que eram a fonte da arte dele. Egon buscava pintar a vulnerabilidade do corpo, abordar a dominação e a repressão das coisas da alma, que estão dentro da pessoa. Para mim, o que interessava era o modo de abordar a vulnerabilidade humana.

    Por que escolheu um ator inexperiente para o papel principal?

    Dieter Berner: A principal razão foi que o Egon tinha 28 anos quando morreu, e 24 anos quando fez a obra mais importante dele. É muito difícil encontrar atores maduros aos 24 anos. Talvez existam nos Estados Unidos, mas não na Europa, porque quando os atores europeus entram nas escolas de atuação eles têm entre 18 a 21 anos e saem de lá com 25, 26 anos. Então ainda não são famosos, é claro, pois ainda estão começando as carreiras.

    Como eu precisava de atores joves muito talentosos, passei por muitos atores e não-atores jovens. Foi importante poder dar esse sentimento ao público do quão jovem esse artista era, e do quão jovens eram as pessoas ao redor dele. Wally originalmente tinha 17 anos quando começou a sair com ele, então as pinturas foram feitas por uma mente jovem.

    O filme tem grande preocupação em recriar luzes e cenários do início do século XX. Para você, qual é a importância da fidelidade ao contexto histórico?

    Dieter Berner: A fidelidade à época era muito importante para mim, porque acredito que, no cinema, os lugares e objetos são parte da história como um todo. Nós buscamos, por exemplo, descobrir o ateliê real de Egon Schiele, e depois reproduzimos dentro de um estúdio uma versão muito semelhante ao ateliê real e gravamos ali. Na minha opinião, isso conta muito sobre Egon, sobre o contexto, sobre essa rua onde o ateliê estava. Os arredores e a casa do outro lado da rua, por exemplo, realmente existem em Viena.

    De que maneira Egon Schiele influenciou a arte contemporânea?

    Dieter Berner: Ele é muito influente. Por exemplo, nós descobrimos um livro de fotos de James Dean quando ele tentou aprender a fotografar, e em algumas fotos as poses do James Dean são as mesmas de Egon em suas pinturas. Acredito que os quadros tenham sido uma inspiração direta para ele. Egon foi um dos artistas que presenciou a queda da monarquia, e foi um dos artistas que marcou o início de uma nova era na arte.

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