Ciência, filosofia, religião, arte, história, cinema... Ao longo das décadas, muitos saberes se entrecruzaram para analisar um dos maiores êxitos cinematográficos de todos os tempos, a lendária ficção científica existencialista 2001: Uma Odisseia no Espaço. Lançado há meio século, o filme de Stanley Kubrick é repleto de alegorias e traz um desfecho surpreendente, do qual muito se discute até hoje. O que, exatamente, se passa quando o Dr. David Bowman, na ivestigação dos misteriosos monolitos, embarca num vórtex multicolorido e viaja no espaço e no tempo através de paisagens psicodélicas até chegar em quarto onde encontra várias versões de si mesmo?
Talvez o próprio Stanley Kubrick possa explicar melhor. O cineasta, morto aos 70 anos de idade no ano de 1999, falou sobre o icônico desfecho de uma de suas obras magnas em uma entrevista concedida em 1980 para o diretor Jun’ichi Yaoi. O vídeo desta conversa, realizada ao telefone, ressurgiu na internet e atraiu a atenção dos fãs do cineasta. O material fez parte do arquivo de gravações para um documentário nunca lançado que Yaoi rodou para investigar supostos casos sobrenaturais que teriam ocorrido durante as filmagens de O Iluminado.
"Eu tentei evitar fazer isso desde que o fime foi lançado", afirmou Kubrick durante a chamada telefônica com o jovem diretor. "Quando você verbaliza as ideias elas soam bobas, ao passo que quando elas são dramatizadas alguém pode entendê-las, mas eu vou tentar explicar [o final do filme]. A ideia intencionada era que ele foi tomado por entidades divinais, criaturas de pura energia e inteligência sem forma. Eles colocaram ele no que eu acredito que você descrever como um zoológico humano para estudá-lo e a vida dele passou na frente dele naquele momento naquele quarto. E ele não tem noção de tempo. Aquilo apenas aconteceu, como aconteceu no filme."
O quarto branco para onde Bowman, vivido pelo ator Keir Dullea, é levado é descrito como "uma réplica imprecisa da arquitetura francesa" pelo diretore. Kubrick conta que as forças que conduziram o astronauta até esse lugar cósmico "tinham uma ideia do que [Bowman] poderia achar bonito, mas não tinham muita certeza". Para o diretor, o quarto era como um zoológico para humanos.
"Quando eles terminam com ele, assim como acontece em muitos mitos de todas as culturas do mundo, ele é transformado em um tipo de super-humano e enviado de volta para a Terra", conta Kubrick. O ser em questão é o The Star Child, o bebê nas estrelas que aparece antes dos créditos finais de 2001: Uma Odisseia no Espaço. "Nós temos apenas que imaginar o que acontece quando ele volta. Este é o padrão em muitas mitologias e era isso que nós estávamos tentando sugerir", concluiu o diretor.