Tungstênio, adaptação para os cinemas da HQ homônima de Marcelo Quintanilha dirigida por Heitor Dhalia, chegou aos cinemas brasileiros com uma trama sobre personagens à beira do colapso em uma situação-limite.
Na trama, quatro personagens vivem histórias interligadas em um dia quente em Salvador. Um deles, o Seu Ney, interpretado por José Dumont, é um ex-militar, saudoso da autoridade que um dia teve autoridade, que se revolta quando vê dois pescadores usarem bombas para pescar na orla da capital da Bahia. Em outros tempos, o personagem poderia até ser uma figura quase cômica. Mas no Brasil de 2018 onde ressurgem vozes do atraso pedindo a volta do regime militar, o Seu Ney se tornou um comentário ainda mais potente.
"Rapaz, eu gosto muito do personagem primeiro pq ele é muito louco, né? Muito doido. Ele tem uma herança militar. Ele é uma pessoa que é um sargento que acha que é general. Ele tem arma, tem o poder, lhe é dado esse poder, mas na verdade ele vive da memória, vive do passado. A realidade de hoje atualizou o personagem. Isso que eu acho que é bacana, o filme todo é muito atual", comentou o ator em entrevista para o AdoroCinema.
Tungstênio: Heitor Dhalia e Marcello Quintanilha falam sobre adaptar uma HQ tipicamente brasileira (Entrevista exclusiva)
Seu Ney exibe seu ranço autoritário no trato com o Caju, vivido por Wesley Guimarães, um jovem sem perspectivas da periferia de Salvador, que é obrigado a contatar o violento policial Richard (Fabrício Boliveira) para resolver a questão da pesca ilegal. "O Caju é mais um menino da periferia. Um menino da periferia que não teve tantas oportunidades na vida, ou quase nenhuma... Ele é um turbilhão de emoções. Ele tem muitas coisas por dentro que precisam de algum start para se soltarem. Esse start é um tapa que ele toma na cara [do Seu Ney] e é aí que ele bota para fora esse turbilhão de emoções", comenta Wesley, que, assim como seu personagem, cresceu na periferia de Salvador. "É muito forte para mim falar disso. Como morador de bairro periférico de Salvador eu entendo que nós, da periferia, além de tudo negros, somos excluídos de várias oportunidades. Representar o Caju, além de eu estar representando uma pessoa da comunidade, é uma forma de ter potência, da dar potência, de dar voz ao preto, ao favelado."
Paralelamente a isso, Tungstênio também mostra a história de Keira, esposa de Richard que busca forças para terminar seu relacionamento com o policial. "A Keira é uma mulher muito forte, uma mulher guerreira, uma mulher emocional que quer terminar esse relacionamento com o marido por motivos óbvios. Ela vive uma relação completamente, absolutamente, tóxica. E ela quer, de alguma maneira, sair dessa dependência emocional, financeira, estrutural que ela vive", comentou Samira Carvalho, atriz e modelo que fez sua estreia nos cinemas neste filme com uma atuação impactante.
Tungstênio estreou nos cinemas brasileiros no dia 21 de junho de 2018.