Minha conta
    Mulheres em destaque: sete estreias da semana debatem a sexualidade, a independência e o poder femininos

    A predominância feminina nos cinemas é tão rara que ainda merece destaque.

    Assim como nas últimas semanas, os cinemas brasileiros recebem nesta quinta-feira uma grande quantidade de produções inéditas: são onze filmes diferentes, que vão de documentários brasileiros a produções imensas como a animação Os Incríveis 2, da Disney/Pixar.

    É importante ressaltar um tema que atravessa a maior parte destes títulos: o protagonismo feminino. Os Incríveis 2 inverte a lógica do primeiro filme para colocar a mãe Helena Pêra trabalhando pelo sustento da família enquanto o marido fica em casa, cuidando dos três filhos. A aventura cômica foi elogiada por críticos especialmente por este aspecto: a reconfiguração familiar.

    O segundo maior lançamento da semana, Sexy Por Acidente, ataca os padrões de beleza femininos, imaginando a vida de uma mulher descontente com o próprio corpo (Amy Schumer), que bate a cabeça e passa a se ver como uma mulher lindíssima, mesmo sem nenhuma transformação real em seu aspecto físico. Apesar das boas intenções, a história reforça preconceitos: "A principal gordofobia da trama é justamente a introjetada na personagem principal, incapaz de sexualizar o colega de trabalho por conta de seu tipo físico", escreve a crítica Taiani Mendes.

    Berenice Procura tem como protagonista uma taxista mulher (Cláudia Abreu) que decide investigar por conta própria um crime transfóbico e misógino: o assassinato da cantora Isabelle (Valentina Sampaio). A produção tem o mérito de escalar uma atriz transexual para o papel da atriz trans, reforçando a importância da representatividade trans no cinema nacional.

    Ainda entre os filmes brasileiros, o documentário Auto de Resistência, vencedor do festival É Tudo Verdade, destaca o papel especialmente feminino nas denúncias contra os atos de violência da polícia carioca, acobertados pelos juízes e advogados. Entre as personagens do filme se encontra a vereadora Marielle Franco, assassinada este ano. Outro documentário nacional, Bravas Donnas - Memória Italiana, narra a história da imigração italiana pelo ponto de vista das mulheres.

    Paralelamente, duas comédias estrangeiras se focam em personagens de meia-idade, descontentes com a vida afetiva e profissional: em 50 São os Novos 30, Marie-Francine (Valérie Lemercier) é abandonada pelo marido e perde o emprego, sendo forçada a morar com os pais idosos. Mas logo ela descobre a possibilidade de ser feliz sem retornar ao relacionamento anterior. Já Oh Lucy! apresenta a japonesa Setsuko (Shinobu Terajima), uma mulher solitária que se apaixona por seu jovem professor de inglês, decidindo segui-lo quando ele volta aos Estados Unidos. A personagem aprende as duras consequências de seguir seus impulsos.

    Tantos lançamentos comprovam não apenas a produção cada vez maior de filmes estrelados por mulheres - cinco deles dirigidos por mulheres, com o acréscimo de O Desmonte do Monte, de Sinai Sganzerla, que também estreia nesta quinta-feira -, mas também o fato de distribuidores e exibidores passarem a acreditar  potencial artístico e comercial destes projetos.

    As desculpas clássicas de que filmes estrelados por mulheres não rendem boa bilheteria, ou que existem poucos títulos com diretoras mulheres por falta de profissionais qualificadas está cada vez mais difícil de sustentar. Ainda existe um longo caminho a percorrer, mas não é impossível imaginar uma participação 50% feminina nas histórias e nas equipes cinematográficas num futuro próximo, em reflexo da divisão social.

    facebook Tweet
    Links relacionados
    Comentários
    Back to Top