Terry Crews denunciou os "abusadores que protegem outros abusadores" em Hollywood em depoimento no Senado dos Estados Unidos nesta terça-feira (26). O ator condenou a prevalência de uma "masculinidade tóxica" nos bastidores da indústria cinematográfica enquanto defendeu a criação de um documento legal chamado Declaração de Direitos de Sobreviventes de Abuso Sexual, que propõe novas medidas de combate a esse tipo de crime.
"Eu sou um ator, escritor, ex-atleta, militante e sobrevivente de um abuso sexual", disse Crews no começo de sua fala. "Hollywood tem sido um lugar problemático simplesmente porque as pessoas enxergam aquele lugar como um sonho. E acontece que há alguém com poder sobre esses sonhos. Você é levado a achar que esse tipo de comportamento é algo esperado, algo que faz parte do trabalho, que esse assédio, abuso e até mesmo estupro fazem parte das atribuições do seu trabalho."
Em outubro de 2017, quando o cenário da indústria cinematográfica americana começou a ser chacoalhado pela coragem de mulheres que denunciaram abusos por trás das câmeras, Crews aproveitou a ocasião para contar sua própria história traumática. O astro de Todo Mundo Odeia o Cris e As Branquelas disse que o empresário Adam Venit, que já representou personalidades como Emma Stone e Adam Sandler, o apalpou suas partes íntimas durante um evento público. Crews disse que se sentiu "impotente" e "objetificado" com a situação e têm sido uma rara voz masculina em Hollywood a falar publicamente sobre suas experiências como vítima de violência sexual.
"O que aconteceu comigo aconteceu com muitos, muitos outros homens em Hollywood", disse Crews ao Comitê Judiciário do Senado. "Desde que eu trouxe a minha história à tona, milhares de outros homens vieram me dizer, 'Aconteceu comigo também, essa é a minha história'. Mas eles não se sentem seguros para falar sobre isso porque você é colocado na lista negra, sua carreira fica em perigo. Depois disso ninguém mais quer trabalhar com você."
Crews afirmou em seu depoimento que sofreu represálias por ter falado sobre seu caso de assédio sexual. O produtor Avi Lerner teria dito ao ator que ele só poderia atuar em Os Mercenários 4 caso não movesse nenhuma ação contra Venit. Crews não aceitou a proposta. "Esse mesmo produtor está sob sua própria investigação. Abusadores protegem abusadores, e essa foi uma coisa que eu tinha que decidir, se eu ia traçar esse limite. Vou ser uma parte disso ou vou me posicionar? Houve projetos que eu tive que recusar", relatou.
Lerner nega ter cometido qualquer assédio. Ainda em 2017, o produtor foi acusado de ter uma postura predatória e inadequada no ambiente de trabalho.
Intérprete de Hale Caesar nos três primeiros filmes da franquia Os Mercenários, Crews contou que teria sentido vergonha de vir à público compartilhar suas experiências como vítima de assédio se não fosse o movimento #MeToo. "Eu provavelmente iria virar piada na delegacia. Um ano depois, quando o movimento #MeToo engrenou, era seguro denunciar. Quando sofre uma violência, você fica atrás das linhas inimigas, tentando encontrar uma saída. Você está tentando encontrar uma forma de se manter seguro. Ninguém vai te ajudar. Ninguém vai acreditar em você."