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    Olhar de Cinema 2018: Pautas feministas e curta com embate Lula vs. Moro se destacam na programação

    Mais um dia de luta na fria Curitiba.

    Tendo retrospectivas dedicadas a Jean Rouch e Djibril Diop Mambéty, foco na obra de Janie Geiser e sessões de Alice Guy Blaché e Chantal Akerman na mostra dos clássicos, a 7ª edição do Olhar de Cinema tem curadoria explicitamente orientada na direção de filmes em torno de questões negras e feministas. Terceiro dia de festival, a sexta-feira ofereceu aos cinéfilos presentes em Curitiba dois longas documentais especialmente felizes na comunhão dessas duas pautas com mais algumas outras inerentes à luta feminina de nossos dias.

    Um Abraço, na Sororidade, de Irene Lusztig, coloca relatos pessoais endereçados à revista feminista Ms. nos anos 1970 nas mãos de mulheres de hoje, muitas enfrentando os mesmos desafios e incômodos do passado não tão distante. A proposta é pensar o feminismo e o feminino em suas diversas características e a pluralidade de temas organizada num formato simples, porém extremamente cativante, faz do longa-metragem uma pérola indispensável. Confira a crítica.

    Diários de Classe, de Maria Carolina da Silva e Igor Souza, encontra em salas de aula para jovens e adultos três personagens imbuídas de garra aflorada a partir do sofrimento, mulheres que se impõem mesmo na adversidade e conscientemente usam a câmera dos realizadores baianos como palanque para a propagação de suas bandeiras. A afirmação como transexual, a luta pelos direitos trabalhistas das domésticas e a reflexão sobre as injustificáveis falhas do racista, contra pobres e desumano sistema penal brasileiro são questões que ecoam da mulher periférica baiana para o mundo.

    Mais uma vez esquentando a sala de cinema com política, a mostra Mirada Paranaense ofereceu bom programa de curtas em sessão lotada, em que se destacaram o apuro visual e a performance de Edigar Palmeira no ensaio corpóreo Superfície (de Bernardo Teodorico), inspirado nos experimentos fotográficos de Eadweard Muybridge; o retrato pulsante da não-binariedade em Lui (muito bem dirigido por Denise Kelm), que abarca sexualidade, gênero e relacionamento numa narrativa de sentimentos, não discursos; e a política acalorada da "República de Curitiba" colocada em evidência no documentário Acima da Lei (de Diego Florentino).

    Das sessões em que o AdoroCinema esteve presente, a exibição do curta a respeito da Operação Lava Jato foi a que mais gerou reações do público, com direito a gritos de "Lula Livre!" ao fim dos 20 minutos de projeção. Diego coloca na tela a agitação que tomou conta da cidade na semana de maio de 2017 em que Luiz Inácio Lula da Silva prestou seu primeiro depoimento ao juíz Sergio Moro. Através de vídeos postados na internet, arquivos de programas televisivos e registros do aparato de guerra montado pela polícia para receber o ilustre visitante, o cineasta quebra a tese de que tratou-se de um processo normal. Sem esconder seu alinhamento, Acima da Lei dá espaço aos dois polos, deixando nas mãos do "povo da Lava Jato", como se denominam os mais fervorosos seguidores de Moro, a própria ridicularização. As aparições de Lula têm o tom messiânico de costume e a campanha política é real, com encerramento à la Arnold Schwarzenegger em O Exterminador do Futuro - aqui representando o mocinho injustiçado.

    Diários de Classe e os curtas paranaeses terão novas sessões neste domingo, consulte a programação. Sobre Um Abraço, na Sororidade resta a torcida para que encontre distribuidora e estreie nos cinemas brasileiros.

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