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    João de Deus - O Silêncio é uma Prece: Diretor Candé Salles explica como funciona a cura espiritual (Entrevista exclusiva)

    O documentário está em cartaz nos cinemas.

    Você conhece João de Deus? Próximo de Chico Xavier, o médium começou a atuar no Estado de Goiás, onde pratica curas mediúnicas e espalha a palavra de Deus para visitantes do mundo inteiro. Entre os brasileiros frequentadores da casa Dom Inácio de Loyola se encontram Cissa Guimarães e Camila Pitanga.

    O personagem é tema do documentário João de Deus - O Silêncio é uma Prece, dirigido por Candé Salles (Para Sempre Teu, Caio F.). O projeto constitui uma homenagem ao personagem, elaborado por um diretor e uma roteirista inteiramente dedicados às práticas espirituais.

    O AdoroCinema conversou com Candé Salles sobre o filme:

    De que maneira espera que o filme dialogue com o público de diferentes crenças - espíritas, católicos, evangélicos, ateus?

    Candé Salles: Pergunta difícil. Na verdade eu quis contar a história do médium João, e fui para Abadiânia fazer o filme. Eu sou católico. Viajei estimulado pela história de um amigo meu, cuja mulher foi curada de câncer [pelas práticas do João de Deus], mas se dependesse da medicina, ela morreria em quatro meses. Então eu quis entender como poderia documentar a vida e o trabalho desse cara.

    Acho que todas as religiões são muito boas, o problema é quem comanda os lugares. Não importa a religião que você tem, o que importa é o bem que você faz, para você e para o outro. Espero que as pessoas de outras religiões abram o coração para o amor, porque este é um filme sobre amor. Eu senti muito amor de pessoas que nem conhecia, a Casa do Inácio me passou isso. Hoje em dia as pessoas são cada vez mais fechadas no mundo delas, sem falar direito umas com as outras. Eu mesmo era assim. Possivelmente eu passava pelas pessoas sem olhar direito, mas hoje eu olho. Se tem um cadeirante atravessando a rua, quero saber se ele vai atravessar direito, se eu posso ajudar, se está tudo bem.

    Divulgação

    A Cissa Guimarães faz uma narração importante no filme, comentando o trabalho de João de Deus e falando sobre espiritualidade de modo geral. 

    Candé Salles: Esse texto foi feito pela Edna Gomes (roteirista), e depois mexemos nele juntos. Como estou falando sobre o sobrenatural, pedi para a Edna tentar explicar o inexplicável em palavras, explicar a corrente na Casa do Inácio, onde trezentas pessoas ficam de olhos fechados mentalizando, até que o médium João entra e opera as pessoas. Essas trezentas pessoas ficam de olhos fechados mandando energia boa para potencializar a energia do médium João. Isso é muito difícil de explicar só em imagens, por exemplo, então usei o texto para o espectador entender tudo.

    Escolhi a Cissa Guimarães por ser uma frequentadora da casa do Inácio. Seu João é louco por ela, eles têm uma relação de pai e filho muito bonita. Além disso ela tem uma voz maravilhosa, é uma atriz que admiro muito. Dirigi a Cissa num estúdio do Rio de Janeiro. Dei o texto para ela na hora e dirigi com a mesma emoção da Casa do Inácio, para ela pensar que ela está ajudando as pessoas a entenderem o sobrenatural, se é que isso é possível.

    De que maneira a cura mediúnica dialoga com a medicina tradicional? 

    Candé Salles: O filme afirma que 70% das doenças são de cunho espiritual, então o ideal é se tratar espiritualmente, porque às vezes a doença é gerada por um rancor, uma mágoa, uma decepção, uma raiva. Várias sensações dentro da gente causam uma doença, entendeu? A gente fala para as pessoas: “Você tem que se tratar espiritualmente, mas nunca abandone os seus médicos”. O médium João pode fazer um trabalho de limpeza em você, te deixar mais feliz, tirar olho gordo de você, tirar inveja, tirar os espíritos ruins que chegaram em você, te limpar energeticamente, mas o seu corpo físico precisa dos doutores, então as duas coisas precisam ser feitas em paralelo.

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    Mas esta limpeza espiritual também passa corpo físico. O documentário mostra várias imagens de cirurgias, cortes, sangue.

    Candé Salles: Isso é só para quem pede. O Seu João diz que a operação é igual, tanto visível quanto invisível, mas algumas pessoas não acreditam na cirurgia com as mãos encostadas, elas precisam de um corte, um ponto, uma dorzinha, para entender que foram operadas. No final dá no mesmo, seja o procedimento visível ou invisível. Se você está conectado, com energia boa, com a sua espiritualidade conectada com a luz, se tem merecimento, vai dar certo. Se você não tem essas coisas, se for para lá só para ver qual é, você provavelmente não vai ter a cura.

    Essa é uma relação muito individual. A meditação, por exemplo, é uma ótima forma de autoconhecimento. Depois, a cabeça fica aliviada, o coração fica aliviado, e isso te ajuda espiritualmente. Então o Seu João vem com a energia dele, com a sabedoria dele, ainda tira as coisas e te limpa, então a sua concentração, junto com a sua fé, levam à cura. É uma soma de fatores.

    Por que decidiu não colocar vozes dissonantes no filme? Alguma pessoa cética, ou alguma cirurgia que não tenha dado certo?

    Candé Salles: Era muito pouco tempo, entendeu? Além disso, eu tinha material demais. O médium João é um homem que mereceria dez, quinze, vinte filmes. Prefiro deixar essa parte para outras pessoas. Eu fui tão tocado pelo amor, pela energia, que só o fato de pensar que vou tirar um minuto de uma coisa dessas para botar algo diferente não soaria a minha verdade, o meu amor. Não acho que seja um filme de bandeira branca. Pelo contrário, humanizei muito o João, mostrei o lado real dele. Não fico santificando.

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    Em termos estéticos, como decidiu a melhor forma de retratar esse personagem?

    Candé Salles: Eu usei todas as câmeras que você pode pensar e não pensar, porque cada situação exigia uma câmera diferente. No hospital, por exemplo, tive que entrar com uma câmera minúscula, de mão, do tipo que as pessoas quase nem percebem. Mas eu filmei com RED, filmei com uma Sony também. Foram várias câmeras porque foi muito tempo de filmagem. Em cada viagem eu fazia de um jeito, e depois eu tentei fazer com que ficasse esteticamente parecido. Acho que dá para ver a diferença em alguns momentos, mas não ficou tão gritante.

    Nada é planejado nesse filme, é tudo reality mesmo, sabe? A gente está sempre muito rápido com a câmera para não perder os momentos importantes. Eu nunca pedi para ele fazer nada de novo. Nunca pedi algo do tipo: “Ah Seu João, faz isso de novo porque eu não peguei”. Tudo no filme aconteceu daquele jeito.

    Existiam limites impostos por você ou pelo próprio João? Algo que decidiu não filmar, para não invadir a privacidade dele?

    Candé Salles: É bom você perguntar isso. No início, ele pedia: “Filma isso”, “Isso aqui não filma”. Depois de um ano desse jeito, eu conversei com ele: “Seu João, preciso conversar com o senhor. Se o senhor ficar falando para mim o que filmar, não vou conseguir fazer um filme bonito. Eu preciso filmar tudo”. Então ele me olhou bem sério, e perguntou: “Você vai fazer um filme sobre a verdade?”. Eu disse que sim. E ele: “Então a partir de agora você pode filmar o que você quiser”. A partir desse dia, eu nunca mais tive problema com nada. Ele até esqueceu que eu estava filmando, porque tentei me manter invisível mesmo, só para documentar as coisas.

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