O ex-produtor Harvey Weinstein, cujas décadas de abusos sexuais reveladas foram o estopim do #MeToo e do Time's Up, movimentos contra os predadores sexuais da indústria cinematográfica, foi preso na manhã desta sexta-feira, dia 25, em Nova Iorque. O ex-magnata de Hollywood - que por mais de 20 anos foi uma das figuras mais influentes do cinema estadunidense -, será processado por estupro e abuso sexual; ele, no entanto, vai se declarar inocente no julgamento, marcado para o próximo mês de julho, de acordo com seu advogado, Benjamin Brafman (via New York Times).
Formalmente acusado pela Procuradoria-Geral de Nova Iorque pela violação de uma vítima anônima e por ter abusado sexualmente da atriz Lucia Evans, em 2004, Weinstein vai responder às denúncias em liberdade após pagar uma fiança de US$ 1 milhão. Ele, no entanto, não poderá deixar o estado nova-iorquino - tendo seu passaporte confiscado pelas autoridades -, terá que utilizar uma tornozeleira eletrônica e ainda segue sob escrutínio da polícia de Los Angeles e da Scotland Yard, do Reino Unido, por outros crimes sexuais que cometeu durante sua trajetória como produtor em Hollywood e na Europa. Há, ainda, a possibilidade de que Weinstein seja acusado em esfera federal, jurisdição cujas punições são muito mais severas.
Fundador da hoje falida The Weinstein Company, companhia da qual foi demitido, o ex-produtor se aproveitou do livre trânsito que possuía na indústria, de sua posição de poder e da escandalosa conivência de seus pares para assediar, abusar e/ou estuprar mais de 100 mulheres, sejam elas atrizes ou anônimas, incluindo a intérprete e ativista Rose McGowan, Gwyneth Paltrow, Angelina Jolie, Asia Argento e Lupita Nyong'o, entre outras. Símbolo do lado mais sórdido da indústria, o ex-produtor chegou a contratar espiões para acobertar seus crimes, mas os abusos que perpetrou finalmente vieram à tona no último mês de outubro, quando um incendiário artigo do New York Times expôs todos os malfeitos de Weinstein através dos corajosos depoimentos de testemunhas e vítimas do predador sexual.
Desde então, as profissionais da indústria cinematográfica ao redor do mundo vêm conquistando cada vez mais espaço para derrubar outros criminosos e também para demandar e conquistar maior igualdade nas condições de trabalho, incluindo nas questões salariais e, principalmente, de segurança. Entretanto e apesar de ter sido amplamente comemorada nas redes sociais, a prisão de Weinstein deve ser acompanhada de perto, como apontou Ronan Farrow, colunista da New Yorker e autor de um dos mais potentes e reveladores artigos contra o ex-produtor. "É uma atmosfera incerta", alertou o escritor, criticando o sistema judicial dos Estados Unidos. Resta aguardar o desenrolar do caso.