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    Moses Farrow, filho de Mia Farrow, acusa mãe de abuso psicológico e defende Woody Allen

    O caso Dylan Farrow torna-se ainda mais complicado.

    Durante o auge do movimento #MeToo, iniciado após a revelação das décadas de abusos sexuais cometidos pelo ex-produtor Harvey Weinstein, o caso Dylan Farrow ressurgiu com força total. Mais de vinte anos após o suposto ocorrido, a ativista retornou aos holofotes para acusar novamente seu pai, o controverso diretor Woody Allen, de tê-la abusado sexualmente durante sua infância. O realizador, então, tornou-se alvo de uma intensa campanha contra sua imagem, tendo parte de sua obra questionada e reavaliada e até mesmo vendo uma estátua erguida em sua homenagem ser ameaçada. Em meio aos ataques, Moses Farrow, seu filho adotivo, foi um dos únicos defensores - e, recentemente, o filho da atriz Mia Farrow escreveu um longo ensaio para recontar seu ponto de vista e sua versão do caso Dylan.

    Em seu blog - leia a coluna na íntegra (em inglês) aqui -, Moses preparou uma longa exposição de defesa, onde não só descredita a narrativa de Dylan como também acusa Mia Farrow de abuso psicológico: "Sou uma pessoa privada e não tenho interesse algum em ser o centro das atenções. No entanto, por causa dos incrivelmente imprecisos e mentirosos ataques contra meu pai, Woody Allen, sinto que não posso continuar calado ao passo em que ele continua sendo condenado por um crime que não cometeu", inicia-se o texto. Em seguida, Moses descreve os eventos do dia 4 de agosto de 1992, data do suposto abuso sexual contra Dylan, ressaltando que a visita de Woody à casa de Mia e das crianças era uma das primeiras após a atriz descobrir que o realizador iniciara um caso com sua enteada - e hoje esposa do diretor -, Soon-Yi Previn.

    "Então, é claro, a notícia sobre Woody e Soon-Yi tornou-se pública - e tudo mudou. Minha mãe insistiu para que removêssemos ambos de nossas vidas, e não tivemos outra escolha a não ser aceitar isso. Até mesmo as pessoas que duvidam das alegações de Dylan frequentemente se prendem ao relacionamento de Woody e Soon-Yi como justificativa para permanecerem céticos em relação a ele. Os ataques públicos de completos estranhos contra Soon-Yi ainda me impressionam, assim como todas as informações erradas que as pessoas consideram como fatos. Ela não é filha de Woody (adotada, enteada ou qualquer outra coisa) [...] E a alegação de que eles iniciaram um romance enquanto ela era menor de idade é totalmente falsa", prossegue Moses, ressaltando como Mia Farrow utilizou a situação para iniciar uma campanha difamatória contra Allen.

    A trama fica ainda mais complicada quando o autor do ensaio relembra sua infância e o modo como Mia, perturbada por inúmeros problemas psicológicos, punia severamente Moses e seus irmãos adotivos, incluindo alguns deficientes, por pequenos equívocos - um cenário de abuso parental que o escritor define como um processo de "lavagem cerebral" perpetrado pela atriz de O Bebê de Rosemary. Após o trágico relato sobre o contexto no qual cresceu, Moses retorna ao caso Dylan Farrow - vale lembrar que, ainda em 1992, uma junta de médicos especializados em abuso infantil e o Serviço Social de Nova Iorque determinaram que a então menina de sete anos não havia sido abusada por Allen, arquivando o caso contra o realizador em seguida -, momento em que analisa a acusação (re)feita por sua irmã, em 2014:

    "A narrativa de Dylan precisou ser mudada", escreve Moses, lembrando como passou o dia inteiro de olho em Woody após sua mãe ter pedido expressamente que cuidassem do comportamento do diretor, "porque o único lugar para que alguém cometesse um ato de perversidade em privado seria o pequeno espaço acima do quarto da minha mãe. Por definição, o sótão tornou-se a cena do suposto abuso". Em 2014, Dylan, em um artigo amplamente divulgado do New York Times, declarou: "Ele me disse para deitar e brincar com o trem elétrico do meu irmão. Então ele abusou sexualmente de mim. Ele falava comigo enquanto fazia aquilo, sussurrando que eu era uma boa menina, que aquele seria nosso segredo, prometendo que iríamos para Paris e que eu seria uma estrela em todos os seus filmes. Lembro de olhar para o trem de brinquedo, prestando atenção nele conforme circulava pelo sótão. Até hoje, tenho dificuldades em olhar para trens de brinquedo".

    Moses, no entanto, contesta veementemente as palavras da irmã: "É uma boa e engajadora narrativa, mas há um grande problema aí: não havia nenhum trilho de trem de brinquedo no sótão. Não havia, de fato, espaço algum para crianças brincarem lá em cima, mesmo que essa fosse nossa vontade. Era um minúsculo espaço inacabado, debaixo de um telhado angulado, com pregos no chão, tábuas levantadas, pedaços de vidros, encanamentos, repleto de armadilhas para ratos e do fedor de insetos, e lotado de caixas com roupas de segunda-mão e os vestuários antigos da minha mãe. A ideia de que aquele espaço poderia acomodar um trem elétrico completamente funcional, que circulasse pelo sótão, é ridícula". Assim, o autor afirma, em seguida, que a acusação de Dylan foi implantada por Mia, dias depois do suposto ocorrido - de fato, a conclusão dos peritos que examinaram Dylan no início da década de 1990 constata que suas declarações pareciam "ensaiadas" e que foram "provavelmente influenciadas por Mia Farrow".

    Moses, que tornou-se psicólogo e conselheiro familiar, relembra a época das investigações da junta de médicos do hospital de New Haven, as vezes que sua mãe o obrigou a mentir durante o caso e encerra seu texto da seguinte forma: "Como profissional treinado, sei que molestar crianças é uma doença compulsiva e um desvio que demanda repetição. Dylan esteve sozinha com Woody em seu apartamento em inúmeras ocasiões durante todos aqueles anos e nunca houve nenhuma suspeita de comportamento inapropriado. Ainda assim, alguns de vocês escolheram acreditar que, aos 56 anos, ele de repente decidiu se tornar um molestador de crianças em uma casa repleta de pessoas hostis que foram ordenadas a vigiá-lo como águas [...] Ao invés de aceitarem a histeria do linchamento do Twitter, repetindo uma história examinada e descreditada há 25 anos, considerem o que tenho a dizer. No fim das contas, eu estava lá - na casa, na sala - e conheço meu pai e minha mãe e sei do que eles são capazes muito melhor do que todos vocês sabem".

    Em um comunicado divulgado pela revista People, Dylan Farrow lamentou o artigo escrito pelo irmão e disse que seu ensaio é "uma tentativa de desvirtuar uma alegação embasada feita por uma mulher adulta ao tentar descreditar minha mãe, a única pessoa que apoiou a mim e aos meus irmãos. O ensaio de Moses é facilmente derrubado, contradiz anos de seus próprios depoimentos, é mais do que doloroso para mim, pessoalmente, e faz parte de um esforço maior para descreditar e desviar a atenção do abuso que sofri. Meu irmão é uma pessoa problemática. Sinto muito que ele tenha feito isso". Mia Farrow e Woody Allen, por sua vez, não se pronunciaram sobre o texto de Moses.

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