O novo Desejo de Matar faz total jus ao clássico estrelado por Charles Bronson. Muito ajuda o fato de Bruce Willis ser um astro de ação à altura do Paul Kersey que tanto vimos no Domingo Maior da Rede Globo. Mas o personagem também possui uma complexidade que foge um tanto à imagem de brucutu do astro de Duro de Matar na grande maioria de seus 100 e tantos créditos no cinema. Ele também é um marido amoroso, pai coruja, médico prestigiado e, acima de tudo, um homem de visual careta que destoa completamente da figura construída pelo ator em seus quase 40 anos de carreira.
Diante dessa surpresa, lembramos 10 vezes em que o cinema quebrou o paradigma e Bruce Willis não foi tão... Bruce Willis. Confira:
Encontro às Escuras (Blind Date, 1987)
Bruce Willis teve o prazer de trabalhar com uma lenda do comédia em seu primeiro trabalho relevante no cinema: Blake Edwards, diretor e roteirista de dois dos maiores filmes do gênero, A Pantera Cor-de-Rosa e Um Convidado Bem Trapalhão, estrelados por Peter Sellers. No divertido Encontro às Escuras, o ator vive um homem que só pensa em trabalho e precisa recorrer ao irmão para levar uma mulher que se passe por sua companheira (vivida por Kim Basinger) em um importante jantar de negócios. Quer dizer: um workaholic que não tem metade da sagacidade de John MacClane.
O Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999)
Suspense que revelou o cineasta indiano M. Night Shyamalan para o mundo, O Sexto Sentido traz Bruce Willis como o psicólogo infantil Malcolm Crowe, um homem traumatizado pelo suicídio de um paciente que mergulha de cabeça no caso de um menino (interpretado por Haley Joel Osment) que vê pessoas mortas. Além de um dos finais mais surpreendentes da história do cinema, o filme marcou um trabalho inédito na carreira já estabelecida de Bruce Willis.
A Morte lhe Cai Bem (Death Becomes Her, 1992)
Na comédia sobrenatural do criativo Robert Zemeckis (De Volta Para o Futuro), Bruce Willis interpreta um cirurgião plástico não apenas dividido entre o amor de Meryl Streep e Goldie Hawn, como enlouquecido pelas confusões que elas aprontam para ele em sua busca pela juventude eterna. O ator precisou caprichar no humor pastelão para dar vida ao Dr. Ernest Menville.
Fantasmas da Guerra (In Country, 1989)
O aclamado diretor Norman Jewison, dos filmes No Calor da Noite e Feitiço da Lua, extraiu uma das atuações mais originais e minimalistas de Bruce Willis. Sua performance como Emmett Smith, um veterano do Vietnã que perdeu o irmão na guerra e segue traumatizado pelos horrores do conflito, foi elogiada por modular "admiravelmente" o comportamento de um homem irritadiço e recluso que precisa cuidar da sobrinha órfã.
Moonrise Kingdom (idem, 2012)
Não há brucutu que resista ao cinema pueril de Wes Anderson. No universo lúdico e colorido de Moonrise Kingdom, até uma autoridade policial interpretada por Bruce Willis soa inofensiva. Seu Capitão Sharp não tem nada de forte, agudo e mordaz; é um sujeito bonachão, de óculos de armação careta, e foi uma das últimas vezes que vimos o ator com cabelo.
Armageddon (idem, 1998)
Harry S. Stamper faz o tipo durão, é verdade. Mas suas armas são as máquinas pesadas que ele opera como perfurador de petróleo em águas profundas. Do tipo tão competente e confiável que foi destacado para uma missão da NASA para salvar o mundo. E a casca grossa de Harry se rompe a todo momento, seja demonstrando seu amor e proteção da filha Grace (Liv Tyler), seja aceitando um genro folgado (vivido por Ben Affleck), salvando sua vida e (esse spoiler venceu!) de toda a humanidade.
A História de Nós Dois (The Story of Us, 1999)
Todos os elogios e consagração que Rob Reiner conquistou com Harry & Sally - Feitos um para o Outro não se repetiu em A História de Nós Dois. Mas, além da trama envolvendo as complexidades de uma relação amorosa, um aspecto coincidente entre as dramédias românticas foi conferir papéis diferentes para o seu protagonista masculino, Billy Crystal e Bruce Willis.
À Beira da Loucura (Breakfast of Champions, 1999)
1999 foi um ano prolífico e peculiar na carreira de Bruce Willis. Além de fazer um psicólogo em O Sexto Sentido e estrelar a dramédia romântica A História de Nós Dois, o ator viveu um vendedor de carros prestes a ter um colapso nervoso em À Beira da Loucura — um dos papéis e filmes mais surreais de sua carreira.
Os 12 Macacos (12 Monkeys, 1995)
Do outro lado da lei e em uma trama distópica de ficção científica, Bruce Willis vive um homem condenado que precisa voltar no tempo e mudar o curso da História depois que um vírus mata 99% da população. Em seu retorno, ele é novamente preso, só que em um hospital psiquiátrico. É o ator conhecido por personagens perseguidores sendo encarcerado duas vezes em 130 minutos como James Cole.
A Cor da Noite (Color of Night, 1994)
Por fim, um filme muito ruim: A Cor da Noite acompanha um psicólogo de Nova York que fica daltônico (?!) depois que uma paciente comete suicídio (olha a inspiração de O Sexto Sentido aí!). Ele vai para Los Angeles e a morte o persegue até a Costa Oeste, pois o amigo terapeuta com quem ele vai morar em busca de ajuda é assassinado. A trama é tosca, mas o Dr. Bill Capa se encaixa na premissa da matéria: é um Bruce Willis diferente da maioria dos outros papéis de Bruce Willis.