Pode-se dizer que George Lucas estava cercado de amigos da onça durante a Nova Hollywood. Se Francis Ford Coppola, Brian De Palma e Martin Scorsese não levavam a menor fé em Star Wars, Steven Spielberg via tanto potencial na saga de Luke Skywalker que fez uma aposta e ficou milionário em cima de Lucas. Canalha!
Brincadeiras à parte, a verdade é que Steven Spielberg foi fundamental no desenvolvimento de Guerra nas Estrelas. Ele viu a atribulada produção da ópera espacial de perto e pôde aconselhar George Lucas em diversos momentos. E quando o colega menos acreditava em seu potencial, Spielberg topou uma proposta inusitada.
"Ele dizia 'Ai, meu Deus, seu filme irá muito melhor que Star Wars. Será o maior sucesso de todos os tempos!'", lembra Spielberg, que discordava dos temores de Lucas e da certeza do amigo de que seu próximo trabalho, Contatos Imediatos do Terceiro Grau, teria um faturamento maior. "Então tá, você quer trocar uns pontos?", propôs Lucas: "Eu te dou 2,5% de Star Wars se você me der 2,5% de Contatos Imediatos". Visionário, Spielberg topou na hora.
Lucas não estava de todo errado: Contatos Imediatos do Terceiro Grau faturou US$ 135 milhões somente nos cinemas norte-americanos. Mundialmente, US$ 306,8 milhões, fora a aclamação geral da crítica. Porém, quando o filme estreou em novembro de 1977, ele já não tinha nem mais força para comemorar. Após uma estreia modesta em apenas 42 salas em maio do mesmo ano, Guerra nas Estrelas ganhou os Estados Unidos, o mundo todo, e se tornou um evento de US$ 775 milhões, ficando mais de 1 ano em cartaz.
"Contatos Imediatos foi um mero caso de sucesso. Star Wars foi um fenômeno", diz Spielberg, admitindo que foi "o feliz beneficiário" de um filme que temia como maior rival e pelo qual "vê o dinheiro entrando até hoje". Porém, são dezenas de milhões de dólares mais que merecidos. Sem o seu apoio moral, talvez Lucas tivesse desistido antes, talvez Lucas não tivesse conseguido.
Amizade nascida na rivalidade
A relação entre George Lucas e Steven Spielberg nem sempre foi de amizade. Eles se conheceram em 1967, quando Lucas apresentava seu longa-metragem de estreia, THX 1138, na mesma UCLA que rejeitara Spielberg. "THX-1138 me deixou com ciúmes até a medula", admite.
"Eu tinha 18 anos, já havia dirigido 15 curtas-metragens, e esse pequeno filme era melhor do que todos os meus filmes juntos", diz Spielberg, que ainda revela seu espanto em perceber que "havia uma geração inteira saindo das universidades de Nova York, San Francisco e Los Angeles" com grande talento para o cinema.
O sentimento de George Lucas em relação ao trabalho de Steven Spielberg era completamente outro: indiferença. Sua impressão diante do curta-metragem Amblin — que dá nome à empresa do megaprodutor — era de um filme extremamente sentimentalista. Essa opinião só mudou quando Francis Ford Coppola organizou um evento em sua casa para a exibição de Encurralado.
"Depois que conheci o Steven, eu tive curiosidade pelo filme e pensei que só daria uma olhada lá de cima da escada por uns 10 ou 15 minutos. Mas uma vez que eu comecei a assistir, não consegui mais tirar os meus olhos dali. Eu pensei, 'Esse cara é realmente esperto. Preciso conhecê-lo melhor'", diz Lucas.
Assim nasceu a amizade entre George Lucas e Steven Spielberg. Afetuoso, Spielberg seguia um profundo admirador "do estilo e da proximidade com o público" do cinema de Lucas e apontava American Graffiti como "o maior filme norte-americano de todos os tempos". Tímido, inseguro, Lucas chegou ao ponto de recusar a oferta do novo amigo para fazer a direção de segunda unidade de Star Wars. Além da juventude, ambos estavam no auge do estresse em uma indústria em que a pressão é enorme.
Os sucessos absolutos de Guerra nas Estrelas e Contatos Imediatos do Terceiro Grau permitiram que a dupla tirasse umas férias. George Lucas e Steven Spielberg partiram juntos para um período sabático no Havaí. Ali nasceria um dos maiores personagens do cinema: "Indiana Smith", Lucas sugeriu. "Não", respondeu Steven: "Indiana Jones". Assim nascia uma parceria histórica.