É inegável que Clube dos Cinco é um dos filmes mais clássicos da história. Porém, como infelizmente acontece com outras obras icônicas, também pode causar certo desconforto, quando passa a ser visto pelo olhar de uma sociedade moderna, de empoderamento feminino e no auge do #MeToo.
Em ensaio para o NewYorker, Molly Ringwald - a grande musa do cineasta John Hughes e uma das protagonistas do filme de 1985 - críticou a presença do assédio sexual no relacionamento entre sua personagem, Claire e Bender (Judd Nelson). Isso é facilmente visto numa cena em que o 'bad-boy' fica embaixo da mesa da jovem para se enconder do professor. Ele usa tal oportunidade para espiar embaixo da saia da patricinha e, aparentmente, a toca de forma inapropriada - apesar do público não ver isso.
"Ao assistir Clube dos Cinco com minha filha, eu fiquei pensando sobre essa cena. Principalmente depois de várias mulheres revelarem suas acusações de assédio sexual contra o produtor Harvey Weinstein e com a força do movimento #MeToo. Se atitudes que subjugam as mulheres se tornaram sistemáticas em nossa sociedade, acredito que a arte que consumimos e adoramos tem alguma culpa na hora de reforçar esse tipo de situação. Bender assedia Claire sexualmente durante todo o filme. Quando não está sexualizando-a, passa a atacá-la verbalmente ou a chama de apelidos maldosos. Ele nunca se desculpa e, no fim, ainda fica com a garota!"
Molly também aproveita para revelar como pediu para Hughes cortar uma cena de The Breakfest Club (no original), pois achava inadequada para o filme. Na ocasião, o Sr. Vernom (Paul Gleason) ficava observando escondido uma professora de ginástica atraente nadando pelada na piscina da escola.
Uma situação semelhante aconteceu em Gatinhas e Gatões, quando sua personagem Samantha faz uma troca com Geek (Anthony Michael Hall), dando sua calcinha para ele. Depois, seu pai faria uma piada, percebendo como ela estava sem a roupa intíma. Durante as filmagens, a mãe da atriz forçou Hughes a mudar tal fala, pois seria assustador um pai reparar se a filha está usando calcinha ou não. No mesmo filme, Ringwald fica incomodada com a cena onde Caroline (Haviland Morris) acorda numa cama, com alguém que não conhece, após ter ficado bêbada numa festa. "Ela diz que sente que aproveitou, ao invés de saber disso com certeza, pois pensamentos são algo que você tem quando está consciente e ela não estava!"
Por fim, Molly Ringwald reafirma que ainda ama suas parcerias com Hughes. Não só pela oportunidade que recebeu, mas pela importância na história do cinema. "Ver que dois filmes dele tinham mulheres como protagonistas [Gatinhas e Gatões e A Garota de Rosa-Shocking, ambos estrelados por ela] e examinava seus sentimentos diantes de coisas simples que aconteciam em suas vidas, enquanto também se tornou sucesso de bilheteria, foi algo incrível, que ainda se repetiu até hoje. Os poucos blockbusters dos últimos anos estrelados por jovens mulheres eram, majoritariamente, ambientados em futuros distópicos ou envolviam vampiros e lobisomens."