Diretor de Brazil, o Filme (1985), o cineasta Terry Gilliam criticou o movimento #MeToo ao compará-lo com uma "máfia", afirmando que algumas mulheres foram vítimas de Harvey Weinstein, enquanto outras se aproveitaram da situação para alavancarem suas carreiras. Seus comentários foram condenados por outras celebridades nas redes sociais.
Apesar de chamar Weinstein de "monstro", além de dizer que ele foi exposto por ser "um idiota" e ter feito "muitos inimigos"", Gilliam afirmou em entrevista à agência de notícias AFP que o #MeToo é "simplista" e que o movimento "se tornou bobo, pois as pessoas estão sendo descritas de formas ridículas, como se não houvesse mais uma verdadeira humanidade. [...] É como quando a máfia assume o domínio, a multidão está por perto com tochas e pronta para queimar o castelo do Frankenstein".
"É um mundo de vítimas. Acho que algumas pessoas se deram bem ao se encontrar com Harvey e outras não. As que conseguiram sabiam o que estavam fazendo. Estes são adultos, estamos falando de adultos com muitas ambições. Uma noite com Harvey, esse é o preço que se paga", disse Gilliam sobre ter mais oportunidades em Hollywood.
O cineasta também falou sobre o caso em que Matt Damon, com quem trabalhou em Os Irmãos Grimm (2005), foi criticado ao dizer que existem níveis diferentes de assédio. "Sinto pena de alguém como Matt Damon, que é um ser humano decente. Ele disse que nem todos os homens são estupradores e acabou sendo execrado. Vamos lá, isso é loucura".
Sobre o abuso de poder na indústria do cinema, Gilliam se pronunciou de forma cética: "Sempre aconteceu. Não acho que Hollywood irá mudar. O poder sempre leva vantagem, sempre levou e sempre levará. [...] A única coisa que nós, [geração dos anos 1960], não fizemos corretamente foi que as mulheres recebessem os mesmos salários que os homens pelo mesmo emprego, esse é o grande fracasso do nosso tempo".
Em 2017, quando a atriz Lena Headey (Game of Thrones) revelou ter sido assediada por Weinstein, ela também mencionou que sofreu bullying constante de Gilliam durante as gravações do filme Os Irmãos Grimm.
Reações aos comentários de Terry Gilliam:
"Os comentários de Gilliam sobre Harvey Weinstein são idiotas e perigosos. Ele não estava nos quartos. Ele não sabe o quão agressivo, violento e assustador ele era. Quem ele é para dizer que era uma espécie de acordo oferecido? Ele deveria ter vergonha de si mesmo", criticou Judd Apatow, criador da série Love.
"Terry Gilliam talvez queira transformar esses seus sentimentos de medo e incertezas sobre o #MeToo e o #TimesUp e perceber 'Ah, é assim que a vida tem sido para ELAS até agora... Uau! Que droga'. Percebe? Isso é empatia", publicou a atriz Sarah Silverman (Detona Ralph).
"Esta entrevista revirou o meu estômago. Terry Gilliam é o último homem a censurar um movimento que está tentando proteger as mulheres de homens abusivos", escreveu a atriz Ellen Barkin, que foi dirigida pelo cineasta em Medo e Delírio (1998).