Entre todos os filmes lançados mundialmente em 2018 até agora, um deles está muito à frente dos concorrentes: Pantera Negra, da Disney, surpreende com excelentes US$1,1 bilhão arrecadados até agora.
No entanto, olhando o resto da lista - presente em sites especializados como o Box Office Mojo - percebemos que três filmes do top 5 são desconhecidos pelos brasileiros. Trata-se de filmes chineses: o segundo maior sucesso do ano é Detective Chinatown 2 (com US$495 milhões arrecadados), o terceiro colocado é Operation Red Sea (US$472 milhões) e o quinto colocado é Monster Hunt 2 (US$348 milhões), pouco atrás de Cinquenta Tons de Liberdade, em quarto lugar (US$360 milhões).
1. Pantera Negra: US$1,1 bilhão
2. Detective Chinatown: US$495 milhões
3. Operation Red Sea: US$472 milhões
4. Cinquenta Tons de Liberdade: US$360 milhões
5. Monster Hunt 2: US$348 milhões
Mas como estes filmes chineses conseguem uma bilheteria mundial tão expressiva? A grande surpresa diante destes números é a altíssima taxa de consumo interno: enquanto as produções americanas dividem a bilheteria entre os Estados Unidos e o resto do mundo, os três fenômenos chineses foram consumidos quase inteiramente em seus próprios países. Pantera Negra registrou 51,6% de bilheteria em seu próprio país, já Detective Chinatown 2 foi visto por 99,6% de chineses.
Isso demonstra uma realidade muito distante daquela encontrada nos mercados ocidentais: a China consegue levar tantos chineses para ver filmes locais que sequer precisa de mercados internacionais para obter lucros imensos. Os habitantes também procuram por gêneros variados, visto que as três produções no top 5 são uma comédia de ação, um filme de guerra e uma aventura fantástica.
Os resultados colocam pressão na indústria americana: se Hollywood precisa fazer intensa campanha de marketing no mundo inteiro para chegar aos US$360 milhões de Cinquenta Tons de Liberdade, os chineses conseguem obter quase US$500 milhões com Detective Chinatown 2 apenas em seu país de origem. Imagina o que poderiam fazer se exportassem essa produção para mais países? A hegemonia americana seria certamente abalada.
A maior fronteira, por enquanto, é cultural. As histórias e a linguagem que interessam aos chineses não encontram o mesmo interesse fora do país: Detective Chinatown 2 foi exportado para apenas mais três países (Austrália, Nova Zelândia e Reino Unido), todos com resultados ínfimos. Operation Red Sea chegou a apenas mais dois países (Austrália, Nova Zelândia), novamente com resultados muito fracos.
O histórico protecionismo chinês também explica o alto consumo interno: o governo local impede que um número ilimitado de filmes americanos cheguem ao país, e em muitos casos, os blockbusters hollywoodianos estreiam muito depois do lançamento no resto do mundo. Assim, o público se torna naturalmente às produções locais.
Além disso, o número expressivo de habitantes chineses permite a construção de um mercado autônomo: de acordo com o censo de 2016, existem 1,4 bilhão de chineses, contra 325 milhõs de americanos (e 208 milhões de brasileiros). A China acaba de passar os Estados Unidos em número de cinemas, de acordo com o CTV News: são 40.900 salas chinesas contra 40.700 salas norte-americanas.
Portanto, é normal que o Ocidente desconheça alguns dos maiores sucessos de bilheteria do mundo. No Brasil, os dois únicos filmes chineses programados para 2018 são coprodução minoritárias: o filme de ação O Estrangeiro, estrelado por Jackie Chan, e o ainda inédito drama de baixo orçamento Café, coproduzido com a Bélgica e a Itália. Em 2017, foram apenas quatro filmes chineses, e um único exclusivamente produzido no país: o pequeno drama A Vida Após a Vida.