Em 2018, o drama sul-africano Os Iniciados conquistou um feito importante ao ser pré-indicado ao Oscar de filme estrangeiro. A produção não chegou à lista dos cinco finalistas, mas conseguiu chamar atenção pelo retrato dos costumes da comunidade Xhosa e pelo debate sobre a homossexualidade em meios conservadores.
Apesar da boa resposta dos críticos e dos prêmios importantes (melhor filme de estreia no London Film Festival, seleção no festival de Berlim), Os Iniciados sofreu um revés quando estreou em seu próprio país. O governo sul-africano cedeu à pressão da comunidade Xhosa, contrária ao retrato LGBT, e conferiu uma classificação X18 ao drama - ou seja, a mesma dos filmes eróticos visando "proteger crianças da exposição de material perturbador e nocivo".
Após uma disputa legal, a produtora Cait Pansegrouw conquistou um pequeno sucesso: a classificação etária foi baixada para 18 anos, permitindo ao menos a exibição nas salas de cinema. "Esta não é mais uma batalha por Os Iniciados. É uma batalha pela liberdade e pelos direitos de todos os artistas e cineastas sul-africanos", explicou.
O diretor John Trengove demanda explicações: "A comunidade cinematográfica e artística sul-africana ainda merece ouvir uma explicação real sobre como o tribunal executou uma violação tão vergonhosa de nossos direitos legais e constitucionais".
Representando o governo, o príncipe Manebe Tabane tentou excluir a ideia de homofobia, mas se atrapalhou no discurso e apenas reforçou a noção de uma segregação baseada na sexualidade: "Homossexuais têm o direito constitucional de existirem no país. Eles estão em nossas áreas rurais, têm o direito de viver a vida e não queremos machucá-los. A questão é que ninguém deveria ter a permissão de tocar num tema sagrado da maneira que bem quer. Eles precisam aceitar o que é mandado".