Poucos filmes na história foram tão execrados e falharam tão miseravelmente nas bilheterias quanto Mulher-Gato. Ilustríssima eterna candidata às listas de piores longas da sétima arte - que, de tão ruins, chegam ser bons -, a adaptação dos quadrinhos estrelada por Halle Berry é um verdadeiro manual de como não fazer cinema de super-heróis. No entanto, a jornalista DC McAllister, editora do conservador The Federalist, decidiu tomar as dores de Mulher-Gato, criticando a ex-primeira dama Michelle Obama:
"Michelle Obama disse que já era hora de crianças negras terem um super-herói [Pantera Negra] que reflete como elas são. Por que não ouvimos isso quando o Mulher-Gato com Halle Berry foi lançado há anos?"
A acusação da jornalista foi encarada por muitos usuários do Twitter como uma forma de atenuar a importância cultural e política do mais recente filme do Universo Cinematográfico Marvel e de alfinetar a esposa de Barack Obama, que ocupa outro lado do espectro político em relação à jornalista. E o roteirista John Rogers, responsável por Mulher-Gato, foi um destes críticos - talvez o mais ferrenho. Em uma resposta inspirada e direta à declaração de McAllister, o escritor de Transformers explicou a diferença entre Mulher-Gato e Pantera Negra, sublinhando a relevância deste, de uma forma bastante clara:
"Como um dos roteiristas creditados em Mulher-Gato, acredito ter a autoridade para responder: porque este é um filme de m!#%@ que foi despejado pelo estúdio no fim de um ciclo de filmes, e tem zero relevância cultural, seja à frente ou atrás das câmeras. Essa é uma abordagem ruim. Envergonhe-se"
Rogers - que também declarou jamais ter visto Mulher-Gato até o final de uma só vez - se refere, acima de tudo, à questão da representatividade. Ao passo que Pantera Negra foi realizado em uma época onde os grandes estúdios buscam a diversidade racial e de gênero em suas produções, trazendo, neste caso, uma visão cultural e profundamente enraizada sobre um herói negro a partir da narrativa de um diretor e de um roteirista negros (Ryan Coogler e Joe Robert Cole), Mulher-Gato é a completa antítese desse objetivo. Dirigido por Pitof, um cineasta francês que não voltou a dirigir longas, o filme foi encarado por muitos críticos como um "projeto sem alma", "puro desperdício de dinheiro" e/ou apenas uma desculpa para colocar Berry em uma apertada roupa de couro.
E enquanto Mulher-Gato arrecadou US$ 82 milhões, Pantera Negra já ultrapassou a marca dos US$ 700 milhões obtidos ao redor do mundo em uma semana em meia de exibição. De acordo com projeções e a julgar pelo histórico recente das bilheterias, o rendimento do filme estrelado por Chadwick Boseman está próximo ao retorno financeiro trazido por Star Wars - O Despertar da Força no mesmo período de tempo. Se o primeiro longa de super-heróis majoritariamente negro continuar crescendo neste ritmo, é possível que Pantera Negra ultrapasse a marca de US$ 1,5 bilhão arrecadados - porque, a essa altura, entrar no seleto clube do bilhão já parece ser uma certeza.
Pantera Negra está em cartaz no Brasil.