Com o fim da mostra competitiva, os vencedores do 68º Festival Internacional de Cinema de Berlim serão anunciados na noite do dia 24 de fevereiro.
Antes dos prêmios, é hora de analisar em conjunto os filmes que concorrem ao Urso de Ouro. Eles são 19 títulos, num total de 24 selecionados. Para a surpresa geral, os representantes da casa foram os mais fortes este ano: In the Aisles, My Brother's Name is Robert and He Is an Idiot, 3 Days in Quiberon e Transit são produções muito diferentes, porém todas excelentes - especialmente as três primeiras.
Numa edição presidida por um alemão (o diretor Tom Tykwer), seria pertinente que esta qualidade fosse recompensada: In the Aisles seria um ótimo Urso de Ouro, 3 Days in Quiberon pode ser premiado pelo trabalho excepcional da atriz Marie Bäumer, e My Brother's Name não faria feio com o prêmio de contribuição artística, embora seja considerado radical demais por parte da imprensa.
As comédias foram o destaque da seleção: oito produções usaram o humor para discutir temas sérios como a precariedade no mundo do trabalho (In the Aisles), a deficiência física (Twarz, Don't Worry, He Won't Get Far on Foot), a desigualdade de gêneros (Damsel), a ditadura (Isle of Dogs, Khook), a propriedade privada (The Real Estate) e o patrimônio cultural (Museo).
De modo geral, a curadoria privilegiou produções de linguagem e narrativa arriscadas, que dividiram os críticos. Não foram raras as sessões com vaias e aplausos ao final. Talvez U - July 22, My Brother's Name, Touch Me Not e The Real Estate tenham sido as mais controversas, o que poderia tornar mais difícil a formação de um consenso dentro do júri oficial.
Em termos de representatividade, a Berlinale permanece atenta aos filmes dirigidos por mulheres nas mostras paralelas, apesar de ter selecionado apenas quatro títulos com diretoras entre os 24 escolhidos: Daughter of Mine, Twarz, Touch Me Not e 3 Days in Quiberon.
A representatividade geográfica foi ainda mais limitada. Apenas dois filmes latino-americanos disputam o Urso de Ouro (o mexicano Museo e o paraguaio Las Herederas), ao lado de duas únicas produções orientais (o iraniano Khook e o filipino Season of the Devil).
Nenhuma obra africana foi incluída, embora o continente seja tema de alguns dos filmes (Eldorado, 7 Dias em Entebbe). Seria importante um dos festivais internacionais mais politizados equilibrar esta escolha esmagadoramente europeia e norte-americana.
Mesmo assim, em termos de qualidade, a seleção 2018 demonstrou alta qualidade, com poucos títulos ruins - apenas The Real Estate, Touch Me Not e Black 47 eram muito fracos.
Resta saber qual recorte será privilegiado pelo júri. Serão os filmes mais radicais? Os mais consensuais? Aqueles com maior vocação comercial? Resposta em breve.