Aniquilação, o novo filme de Alex Garland (diretor de Ex_Machina: Instinto Artificial) foi recentemente acusado de embranquecer duas das personagens principais, especificamente as vividas por Natalie Portman e Jennifer Jason Leigh. Em declarações concedidas à imprensa, as protagonistas e o cineasta repercutiram o fato e explicaram suas posições no assunto.
Adaptado do livro homônimo de Jeff VanderMeer (o primeiro da Trilogia Comando Sul), o filme acompanha um grupo de expedicionárias que aceitam a missão de desbravarem uma região misteriosa, conhecida como Área X. Jennifer Jason Leigh vive a psicóloga, líder desta expedição (a 11ª), e Natalie Portman vive a bióloga, uma das expedicionárias e personagem principal da trama.
No segundo livro da trilogia, "Autoridade", as aparências físicas de ambas são descritas em breves passagens. A bióloga (que no livro não tem nome, mas será Lena na adaptação) é descendente asiática, enquanto a psicóloga descende de nativos americanos, portando traços indígenas.
Aniquilação: Natalie Portman explica o que são o Brilho e a Área X em novo vídeoPortman e Leigh conversaram com o Yahoo! Entertainment (via Vanity Fair) sobre o assunto, e ambas ficaram surpresas com a informação — completamente nova para elas, segundo relataram. Mesmo assim, Portman concordou que o embranquecimento de fato soa problemático:
"Precisamos de mais representatividade asiática, hispânica e de mulheres de cor no cinema", comentou. "Categorizações como 'branco' ou 'não-branco' são classificações imaginadas, mas têm consequências reais... e eu espero que este quadro comece a mudar, pois todos estão mais conscientes."
Leigh acrescentou que a crítica à abordagem do filme é válida, mas destacou o fato de simplesmente não saber da origem de sua personagem, e acreditar que Garland escalou atrizes que, em sua visão, se encaixavam no psicológico de cada uma delas.
Já Garland comentou o assunto em entrevista concedida ao Nerdist (quando o assunto foi abordado pela primeira vez), admitindo que não chegou a ler o segundo livro da trilogia e, por isso, não sabia da existência das descrições:
"Não seria da minha natureza embranquecer personagem nenhum. Isso simplesmente não seria do meu feitio. Eu li um livro e o adaptei porque o achei incrível. E eu pensei, 'Não sei exatamente como adaptar esse negócio, mas tenho uma ideia'. E então eu segui assim. É isso."
Portanto, estamos diante de um impasse: Garland afirma que não chegou a ler "Autoridade" e "Aceitação" antes de adaptar o roteiro de "Aniquilação". Isolado, este fato não é problemático. Steve Kloves não precisou ler até o sétimo livro de Harry Potter antes de adaptar o roteiro do primeiro, por exemplo. E não há nada de errado nisso.
Mas aqueles que já leram a trilogia completa conseguem reconhecer em trailers e clipes passagens que só aparecem nos livros 2 e 3, sobretudo na parte da trama que concerne ao status do Comando Sul e à origem da Área X. Faz sentido Garland não ter lido? Teria VanderMeer simplesmente o direcionado na condução da história? Ou, ainda outra questão: o autor não se manifestou a respeito da aparência física de suas personagens no momento da escalação?
Por outro lado, é importante destacar que a versão cinematográfica é uma adaptação completamente livre e muito (muito!) diferente do livro de VanderMeer em diversos pontos. O mais evidente é a participação maior dos personagens de Oscar Isaac (o marido da bióloga), Tessa Thompson e Gina Rodriguez — que serão respectivamente a topógrafa e a antropóloga do grupo. Portanto, não há como saber o quão fiel a história é à trilogia (ou até mesmo ao primeiro livro) antes de ter visto o filme.
Aniquilação será lançado nos cinemas nos EUA e no Canadá no dia 23 de fevereiro, e chega a territórios internacionais posteriormente, como produção original da Netflix.