Enquanto prepara um filme sobre uma das figuras mais controversas dos Estados Unidos no século 20, Quentin Tarantino tem atraído para si uma série de polêmicas relacionadas ao seu passado. O cineasta têm sido criticado nas redes sociais e por figuras de Hollywood por ter negligenciado a segurança da atriz Uma Thurman, que sofreu um acidente de carro durante as filmagens de Kill Bill, e por ter sido conivente com os abusos cometidos pelo produtor Harvey Weinstein, que produziu todos os filmes do realizador até então.
Tarantino voltou a ser alvo de críticas quando ressurgiu na internet um áudio que prova que o diretor defendeu o cineasta Roman Polanski, condenado por estuprar a adolescente Samantha Geimer em 1977, em uma entrevista para o radialista e humorista Howard Stern.
"Ele não estuprou uma menina de 13 anos, ele fez sexo com uma menor de idade. Isso não é estupro. Para mim, quando você usa a palavra estupro você está falando de algo violento que joga as pessoas para baixo — é um dos crimes mais violentos do mundo. Você não pode sair usando a palavra estupro. Sair jogando a palavra estupro é como sair jogando a palavra racista. Ela não se aplica a todos os usos que as pessoas fazem dela", disse o cineasta com uma argumentação bizarra, especialmente considerando as acusações de racismo que atingiram o diretor após o lançamento de Django Livre.
O diretor foi rebatido por Stern e por Robin Quivers, co-apresentadora do programa. Os dois falaram que Polanski foi acusado pelas autoridades de drogar a garota, que se arriscava como modelo quando realizou uma fatídica sessão de fotos com o cineasta. Tarantino manteve seu ponto de vista. "Não, esse não foi o caso de forma alguma. Ela queria isso e saia com o cara", disse. O realizador de Pulp Fiction e Bastardos Inglórios também se embrenhou na sugestão de que o ato de Polanski, que é um polonês nascido na França, era chocante para os padrões morais americanos, mas normal para os padrões morais europeus.
"Ele estava errado. Eu aposto que ele sabe disso", comentou Geimer, atualmente com 54 anos de idade, em entrevista para o New York Daily News. A vítima de Polanski disse que torce para que Tarantino tenha mudado de ideia. "Espero que ele não continue se fazendo de cuzão e falando dessa maneira", disse, sem medir palavras para expressar sua visão. "Eu não me importo com o que as pessoas pensam. Não faz diferença na minha vida. Eu sei o que aconteceu. Eu não preciso de outras pessoas opinando sobre como é ser estuprada aos 13 anos", completou a ex-modelo. Apesar de tudo, Geimer disse que ainda é fã dos filmes de Tarantino e que não guarda ressentimentos.
Geimer cita o filme Amor à Queima-Roupa, dirigido por Tony Scott e roteirizado por Tarantino e Roger Avary, como um de seus favoritos. "Eu gosto desse tipo de filme. Eu gosto dos filmes dele. Ser uma celebridade não faz de ninguém uma boa pessoa."
Polanski foi preso e condenado em 1977 por ter estuprado Geimer na casa do ator Jack Nicholson (que não estava na cidade quando o crime foi cometido), em Los Angeles. Um tribunal acusou o diretor de estupro com uso de drogas, perversão, sodomia, atos libidinosos com uma criança com menos de 14 anos, e por fornecer drogas controladas a uma menor de idade. Após um acordo com o advogado da vítima, Polanski se declarou culpado por abusar sexualmente de uma pessoa menor de 18 anos e foi absolvido das demais acusações. O realizador passou alguns dias preso para avaliação psiquiátrica. Ao saber que um juiz pretendia endurecer sua pena, o diretor de Chinatown, O Bebê de Rosemary e O Pianista fugiu para a Europa para não ser preso nos Estados Unidos. O cineasta, atualmente com 84 anos anos de idade, ainda é considerado foragido e o caso não foi dado como encerrado pelas autoridades americanas.