A Amazon Studios certamente teve mais sucesso em sua divisão de filmes do que em seu departamento de séries - que vem sendo reestruturado desde que seu CEO, Roy Price, foi demitido por causa de acusações de abuso sexual no fim de 2017. No entanto, a companhia ganhadora de 3 Oscar com Manchester à Beira-Mar e O Apartamento pode estar prestes a enfrentar seu período mais conturbado no âmbito da sétima arte por causa de um de seus cineastas mais aclamados: Woody Allen (via The Hollywood Reporter).
Por causa da ressurgência das acusações de abuso sexual feitas contra o diretor por sua própria filha, Dylan Farrow, a empresa de Jeff Bezos estaria considerando descartar A Rainy Day in New York por completo ou, na melhor das hipóteses, liberar o filme na plataforma de streaming do Amazon Prime sem alarde. De qualquer forma, o fato é que a distribuição cinematográfica do longa corre riscos - o problema, no entanto, é que o realizador nova-iorquino tem contrato assinado para mais três produções com o estúdio.
Além de A Rainy Day in New York, Allen também trabalhou com a Amazon em seus três últimos projetos: Café Society, Roda Gigante e a cancelada série Crisis in Six Scenes. A relação entre cineasta e produtora, entretanto, apresenta outros sinais de desgate afora a possibilidade do cancelamento da vindoura obra de Allen - cujos atores Timothée Chalamet e Rebecca Hall doaram os cachês recebidos por protagonizarem a dramédia para o Time's Up, fundo de apoio às vítimas de assédios sexuais. De acordo com fontes ligadas à Amazon, Allen estaria encontrando inúmeros problemas para escalar o elenco de seu longa seguinte - visto que a maioria dos atores têm prometido não atuar para o diretor -, algo que nunca aconteceu durante a filmografia do prolífico artista.
A Amazon ainda não se pronunciou sobre a problemática envolvendo Allen, mas já se especula que a produtora não terá outra opção a não ser quebrar o contrato, mesmo que isso signifique pagar uma multa astronômica ao realizador. Por mais que o caso Dylan Farrow tenha sido resolvido ainda na década de 1990, quando uma junta de médicos especializados em abusos infantis não encontrou nenhum indício de molestamento na então jovem, o atual estado das coisas em Hollywood - onde um poderoso movimento contra os abusos sexuais foi iniciado após a derrocada de Harvey Weinstein, um dos maiores predadores da indústria - torna a situação do diretor muito complicada.
Em meio ao presente panorama, portanto, é possível que Allen encontre ainda mais problemas nos próximos meses - um coletivo feminista espanhol, inclusive, demandou a remoção da estátua erguida em homenagem ao cineasta na cidade de Oviedo por causa das denúncias - apesar do apoio manifestado por colaboradores de longa data como Diane Keaton e Alec Baldwin. Contudo, segundo especialistas, se Allen tiver suas produções embargadas nos Estados Unidos, é possível que produtores europeus "resgatem" o realizador, uma vez que seu prestígio no Velho Continente ainda não apresenta sinais de enfraquecimento.