Dois dos filmes mais elogiados de 2017 foram dirigidos por mulheres: Mulher-Maravilha, de Patty Jenkins, maior bilheteria de um longa dirigido por uma cineasta na história; e o favorito ao Oscar, Lady Bird - A Hora de Voar, a aclamada estreia da atriz Greta Gerwig como realizadora. Além disso, o ano passado também trouxe os novos trabalhos de diretoras como Dee Rees (Mudbound), Kathryn Bigelow (Detroit em Rebelião) e Sofia Coppola (O Estranho que Nós Amamos), atual detentora do Prêmio de Melhor Direção do Festival de Cannes. No entanto, o bom rendimento feminino parece ser apenas uma vitória aparente: de acordo com um estudo anual que analisa a participação feminina atrás das câmeras, apenas 18% dos principais cargos das 250 maiores produções de 2017 foram exercidos por mulheres (via The Hollywood Reporter).
O que agrava ainda mais a situação - especialmente em tempos de empoderamento feminino e onde as mulheres estão em alta em Hollywood por terem sido as protagonistas (e eleitas personalidades do ano pela Time) das denúncias que derrubaram grandes predadores sexuais como Harvey Weinstein e James Toback - é o fato de que apesar de todos os incentivos, a indústria cinematográfica continua afastando as mulheres como fazia há 20 anos. O percentual encontrado pela análise numérica da Celluloid Celling do ano passado é praticamente idêntico ao índice encontrado pelo mesmo estudo em 1998, quando foi divulgado pela primeira vez. No ano de obras como O Resgate do Soldado Ryan, O Grande Lebowski e Mulan, as mulheres só representaram 17% do total de diretores, produtores, roteiristas, montadores, etc.
"A indústria cinematográfica falhou completamente em resolver o contínuo sub-emprego das mulheres atrás das câmeras. Tal negligência produziu uma cultura tóxica que fundamentou os recentes escândalos sexuais e que dificulta as carreiras de tantas mulheres", escreveu a Dr. Martha Lauzen, responsável pelo estudo e diretora de um grupo que pesquisa a participação das mulheres nas telonas e na TV da Universidade de San Diego, na Califórnia. E ainda que o número de diretoras tenham subido 5% de 2016 para 2017, a pesquisadora confirmou que esta também é uma melhora aparente, uma vez que o percentual de participação atual de mulheres cineastas (11%) é igual ao de 2000: "2016 foi um ano terrível para as mulheres na direção. Porque menos mulheres dirigiram filmes em 2016, não é surpreendente encontrar este percentual de crescimento em 2017 porque isso faz parte da margem de erro normal destes números".
Só quando o escopo do estudo é ampliado é que uma maior participação feminina pode ser encontrada: dentre as 500 maiores bilheterias de 2017, que incluem obras independentes e que foram realizadas fora do âmbito dos grandes estúdios de Hollywood, as mulheres ocuparam 21% - ou apenas 1/5 - dos cargos pesquisados. O que, de uma forma ou de outra, ainda continua sendo um número risível: metade da população dos Estados Unidos é constituída por mulheres. Na esfera dos blockbusters e dos longas das majors de Hollywood, o percentual de 21% supracitado cai 5 pontos, tornando a situação ainda mais desalentadora.
O que é interessante notar, por fim, é que quando mulheres ocupam cargos de direção, por exemplo, o número de profissionais do sexo feminino aumenta consideravelmente nas produções, principalmente na área dos roteiros.