Meryl Streep afirmou que Dustin Hoffman "passou dos limites" quando lhe deu um tapa na cara de verdade durante as filmagens de uma cena de discussão em Kramer vs. Kramer (1979). Há décadas já se sabia que o processo de produção do clássico filme sobre o divórcio de um casal havia sido conturbado. Entretanto, na Hollywood pós-Harvey Weinstein o tema ganhou nova atenção após Hoffman ser acusado de assédio sexual e má conduta por diversas mulheres.
Em entrevista para o jornal The New York Times para promover The Post - A Guerra Secreta, filme seis vezes indicado ao Globo de Ouro e aposta para o Oscar 2018, a atriz comentou o episódio. "Isso é complicado, porque quando você é um ator e está em uma cena você precisa se sentir livre", contou. "Eu tenho certeza de que eu já machuquei pessoas em cenas físicas, mas há uma boa dose de perdão nisso. Mas [Krammer Vs. Krammer] foi meu primeiro filme e na minha primeira tomada no meu primeiro filme ele simplesmente me deu um tapa. E você pode ver isso no filme."
A atriz afirmou que o ato do colega "passou dos limites" e que ela acredita que tais atitudes não vão ocorrer com tanta frequência no futuro porque "esse tipo de coisa está sendo corrigida neste momento". A atriz afirmou que o movimento de mulheres que têm se manifestado contra abusos de todo o tipo, em Hollywood e em outros espaços de trabalho, "não vão mais aceitar" comportamentos como os de Hoffman.
Em entrevista para a revista Time em 1979, Streep afirmou que, antes de atuar com Hoffman no filme que que venceu o Oscar de melhor filme e rendeu estatuetas individuais para ambos os atores, havia sido assediada sexualmente por ele. "Ele veio até mim e disse, 'Eu sou Dustin — burp — Hoffman' e colocou a mão dele no meu seio", contou Streep. "Mas que porco desagradável, eu pensei", disse a atriz na ocasião. Após a entrevista voltar à tona, um representante da atriz comunicou para a imprensa que Dustin já havia pedido desculpas para a colega pelo ocorrido.
Streep disse que sofreu assédio sexual em outras ocasiões, mas que quer deixar suas experiências pessoais no passado. "Naquela época, quando todos usavam cocaína, haviam muitos comportamentos indesculpáveis. Mas agora as pessoas estão mais velhas e mais sóbrias. Há de haver perdão. É isso que eu penso sobre o assunto", comentou, sem entrar em maiores detalhes. "Eu fui realmente maltratada, mas eu não quero arruinar a vida madura de ninguém. Eu simplesmente não quero. Eu acho que se o mundo tiver de seguir em frente, nós temos que encontrar uma maneira de caminhar juntos e saber que será melhor para os homens se eles nos respeitarem como iguais."
A atriz três vezes vencedora do Oscar ainda reiterou que não sabia da forma predatória como o infame produtor Harvey Weinstein agia com as mulheres. "Eu achava que ele tinha namoradas. Mas quando eu ouvia rumores sobre atrizes, eu achava que isso era uma maneira de rebaixar as atrizes e suas habilidades de conseguir trabalhos. Isso realmente me deixou alarmada. Eu não sabia de forma alguma que ele abusava de pessoas. Ele nunca me convidou para um quarto de hotel."
Streep foi criticada pela atriz e ativista Rose McGowan, que relata ter sido estuprada por Weinstein em 1997. "Atrizes, como Meryl Streep, que trabalharam contentes para o 'monstro porco' estão usando preto no Globo de Ouro como um protesto silencioso. SEU SILÊNCIO é o problema. Vocês vão aceitar prêmios falsos e não vão causar nenhuma diferença. Eu desprezo sua hipocrisia", disse McGowan. "Sinto muito que ela me veja como adversária, pois nós duas, junto com todas as mulheres em nosso trabalho, estamos lutando diante do mesmo inimigo", respondeu Streep, em carta aberta para a colega.