A gafe do Oscar
"And the Oscar goes to... La La Land." Quem trocou de canal ou foi dormir após essa revelação, apresentada por Warren Beatty e Faye Dunaway, simplesmente perdeu o momento mais bombástico da história (!) do Academy Awards. Jordan Horowitz, produtor do próprio La La Land - Cantando Estações, anunciou o erro ao Teatro Dolby lotado — e estupefato: "Não é brincadeira. Moonlight é o vencedor de melhor filme", afirmou o cineasta, para a emoção do diretor e roteirista Barry Jenkins. Tudo aconteceu por causa de Brian Cullinan (apontado como alguém deslumbrado pelo glamour de Hollywood) e Martha Ruiz, funcionários da companhia PricewaterhouseCoopers que não conferiram os envelopes antes de entregá-los a Beatty e Dunaway. Os auditores foram banidos do Oscar.
Guerras nas Estrelas
Quem poderia prever, após o sucesso esmagador de Star Wars - O Despertar da Força e plena sintonia com J.J. Abrams, que a Lucasfilm demitiria os diretores de seus próximos filmes no curto espaço de dois meses? Em ambas as ocasiões, cineastas de tremendo sucesso foram dispensados por diferenças criativas com o estúdio — o que denota um controle rigoroso sobre a franquia espacial. Phil Lord e Chris Miller, dupla sensação de Hollywood após Anjos da Lei e Uma Aventura LEGO, deixaram a direção de Solo: Uma História Star Wars. A cargo de Ron Howard (no centro da foto acima, e já na berlinda), o filme de origem de Han Solo seguiu com um grave problema de escalação, de ninguém menos que o protagonista Alden Ehrenreich, e seria visto pelo estúdio como um fracasso anunciado. A outra dispensa surpreendente foi Colin Trevorrow. O realizador do maior sucesso de 2015 (Jurassic World, com US$ 1,6 bilhão) foi demitido de Star Wars: Episódio IX. Após sondar o diretor e roteirista de Star Wars - Os Últimos Jedi, Rian Johnson (novo queridinho da saga), a Disney recorreu à escolha mais segura: J.J. Abrams.
Cannes versus Netflix
O ano começou ótimo em termos de aceitação para a Netflix. Revolucionária, e por isso rival dos distribuidores de conteúdo tradicionais, a plataforma online teve sua primeira produção original selecionada para a competição oficial da mostra de cinema mais badalada do mundo, o Festival de Cannes. No entanto, a obra em questão — Okja, do prestigiado sulcoreano Joon-Ho Bong — teve suas chances de premiação descartadas antes mesmo do evento. "Eu pessoalmente entendo que a Palma de Ouro não deve ser entregue para um filme que não foi visto nos cinemas", declarou o cineasta Pedro Almodóvar (Volver), presidente do júri da 70ª edição do festival francês. Então, a repercussão do caso veio como uma avalanche.
Primeiro, a organização do evento mudou as regras para 2018, obrigando a distribuição nos cinemas da França para que um filme se torne elegível. Depois, Okja foi vaiado fortemente em sua exibição. Os Meyerowitz, comprado posteriormente para exibição exclusiva na plataforma, também sofreu protestos, embora mais tímidos. Protagonista de Bright para a Netflix, Will Smith discordou frontalmente de Almodóvar, em um impasse de ideias que se estendeu por toda a riviera francesa no último mês de maio. Ao fim de tudo, Netflix saiu de Cannes 2017 sem nenhum prêmio. Mas a questão que fica é se a polêmica resultará em rejeição aos originais da empresa pelos próximos anos. Esperemos...
Harvey Wenstein e o assédio em Hollywood
O escândalo de 2017 no mundo do entretenimento foi o caso Harvey Weinstein. O produtor de Hollywood, visto como o mais influente da indústria desde seu controverso Oscar por Shakespeare Apaixonado (pobre Fernanda Montenegro), foi acusado de assédio por dezenas de mulheres ao longo do ano. Entre os relatos perturbadores de Lupita Nyong'o, Brit Marling e tantas outras, desdobramentos que envolvem um caso sério de espionagem e a iminente falência da The Weinstein Company, ficou algo de positivo: a onda de denúncias, de diversas pessoas a tantos outros artistas, como um indicativo do fim da era dos "predadores" na meca do cinema estadunidense. As vítimas ganharam voz, iniciando um círculo virtuoso de perspectiva irreversível. Que assim seja.
A derrocada de Kevin Spacey
As acusações de assédio atingiram muita gente grande em Hollywood. O ator Dustin Hoffman, o comediante Louis C.K., o cineasta Brett Ratner, o diretor James Toback (por mais de 300 mulheres!), o criador Matthew Weiner (Mad Men), o chefe da Amazon Roy Price etc etc etc. Mas nenhum desses casos mexeu tanto quanto o de Kevin Spacey. Vencedor de dois Oscars e tantos outros prêmios, dono de uma carreira irrepreensível e versátil, autor de tantos personagens incríveis, o artista viu sua carreira ruir depois que Anthony Rapp (Star Trek: Discovery) acusou-o de ter abusado dele quando tinha 14 anos. A decepção aumentou quando o ator aproveitou a ocasião da queixa para revelar sua homossexualidade (apontado por muitos como um desvio de foco, e, para todos e sem questionamento, um péssimo momento para isso). As consequências foram sua demissão de House of Cards, quebra de contrato pela Netflix e uma substituição relâmpago, sem precedentes, no filme Todo o Dinheiro do Mundo. Enquanto Christopher Plummer é indicado ao Globo de Ouro pelo papel, Kevin Spacey se esconde dos holofotes em uma clínica de reabilitação para viciados em sexo.