Se os fãs sempre vibram quando um novo filme dirigido por Woody Allen chega aos cinemas brasileiros, fato é que eles já notaram que há algo de diferente nos últimos trabalhos do diretor. Tanto em Café Society quanto em Roda Gigante, é possível notar um refinamento na fotografia inédito até então. Mérito de Vittorio Storaro, veterano diretor de fotografia italiano que tem no currículo três Oscar, ganhos por Apocalypse Now, Reds e O Último Imperador.
Em visita a São Paulo para apresentar uma exposição de fotografias, Storaro conversou com o AdoroCinema. No breve bate-papo, falou sobre as luzes em neon de Roda Gigante, a expectativa por mais uma indicação ao Oscar e como foi convencer Woody Allen a migrar para o formato digital. Confira!
Estrelado por Kate Winslet, James Belushi, Justin Timberlake e Juno Temple, Roda Gigante chega aos cinemas brasileiros em 28 de dezembro. Confira nossa crítica!
ADOROCINEMA: Seu trabalho com a fotografia de Roda Gigante é impressionante, especialmente em relação ao modo como lida com as luzes em neon do parque de diversões em contraste com a luminosidade. Como foi encontrar este balanço?
VITTORIO STORARO: Não trabalhei propriamente com luzes de neon, mas sim com um sistema de iluminação, controlado eletronicamente. A luz fluorescente do neon faz parte da cena, então utilizo a luz natural como suporte. Entretanto, para mim o mais importante de Roda Gigante foi poder mostrar uma outra faceta de Nova York, que possui uma iluminação bastante particular, de forma a ajudar a contar a história do filme, situada nos anos 1950.
AC: Este é o seu segundo trabalho com Woody Allen e, tanto em Café Society quanto em Roda Gigante, sua fotografia é bastante sofisticada, bem diferente dos filmes anteriores do diretor. Como foi convencê-lo a seguir neste caminho e, especialmente, a usar a fotografia digital em seus filmes?
VITTORIO: Foi fácil, virei para ele e disse: "Woody, sejamos honestos, na Itália os laboratórios em Technicolor já foram fechados. Nós teremos que correr atrás de algo que já ficou para trás antes que ele desapareça. Não podemos conter o progresso." Foi então que o convenci a migrar para o digital e deixar de lado a película, de forma até mesmo a melhorar.
AC: Estamos em meio à temporada de premiações e em vários artigos na imprensa você tem sido mencionado como um possível indicado na categoria de melhor fotografia. Você já ganhou três Oscar, como é lidar com a expectativa por mais uma indicação?
VITTORIO: Não faço isso na minha vida, não é a esta a proposta de um filme. Quando trabalho sempre penso no que posso trazer ao filme, à história, a partir do meu conhecimento. É nisto que coloco minha energia, em qualquer projeto. Não busco um reconhecimento, propriamente. O Oscar muitas vezes tem a ver com a distribuição de um filme, se ele é visto em grande escala, por mais que a Academia seja muito séria ao dar seu selo de aprovação. É sempre uma honra que um grupo de pessoas tenha captado seu trabalho, mas este não é meu estado de espírito.